Controlo
Acho que a principal razão para querer sair de casa, afastar-me da minha família e mudar de vida é o facto de não conseguir controlar a minha vida como queria estando neste ambiente. Não controlo o que como, os gastos desta casa, os transportes que preciso, as saídas que quero fazer e isso irrita-me, perturba-me, deixa-me com uma vontade imensa de ter, finalmente, um espaço de poucos metros quadrados, onde não entrem chocolates, pão e coisas que tais, onde não seja gasto dinheiro em comida que acaba por nunca ser comida, onde se poupe na água e na luz, onde se possa ir correr, caminhar ou fazer exercício sem perguntas e olhares inoportunos, que possa decorarar a meu gosto, viver sob os meus horários, onde faça a minha vida do jeito exato como quero fazer, onde controle a minha vida. Porque aqui não consigo controlar. Chateio-me com as coisas que vejo acontecer à minha frente uma vez e outra e outra, sempre em repetição. Desisti de querer mudar as coisas. Parte de crescer é apercebermo-nos de que poucas são as coisas que conseguimos mudar, quase nada na verdade. O mundo é como é e nós é que somos os novos seres dele. Cabe-nos adequarmo-nos a ele. E cabe-nos a nossa vida. Só a nossa. De mais ninguém. E é difícil entender isso! Mas é verdade. A minha vida é a única coisa que consigo controlar e mesmo isto não é cem por cento verdade. E aqui em casa, por mais que tente, não consigo esse controlo e depois fico triste, frustrada, comigo mesma. Quero ser colocada numa situação só minha, quero ter que desenrascar-me, quero viver sozinha. Quero tanto! Preciso de ter coisas a acontecer na minha vida constantemente. Aquela agitação, a ansiedade! Os dias ocupados, a correr. Gosto disso. De poucas coisas gosto mais que não uma semana cheia de planos. Abomino esta estagnação, esta inércia, este poço de nada da minha família. Não quero ficar neste ciclo vicioso. Já foram quase dezoito anos. Sinto que se não sair agora, durante este ano, neste ponto tão fundamental que é o fim de secundário, corro o risco de cá ficar mais outra vida, como o meu irmão (que exemplo tão familiar!), tem trinta anos e continua cá. Não quero ser como ele. Permanecer aqui é morrer. Adoro a minha mãe e o meu irmão. São as pessoas mais importante. São a minha família. Mas ninguém pode viver a minha vida por mim. E, mais forte que isso, é o facto de eu querer muito vivê-la.