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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

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01 de Outubro, 2020

Diz ela que é stress

Inês

De vez em quando tenho dores nas costas e ombros. Nada de surpreendente pois trabalho numa secretária. Levanto-me diversas vezes por dia e caminho. Vou ao armazém tratar disto ou daquilo, às vezes mesmo como desculpa para esticar o corpo. A semana passada comecei a ter dores muito mais intensas do género que não me fazem esquecer ao longo de todo o dia que tenho costas e ombros e que estão constantemente em tensão. Comecei a fazer alongamentos para ver se "ia ao sítio". Não foi. Fui fazer uma massagem. Nunca tinha feito uma e pouco percebo do assunto. Estou a deitar-me na marquesa e a massagista pergunta "Tens contraturas?" e eu atiro "Não". Na verdade, sei lá eu o que isso é, acho que não, sou saudável e tal... Ela prossegue e vai-me mostrando a quantidade de contraturas que eu tenho na cabeça, pescoço e costas. E é incrível porque consegui mesmo perceber a diferença entre as zonas do corpo. Inchaços musculares salientes que fazem doer. Terminou dizendo que eu tinha umas costas tão pequenas e, infelizmente, tão duras. Diz ela que é stress acumulado, provavelmente, do trabalho ou outras preocupações.

Honestamente, eu considero-me uma pessoa descontraída. Tenho aprendido a ser cada vez mais assim mas efetivamente, se me comparar com colegas minhas que, por exemplo, stressavam imenso com os exames da faculdade, eu acho que sou muito descontraída. Normalmente fico mais tensa com certas situações sociais. Fazendo uma retrospetiva, relembro que quando comecei a trabalhar estava constantemente em tensão porque me sentia desconfortável junto dos colegas, com o trabalho, etc. Corava quase todos os dias. Mas isso passou. Quase nem me lembro que isso foi uma temporada. Agora sinto-me completamente confortável, conheço todos os cantos da casa e já consigo distanciar-me o suficiente do trabalho para perceber que nada disto é meu, que não consigo controlar tudo e que não vale a pena stressar com o trabalho em si. Se for possível, ótimo. Se não for, azar. Não trabalho num hospital, não há urgências. Só clientes que acham que podem espremer e exigir tudo e mais alguma coisa. Portanto, não acho que atualmente seja uma pessoa stressada no trabalho.

Em casa, mudei o meu chip há uns meses e passei a ignorar simplesmente tudo o que me perturbava o que inclui reduzir as interações com a minha mãe ao mínimo indispensável como "boa tarde" e "boa noite". Não jantamos juntas há mais de um mês. Desliguei-me dela, deixei de me preocupar e deixei de chorar, por exemplo. Desisti, é um facto. Ontem, troquei umas frases com ela e senti que já ia descarrilar na conversa. Respirei fundo, pensei mais devagar e retomei o autocontrolo no sentido de não entrar por certos caminhos que sei não levariam a lado nenhum. A conversa terminou e num ápice, sem sequer haver grande motivo para isso, vieram-me as lágrimas aos olhos. E aí apercebi-me de que se me aproximo dela, nem que seja por uns milímetros, deixo-me afetar completamente por aquilo novamente. E que efetivamente estava afastada e estava relativamente bem. É uma dimensão da minha vida que me stressa de forma desmedida, que me preocupa, que me afeta como nenhuma outra. O meu afastamento é como mantivesse o problema debaixo de água, pouco visível. Se por um instante, eu acho que posso pegar só numa pontinha dele, ou tentar sequer, ele vem logo todo à tona sem pedir permissão e relembra-me porquê que, em primeira instância, eu nunca devia ter tocado nele.

Stress? Talvez. Ao fim ao cabo, o que sei eu? Passam dias e continuo a sentir de forma demasiado intensa as minhas costas e ombros. Agora tenho feito alongamentos duas vezes por dia a ver se deixo de ter um instant reminder de carregar nas costas dores e mais dores.