Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

27 de Abril, 2021

O trabalho como aquilo que dá sentido aos dias

Inês

O trabalho como aquilo que dá sentido à vida. Ia escrever "à vida" mas depois achei mais adequado substituir por "aos dias". Se pensar bem, a vida é um acumular de escolhas diárias pelo que irá dar ao mesmo. Ainda assim, fiquemo-nos, para já, pelos dias. Até porque "à vida" faz lembrar muito aquela célebre expressão "o trabalho liberta" que não tem nada a ver com este assunto (e ainda bem!).

Tenho me vindo a descobrir como uma workaholic e não tenho gostado. As responsabilidades têm crescido assim como os emails, os telefonemas, as encomendas, os códigos de produto, os fornecedores, etc, etc, etc. Pedi responsabilidade e ela chegou. Não estou é a ser capaz de dispensar trabalho para outras pessoas. Uma pessoa tem tempo limitado. E estar constantemente a receber trabalho sem deixar de ter algum do trabalho antigo é o caminho para o caos. Porém, efetivamente esse é um problema que eu tenho: delegar e ser assertiva naquilo que deviam ser tarefas dos outros. Custa-me sempre dizer que não. Prefiro dizer "sim, já faço". O problema é que depois as tarefas da essência do meu posto que são só minhas e deviam ser a minha prioridade passam para segundo plano e eu fico mal. Tenho que trabalhar nisto.

Mas bem, não era esta a questão central. A questão central deste post é eu deixei de me conseguir desligar do trabalho. Tirar férias quase que parece um problema. Eu quase chego ao ponto de pensar que não posso tirar férias. Isto é mau em muitos sentidos. Um deles é meio que achar que sou insubstituível ou tão essencial ao ponto de não me poder ausentar. O trabalho fazia-se antes de eu lá estar. De outra forma, é certo mas fazia-se. "Dá sentido aos dias" porque o trabalho faz-nos sentir importantes. Claro que depende do trabalho. Eu trabalho sozinha, ou seja, não posso dividir tarefas com ninguém. Gosto da autonomia, da responsabilidade, da tomada de decisão, do meu ritmo de trabalho. Falo com imensa gente que recorre a mim para tirar dúvidas, fazer questões, resolver problemas. Gosto disso numa certa medida. Faz-me sentir importante, que tenho um propósito, que importo, que produzo trabalho relevante para os outros. Há um quê de egoísmo nisto tudo. O trabalho é como uma distração da vida em si, uma parte que vai ocupando um lugar cada vez maior na nossa vida. Se estivermos descontentes com a nossa vida, eu diria que é fácil perceber que o trabalho pode ser o escape para essa frustração e/ou aquilo que dá substância, o local onde as pessoas se sentem queridas, relevantes e necessárias. Porém, eu considero-me bastante confortável com o ponto onde me encontro neste momento nisso tudo que é a vida. Estou feliz. Tudo à minha volta está tranquilo, controlado. Já esteve pior e portanto consigo saborear a tranquilidade. Mesmo assim sinto-me a ser engolida pelo trabalho. Não me estou a refugiar nele, tenho noção disso. Estarei só a sucumbir porque de facto é uma fase de enorme trabalho e não tenho neste momento nenhuma preocupação maior? Eu espero que sim. Espero não sair como tantos outros (que já critiquei) que passam a viver para trabalhar e deixam a vida em si para segundo plano. É um erro que abomino. No entanto, tirar férias para estar constanemente ao telemóvel no whatsapp e nos emails em tensão por preferir estar na secretária? É possível viver agarrada ao trabalho mas com prazer? Será possível só até certo ponto? Haverá um burnout iminente? Será passageira esta fase de gostar de trabalhar? Questões para responder no futuro.

06 de Abril, 2021

Felicidade é

Inês

Ouvir Dzrt e toda a banda sonora dos Morangos com Açúcar com a minha irmã e, sabe-se lá como, ambas cantarmos as músicas inteirinhas. Eu com 24 e ela com 9 anos. Obrigada ao Panda Biggs por lhe ter dado a conhecer a maior referência da minha infância. Apesar de entender agora tudo o que está errado com aquela série (e com todas na verdade), é de facto uma grande sorte poder partilhar com ela risos, danças e cantorias das músicas e personagens que me acompanharam durante tantos anos.

