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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

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09 de Agosto, 2020

Alvor 2020 #1 #2 #3 #4

Inês

Este ano tive direito a 22 dias de férias. Olha que bom. Por motivos infelizes e tristes, não foi possível combinar nada de férias com as minhas queridas amigas e portanto durante algum tempo fiquei à deriva. Não gosto de não ter plano e, pior do que isso, não gosto quando me furam os planos. Na onda do último post, eu queria fazer algo diferente este verão (e na vida) e fui pesquisar nas internets. Encontrei uma guesthouse em Alvor que procurava voluntários na ajuda das tarefas a troco de alojamento e alguma alimentação. Pensei "perfeito", mandei email e tchann resposta positiva. Foi a primeira tentativa e logo uma resposta positiva. Melhor seria difícil. Fiquei contente e, portanto, aqui estou eu!

Saí de casa às 6h30. Sete horas depois e após 3 comboios e 1 autocarro, cheguei. Fui recebida por uma senhora super energética, despachada, bonita e bem disposta. A Cristina. Pôs-me logo à vontade. Incrível como pensamos em tudo e não pensamos em nada. Não fiz plano nenhum além de comprar o bilhete de comboio e assim definir o dia de partida. Apesar disso, fiquei surpreendida quando a Cristina me abre a porta do quarto e vejo que é uma camarata mesmo à entrada da guesthouse. Isto surpreendeu-me por duas razões: primeiro, sabe-se lá porquê, estava à espera de um quarto individual; segundo, porque esta camarata (que basicamente é um quarto com uma série de camas vazias) fica mesmo à entrada do edifício, ou seja muito exposta, o que me deixou ligeiramente desconfortável apesar de obviamente ter porta com fechadura. A seguir diz-me que a guesthouse tem dez quartos e que neste momento... estão todos vazios - Já se adivinhava um ano difícil mas o verão de 2020 está a ser muito complicado para os algarvios. O turismo não se compara a anos anteriores (isto dito pelos locais porque eu nunca tive o hábito de vir para o Algarve) - isto praticamente me chocou. Não esperaria de todo vir fazer voluntariado para uma guesthouse vazia. E isto é "interessante" de diversos pontos de vista. Primeiro, para quê que sou necessária se há tão pouco trabalho? Por um lado, demonstra uma atitude muito fixe por parte da Cristina em ter mantido a oportunidade. Por outro lado, não percebo. Segundo, dormir aqui sozinha e, no quarto em específico que é, assusta-me. Estou aqui, vai para a quarta noite, e não deixo de sentir aquele receiozinho. Este edifício é todo muito grande para mim sozinha, sobretudo, no primeiro quarto logo à entrada, entrada essa que não passa de uma porta de vidro (até lojas têm gradeamento, mas sendo guesthouse percebo que a entrada tenha que ser assim para permitir a entrada e saída livre dos hóspedes a qualquer hora que entendam). Ora, esta está a ser a minha maior dificuldade, confesso. Adorava que houvessem mais hóspedes para me sentir mais segura e tranquila durante a noite. Depois penso que isto não é nada, é apenas um medo irracional, que adoro acampar e acampar é mais inseguro que isto, que estou numa zona super tranquila, que a guesthouse tem vários anos já aqui sem incidentes, que nada iria acontecer sobretudo logo quando eu estou aqui. E penso também que isto sou eu fora da minha zona de conforto, que estou num ambiente que não controlo e que fui eu própria que me pus nesta situação. Eu queria e quero viver uma experiência diferente, uma bolha de realidade distinta da minha habitual. E sei que todas as experiências semelhantes para as quais em me atirei também me surpreenderam pela negativa no início e que "tremi" com o inesperado das situações. Também sei que, se o padrão se repetir, vou-me apaixonar por esta bolha e que me vai custar voltar para casa.

Apesar disto, o primeiro dia desta aventura teve direito ainda a um salto à bela praia de Alvor. E neste momento a música que soava na minha cabeça era "this is what you came for".

Em jeito de relato, no segundo dia (oficialmente o primeiro de trabalho) começaram as tarefas de limpeza a um outro apartamento que a Cristina tem e esteve em obras. Devo dizer que apesar de serem só 5 horas por dia, são 5 horas de trabalho bem puxadas e suadas. Limpezas de obras não é brincadeira. Mas, again, fui eu que me meti nisto. Vale a pena. Felizmente, neste dia chegaram os primeiros e únicos hóspedes: um casal de Sevilla. Adormeci mais descansada.

No terceiro dia, tive a preparação de um pequeno-almoço e mais limpezas. Curiosamente e por coincidência, o meu irmão veio passar uns dias para bastante perto do local onde eu estou. Assim sendo, aproveitamos para passar a tarde juntos o que foi muito fixe porque nos deu uma pontinha do que seria voltar a passar férias em conjunto. Algo que nunca tivemos muito e o pouco que tivemos perdeu-se...

Chegado o quarto dia, mais um pequeno-almoço e algumas limpezas. Não muitas felizmente! Ontem a Cristina convidou-me para ir almoçar a casa dela e, apesar de hoje de manhã estar um pouco indisposta e de já ter pensado numa série de justificações para lhe dar e me escapar, lá fui e gostei muito! Bem, ela tem um casarão do caraças, uma piscina do caraças e uma família muito fixe. Tenho que admitir que não consigo evitar deixar de pensar porquê que há famílias com tanto e outras com tão pouco. Mas são apenas pensamentos de 30 segundos. A pessoa com quem falei mais foi a Zoe, daquelas pessoas com quem eu poderia falar uma eternidade e que parece que foram colocadas no nosso caminho. A Zoe é a namorada do filho da Cristina. É escosesa. Aos 24 anos, teve uma boa oferta de trabalho no seu país, aceitou mas pelos vistos tinha uma margem de tempo e decidiu viajar e "aproveitar a vida". Viajou pelo sul da europa, ia trabalhando e ficando em hostels. Chegou a Alvor, conheceu-o, apaixonaram-se e esqueceu-se a Escócia. A vida dela passou a ser aqui. Entretanto engravidou assim do nada e aparentemente seguem felizes. Histórias incríveis. Enquanto falava com ela e pensava uma vez mais na diferença entre a mentalidade portuguesa e do norte da europa, pensei "mas secalhar os viajantes que tu conheces são os que podem, deve haver uma fração de alemães, britânicos, dinamarqueses, etc que não viajam e começam a trabalhar desde cedo, certo?". Não sei se é certo, terei que averiguar. Parece-me plausível.

Ficará para amanhã (ou algo do género) uma reflexão acerca do que penso acerca de fazer esta aventura sozinha. 

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