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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

28 de Outubro, 2020

Excertos do Trabalho #4

Inês

Por causa da covid, o meu posto de trabalho já foi alterado duas vezes. Neste momento calhou-me a sorte de partilhar uma sala com apenas uma colega: a L. que é muito fixe, tem uma personalidade particular e faz-me rir. Além disso, a L. é chata para caraças! É incrível como é que ela de meia em meia hora está a comentar algo, a perguntar-me alguma coisa ou simplesmente a tentar fazer conversa. I mean, é sempre bom ir conversando ao longo do dia mas de meia em meia hora? Às vezes é menos do que isso.

E isto leva-me as outras dimensões da questão. Primeiramente, trata-se de uma distração simples, fútil e inteiramente desnecessária daquilo que é o nosso trabalho que exige concentração e de isso, no fundo, significar menor produtividade da minha parte, mais tempo perdido e potencialmente surgimento de erros. Chega ao absurdo de ela me chamar, eu olho e ela fica alguns segundos em silêncio sem me dizer absolutamente nada. Quão não importante é que tu achas que eu sou para desvalorizar assim o meu tempo? E aqui estamos a falar de coisas random que nada importam.

Levando isto para a esfera do trabalho propriamente dito, há algo que eu tento manter sempre presente que é ser autónoma e procurar pela informação que necessito antes de ir chatear os outros. Antes de perguntar seja o que for a um colega, eu tento ao máximo certificar-me que sozinha não consigo achar aquela informação. É muito fácil ter uma dúvida e ceder ao instinto de perguntar ao outro. É o caminho mais fácil. Mas sempre que fazemos isso estamos a distrair o outro do seu trabalho, mesmo que até lhe importe ou seja pertinente, etc. Há um trabalho em curso do outro lado que estamos a interromper. Claro que quando há dúvidas sobre o procedimento correto, mais vale perguntar do que fazer asneira. E claro que é mais preferível fazer questões por email do que pelo telefone. É preciso sensibilidade e senso comum para caso-a-caso analisar os problemas que merecem os trabalhos interrompidos. E isso é algo que se vai trabalhando e faz de nós melhores colegas.

A L., apesar dos seus 37 anos, claramente tem pouca ou quase nenhuma sensibilidade. Infelizmente para mim. Por outro lado, eu tenho que trabalhar a forma como lhe deveria dizer que ela é a chata e inoportuna demasiadas vezes. Por dentro já lhe disse muitas vezes. Falta aprender a exteriorizar.

23 de Outubro, 2020

Pensamentos - Week 43

Inês

- "O que eu tenho com uma nova pessoa não altera o que eu sinto por ti"

- Se eu sou naturalmente insatisfeita nas mais diversas dimensões da minha vida e se, por um instante na minha vida, não me sinto de tal forma contando apenas contigo, e se estou a conseguir ter esse discernimento, então para quê responder ao impulso de conhecer alguém novo quando esse alguém novo se atravessa na minha frente? Para quê criar-me a mim própria um problema? E se até gostasse dele? Se não gostasse, não teria qualquer problema, aliás era o melhor cenário pois confirmaria que contigo é onde sou mais feliz. Dissemos que éramos o plano B um do outro e passei a maior parte do ano com o pensamento "tenho vontade de conhecer outras pessoas" e agora esse pensamento passou para o seu contrário e o plano B parece-me apenas suficiente e bom mesmo. E não estou habituada a essa sensação de estar apenas satisfeita com algo e estou a gostar porque, de certo modo, é estável, tranquilo e relaxante. Estou a deitar por terra a oportunidade de conhecer alguém super interessante? Sim, estou. Mas já me conheço. Iria entrar numa espiral de problemas auto-infligidos. Optar por não o fazer é resistir ao impulso e ganhar controlo sobre os meus atos e, overall, sobre a minha vida. Talvez este tipo de escolhas seja o que nos define. Talvez na próxima semana pense de forma diferente. Talvez me arrependa. Ou talvez não. Viver o momento presente, apreciá-lo. E, neste momento, a melhor forma que conheço é simples e é só contigo ao meu lado.

 

PS: os dois pensamentos são um tanto ou quanto contraditórios.

20 de Outubro, 2020

Cansada

Inês

Estou tão cansada da vida que levo que penso diversas vezes no quão bom seria se fosse despedida. Não é algo que se costume desejar, eu sei. Se tal acontecesse, retiraria de mim a responsabilidade de mudar. Facilitaria a vida de certa forma. Obrigaria-me a fazer o que quisesse, sem o peso de estar a abdicar da segurança que tenho atualmente.

O ser humano é estranho. E sobretudo eu.

Sei que este blog roda quase sempre à volta do mesmo. É o que temos.

