Alvor 2020 #16 #17 #18
18º dia desta aventura.
Antes disso, na sexta (dia #16) acordamos perto da praia do Malhão e logo de manhã o R. foi apanhar percebes. Eu fiquei a fazer as minhas cenas na toalha. Depois de comer qualquer coisa, o R. proporcionou-me mais uma cena fantástica: experimentei surfar. Isso mesmo. Quem diria. Ninguém. Nas férias sou mesmo uma pessoa diferente. Vesti o meu fato de banho (só lhe dei uso duas vezes, yey! not...) e lá fomos. O R. explicou-me em terra três passos para eu me conseguir pôr de pé na prancha. Tentei diversas vezes e foi uma diversão incrível. Consegui por uma vez colocar-me de pé talvez uns 3 segundos. E isso deixou-me super contente. Depois tentei umas vezes mais mas houve uma em específico em que dei umas três cambalhotas dentro de água que quase literalmente já nem sabia de que terra era. Pus-me de pé, olhei a controlar se vinha mais alguma onda, não vinha, saí e disse ao R. que por mim terminava. Ele viu a queda e nem insistiu. Fiquei com os joelhos e o rabo todos assados depois de ter sido arrastada pela areia alguns metros. Algumas mazelas... Mas valeu a pena. Curti bué.
Depois disso, partimos rumo à zona da ilha do Pessegueiro. O R. mostrou-me mais umas praias meias desertas, perto da praia da ilha do Pessegueiro. Aqui conhecemos o Francisco que tem 21 anos e estuda artes em Lisboa. Foi uma boa onda o Francisco. Estava a caminhar sozinho e a desenhar as paisagens. Não deu para ir ao mar porque estava muito bravo. Disseram-nos que era uma tempestade. Honestamente não sabíamos porque temos estado off das notícias.
Estacionámos em Porto Covo, jantamos e fomos dar uma voltinha à vila. Uma vila simpática.
Por esta altura, eu estava a evitar maçãs porque, apesar de gostar, estava pouco confortável com a discrepância de experiências. E, na verdade, só me vinha à cabeça a vontade de estar com o DC e de lhe "mostrar" tudo o que de novo podíamos fazer. Mas calma eu também queria muito estar com ele, ou então queria muito maçãs, porque notava-se.
No dia seguinte (sábado #17), acordamos em Porto Covo e fomos fazer praia novamente num pequeno paraíso que não é para todos. A entrada, com maré baixa, é pela Praia do Banho e passadas algumas grutas chegamos a uma pequena praia que, com maré cheia, a saída só se faz por uma escada de madeira colocada pelos pescadores. Incrível. Há coisas tão bonitas. Fizemos uma boa praia e entretanto saímos rumo a norte. A viagem mais longa. Passamos por Sines e terminamos em Setúbal. Aqui o R. mostrou-me as margens - cheias de gente, o que me surpreendeu porque já não estava habituada - e sugeriu-me dar uma voltinha de bicicleta pela margem. Adorei. Voltar a pegar numa bike e sentir o vento na cara. Das coisas que valem a pena.
Pegamos na autocaravana e fugimos da confusão. Percorremos a serra da Arrábida, passamos ao lado do Portinho da Arrábida, e terminamos estacionados num spot com vista para Sesimbra. Finalmente o R. deu-me uma passa da sua habitual ganza noturna. Não me fez nada.
Hoje, chegado o último dia (domingo #18), fomos logo de manhã à praia da Ribeira do Cavalo onde dei os meus dois últimos mergulhos. A água, das mais frias que apanhei, nem me pareceu assim. Almoçamos omeletes que eu tinha feito logo de manhã e sandes feitas pelo R.. Passado umas horas, saímos da praia pelo trilho desenhado e o regresso custou bastante mais porque foi na hora de maior calor. Além disso, o meu protetor solar terminou (foram dois este verão, incrível!) e não comprei substituto pelo que não tinha creme. Senti a pele toda lixada estes últimos dois dias. Mas enfim... voltamos para a autocaravana, e saímos rumo ao coração da margem sul: Almada. A terra do R. - Uma das coisas que gostei nele foi o gosto que ele teve em me mostrar os seus recantos preferidos. Sinto que teve um gosto verdadeiro em dar-me a conhecer tudo o que pôde, e mais tempo houvesse, mais gosto teria em mostrar-me muito mais. Gostei muito dessa parte. - Em Almada fomos visitar o Cristo Rei, lugar desconhecido para mim, e foi neste parque de estacionamento que nos despedimos na nossa forma. Tomei um banho e em 30min ele deixou-me em Sete Rios para, agora sola, apanhar o autocarro de regresso a casa.
Esta viagem de regresso, onde escrevo este texto, está a ser um pouco nostálgica para mim. Em 5 dias percorri tantos kms, visitei tantos lugares. Há 6 dias estava tão longe numa bolha totalmente diferente. Daqui a menos de 10 horas vou ter que estar na minha secretária a olhar para o meu PC e pegar em todo o trabalho que ficou pendente de 18 dias.
Acho que ainda me faltam dias para digerir tudo o que aconteceu e aí ter uma retrospectiva completa. Para já, digo que adorei a experiência. Tive o que procurava. Foi um ano e meio intenso de problemas familiares e stresses no trabalho. Uma vida que se reduziu ao trabalho, casa e uma família com quem me dei mais mal do que bem. Quis fugir e admito isso. Quis ir para longe, conhecer outras coisas, lembrar-me a mim mesma de que não sou só casa-trabalho-família. Não sou assim tão pequena. Tenho me reduzido, ficado acomodada com as merdas da vida. Sei que me vou arrepender. Precisava de reativar em mim a coragem, a vontade de mudar, o fascínio pelo novo, pelo que não é normal, pelo que é muito mais do que o habitual, pelo querer mais. De alguma forma, consegui isso.