Excertos do Trabalho #4
Por causa da covid, o meu posto de trabalho já foi alterado duas vezes. Neste momento calhou-me a sorte de partilhar uma sala com apenas uma colega: a L. que é muito fixe, tem uma personalidade particular e faz-me rir. Além disso, a L. é chata para caraças! É incrível como é que ela de meia em meia hora está a comentar algo, a perguntar-me alguma coisa ou simplesmente a tentar fazer conversa. I mean, é sempre bom ir conversando ao longo do dia mas de meia em meia hora? Às vezes é menos do que isso.
E isto leva-me as outras dimensões da questão. Primeiramente, trata-se de uma distração simples, fútil e inteiramente desnecessária daquilo que é o nosso trabalho que exige concentração e de isso, no fundo, significar menor produtividade da minha parte, mais tempo perdido e potencialmente surgimento de erros. Chega ao absurdo de ela me chamar, eu olho e ela fica alguns segundos em silêncio sem me dizer absolutamente nada. Quão não importante é que tu achas que eu sou para desvalorizar assim o meu tempo? E aqui estamos a falar de coisas random que nada importam.
Levando isto para a esfera do trabalho propriamente dito, há algo que eu tento manter sempre presente que é ser autónoma e procurar pela informação que necessito antes de ir chatear os outros. Antes de perguntar seja o que for a um colega, eu tento ao máximo certificar-me que sozinha não consigo achar aquela informação. É muito fácil ter uma dúvida e ceder ao instinto de perguntar ao outro. É o caminho mais fácil. Mas sempre que fazemos isso estamos a distrair o outro do seu trabalho, mesmo que até lhe importe ou seja pertinente, etc. Há um trabalho em curso do outro lado que estamos a interromper. Claro que quando há dúvidas sobre o procedimento correto, mais vale perguntar do que fazer asneira. E claro que é mais preferível fazer questões por email do que pelo telefone. É preciso sensibilidade e senso comum para caso-a-caso analisar os problemas que merecem os trabalhos interrompidos. E isso é algo que se vai trabalhando e faz de nós melhores colegas.
A L., apesar dos seus 37 anos, claramente tem pouca ou quase nenhuma sensibilidade. Infelizmente para mim. Por outro lado, eu tenho que trabalhar a forma como lhe deveria dizer que ela é a chata e inoportuna demasiadas vezes. Por dentro já lhe disse muitas vezes. Falta aprender a exteriorizar.