15 de Outubro, 2020

Prometia tanto

Inês

Cruzei-me com um grupo no meu facebook cuja última atividade foi há quase quatro anos. Terceiro ano de universidade, grupo da AIESEC, memórias de um dos eventos que mais me orgulho em deu e um dos dias que recordo com maior felicidade, memórias também das semanas que passei em Itália. A minha cara naquelas fotos era radiante. Prometia tudo. Eu pensava que a vida me reservava coisas extraordinárias. Eu estava a fazer coisas extraordinárias. Fui sozinha daqui para Itália passar dois meses, viver com duas famílias de acolhimento. Cheguei lá, embati de frente com uma família hippie, vegan e hindu. Chorei nos primeiros dias. Não era nada daquilo que eu estava à espera. Passou pouco tempo até me apaixonar por eles. Chorei muito mais quando tive que regressar. Passado quatro anos estou sentada a uma secretária a fazer o correio postal. Prometia tanto. Tenho tantos sonhos. Tantos planos. Tenho 24 anos. Parece-me tanto e tão pouco. Vendo estes posts de há quatro anos, olho pela janela, os carros todos estacionados, penso na desilusão em que me tornei. Por outro lado, fiz algumas coisas das quais me orgulho e que tenho que me esforçar a relembrá-las. Quero demais. E isso é, sobretudo, desgatante.

12 de Outubro, 2020

Diz ela que é stress #2

Inês

Na verdade ela disse "isso é um descontrolo hormonal" mas tendo em conta o penultimo post, vinha a calhar.

O meu último período veio atrasado uma semana. Foi o período de setembro, pós férias e pós aquela pequena aventura em Alvor de agosto. Algo normal tendo em conta que em férias o período atrasar é algo mais provável de acontecer uma vez que se mexe com rotinas, hábitos, etc. E as minhas "férias" implicaram mudanças profundas de rotinas portanto tudo normal. Porém, não vou mentir... Tremi. Uma pessoa não toma a pílula (aquilo são só químicos e mexia muito comigo) e, apesar de tomar as devidas precauções, a ausência de período faz soar o alarme. Anyway, veio e isso é que interessa.

Vou à depilação (muit girly este post) e a esteticista repara naquilo que eu já ando a reparar há algum tempo. Diz ela "Tens muitos pêlos encravados". O que me surpreendeu (sim, ignorante deste lado) é ela dizer que tal se deveria a um descontrolo hormonal qualquer. Não tinha ideia de que as duas situações se relacionavam.

Assim sendo, fico surpreendida comigo mesma por ter tantas reações com origem num suposto stress que à primeira vista não identificaria em mim. Eu sei que ando com algumas preocupações. Ando à procura de emprego e isso é tipo uma task ongoing sempre aberta no meu subconsciente. Sonho com isso e tudo. Ok, é uma preocupação. Sinto-me num ponto da minha vida em que quero mudar tudom, tudo, tudo. Sinto-me como se tivesse numa alavanca a apontar para todo o lado mas presa a essa mesma alavanca. Não me faltam planos, ideias, vontades. Mas falta o resto: a segurança e estabilidade para os concretizar. Quero sair de casa, pegar na mochila e bazar, mas ao mesmo tempo quero encontrar outro emprego e talvez que isso sirva de alavanca para sair de casa e ir viver para outro sítio. Também quero ficar por perto por enquanto pois o meu irmão acabou de comprar casa e quero estar presente no processo de mudança. Estou numa autêntica cruzilhada de incerteza, frustração, sonhos, ambição, família. E apesar de parecer a miúda sorridente e feliz que todos veem no trabalho e que sou, ando com um fardo pesado que nem eu me apercebo na maior parte das vezes.

06 de Outubro, 2020

...

Inês

- não vou sequer tentar o Porto porque quero ficar perto de casa.

- quero sair de casa, quero viver no Porto, vou mandar para o Porto, que ridícula Inês pensares que o Porto é longe.

- quero sair de casa.

- não posso sair de casa.

- quero despedir-me e pegar numa mochila e bazar.

- vou ficar em casa mais uns meses até o meu irmão sair completamente e aí dar o salto, cada um vai à sua vida.

- quero estar presente na transição do meu irmão.

- quero estar presente para a minha irmã.

- quero ir-me embora.

- esperar quanto mais? 3 meses? até ao próximo ano?

- tenho que mudar de emprego. preciso de ganhar mais.

- ok, vou mudar de emprego. já mandei mais de 40 CVs num mês e não recebi qualquer feedback. ok isto é mau.

- o meu saxo de 96 está todo fdd. já só faz curtas distâncias. mais mês menos mês fico sem carro.

- ok, então se, dentro de alguns meses, precisas de uma casa e de um carro... uma AUTOCARAVANA!

- ok, não páras de pensar nisso desde agosto. se a ideia não te sai da cabeça em tanto tempo, então não é um impulso, é algo maior que isso. e efetivamente vais precisar de carro e casa.

- estás louca, é o que toda a gente diria. não podes dizer a ninguém.

- ok, começar a ver vídeos em loop sobre o tema.

- esquece, não te vais pôr em transformações porque não és boa nisso e ias desistir, não ia ficar bem. não vais comprar fora de PT porque daria muito trabalho a legalizar e não estás para isso. não vais pedir nada ao teu pai porque ele já não está para isso. mais vale um pedacinho a mais e compras cá em PT, legal e pronto a usar.

- até ao final do ano consegues 10k e gastas isso nesta loucura. afinal de que vale o dinheiro parado no banco? o que tens na verdade? o que é teu?

Fds. Às vezes só queria o botão off do cérebro.

01 de Outubro, 2020

Diz ela que é stress

Inês

De vez em quando tenho dores nas costas e ombros. Nada de surpreendente pois trabalho numa secretária. Levanto-me diversas vezes por dia e caminho. Vou ao armazém tratar disto ou daquilo, às vezes mesmo como desculpa para esticar o corpo. A semana passada comecei a ter dores muito mais intensas do género que não me fazem esquecer ao longo de todo o dia que tenho costas e ombros e que estão constantemente em tensão. Comecei a fazer alongamentos para ver se "ia ao sítio". Não foi. Fui fazer uma massagem. Nunca tinha feito uma e pouco percebo do assunto. Estou a deitar-me na marquesa e a massagista pergunta "Tens contraturas?" e eu atiro "Não". Na verdade, sei lá eu o que isso é, acho que não, sou saudável e tal... Ela prossegue e vai-me mostrando a quantidade de contraturas que eu tenho na cabeça, pescoço e costas. E é incrível porque consegui mesmo perceber a diferença entre as zonas do corpo. Inchaços musculares salientes que fazem doer. Terminou dizendo que eu tinha umas costas tão pequenas e, infelizmente, tão duras. Diz ela que é stress acumulado, provavelmente, do trabalho ou outras preocupações.

Honestamente, eu considero-me uma pessoa descontraída. Tenho aprendido a ser cada vez mais assim mas efetivamente, se me comparar com colegas minhas que, por exemplo, stressavam imenso com os exames da faculdade, eu acho que sou muito descontraída. Normalmente fico mais tensa com certas situações sociais. Fazendo uma retrospetiva, relembro que quando comecei a trabalhar estava constantemente em tensão porque me sentia desconfortável junto dos colegas, com o trabalho, etc. Corava quase todos os dias. Mas isso passou. Quase nem me lembro que isso foi uma temporada. Agora sinto-me completamente confortável, conheço todos os cantos da casa e já consigo distanciar-me o suficiente do trabalho para perceber que nada disto é meu, que não consigo controlar tudo e que não vale a pena stressar com o trabalho em si. Se for possível, ótimo. Se não for, azar. Não trabalho num hospital, não há urgências. Só clientes que acham que podem espremer e exigir tudo e mais alguma coisa. Portanto, não acho que atualmente seja uma pessoa stressada no trabalho.

Em casa, mudei o meu chip há uns meses e passei a ignorar simplesmente tudo o que me perturbava o que inclui reduzir as interações com a minha mãe ao mínimo indispensável como "boa tarde" e "boa noite". Não jantamos juntas há mais de um mês. Desliguei-me dela, deixei de me preocupar e deixei de chorar, por exemplo. Desisti, é um facto. Ontem, troquei umas frases com ela e senti que já ia descarrilar na conversa. Respirei fundo, pensei mais devagar e retomei o autocontrolo no sentido de não entrar por certos caminhos que sei não levariam a lado nenhum. A conversa terminou e num ápice, sem sequer haver grande motivo para isso, vieram-me as lágrimas aos olhos. E aí apercebi-me de que se me aproximo dela, nem que seja por uns milímetros, deixo-me afetar completamente por aquilo novamente. E que efetivamente estava afastada e estava relativamente bem. É uma dimensão da minha vida que me stressa de forma desmedida, que me preocupa, que me afeta como nenhuma outra. O meu afastamento é como mantivesse o problema debaixo de água, pouco visível. Se por um instante, eu acho que posso pegar só numa pontinha dele, ou tentar sequer, ele vem logo todo à tona sem pedir permissão e relembra-me porquê que, em primeira instância, eu nunca devia ter tocado nele.

Stress? Talvez. Ao fim ao cabo, o que sei eu? Passam dias e continuo a sentir de forma demasiado intensa as minhas costas e ombros. Agora tenho feito alongamentos duas vezes por dia a ver se deixo de ter um instant reminder de carregar nas costas dores e mais dores.