03 de Abril, 2021

O momento mais difícil / A felicidade no normal

Inês

Tudo muda quando a Fofinha começa a ter comportamentos estranhos e deixa de comer. A Fofinha é a nossa gatinha. Vivia na rua e acolhemo-la há 14 anos. É incrível como o tempo passa. 14 anos. Tinha eu 11 anos, estava a entrar no sexto ano. Quando a acolhemos devia ser uma jovem gata, de alguns meses. Viveu sempre connosco e, felizmente, nunca teve grandes stresses.

Na sexta-feira da semana, começou o pequeno pesadelo. Ela começou a agir de forma muito estranha cá em casa e tive que a levar ao veterinário porque claramente algo não estava bem. Fiquei chocada e logo a lacrimejar quando a veterinária fala em internamento. - Nunca me ocorreu que tivesse que chegar a esse momento. Nunca pensei sobre isso, em como 14 anos para um gato já é muito e está uma gata velhinha e que com a velhice surgem os problemas mais tristes. Erro meu nunca ter pensado sobre isso. É um gato. no subsconsciente, é como se assumisse que eles se curam a eles próprios. São a nossa companhia, estão lá sempre, a cada acordar, a cada refeição, a cada festinha. Sinto que muitas vezes nem lhe dei a importância suficiente. Só de pensar nisso, já me emociono. Em 14 anos muitas mais festinhas podiam ter sido dadas, sem qualquer dúvida. Ainda há tempo, calma. - Não consegui deixá-la para internamento, sobretudo durante a noite. Não conseguia fazer isso e não estava assim tão mal. Fez uns exames e fizemos as recomendações da vet. Parecia estar a melhorar até que deixou de comer e aí caiu tudo novamente. Para qualquer ser vivo deixar de comer, mesmo as comidas favoritas, é porque algo está muito mal. Liguei para a veterinária, não consegui conter as lágrimas. O internamento apresentou-se a melhor solução para que a Fofinha ficasse boa rápido. Estava frágil, desidratada pelos constantes vómitos e falta de apetite. Apesar de ser uma via que eu queria evitar a todo custo (porque ela não saberia o que está acontecer, eu conheço o conceito de saúde, hospital, cuidados médicos, etc, uma animal não saberá nada disso, apenas sentirá pânico), deixei a ideia assentar e compreendi que era o melhor. Percebi também que apenas teria que a deixar lá durante o dia e poderia ir buscá-la à noite, quase como uma escola ou um centro de dia e a ideia até teve a sua graça. No primeiro dia foram só algumas horas. No segundo dia já foi o dia completo, e quando a fui buscar notei diferenças mas não foram as melhores. Ela estava em stress, com a pulsação acelarada, super irrequieta e a miar imenso. Não era a Fofinha que eu conhecia. Um ataque de ansiedade é o mais provável. Para um animal que não conhece outra coisa que a sua casa e as três pessoas que nela habitam, ser levado de carro, colocado num espaço pequeno, com imenos outros animais, imenso barulho, imensas pessoas, com um cateter numa pata a receber soro... Imagino que não seja de fácil entendimento. Fiquei muito apreensiva mas entendi que era um dano colateral para atingir um bem maior. O terceiro dia trouxe felicidade. Passou lá o dia inteiro, fui buscá-la um pouco mais cedo (qual mãe ansiosa por ver o seu pequeno!), obtive a explicação toda da vet e quando chegamos a casa, finalmente vi a Fofinha que conhecia! Muito mais calma que o dia anterior, muito mais cheiinha que os dias que passaram (milagres do soro) e com a energia na medida que sempre nos habituou.... Olhava para ela e sentia-a bem. Completamente normal e essa normalidade trouxe-me tranquilidade e uma felicidade imensa.

Foi uma semana difícil. Senti-me completamente impotente perante o possível sofrimento que ela estava a passar. Não se traduzem miaus nem olhares nem cabeças baixas em palavras. Não saberia dizer o que ela poderia estar a sentir. Não sou médica, muito menos veterinária, nem sequer tenho interesse especial pelas áreas. Estava completamente fora do meu domínio, do meu entendimento. Não conseguia alterar coisa nenhuma. Tentei criar as condições perfeitas para que ela se sentisse melhor mas não o consegui fazer. Vigiei-a quase todos os minutos, cada ida à caixa de areia, cada vez que bebia água, cada vez que comia e que não comia. Dormi junto dela para sentir que continuava lá, cada vez que se levantava durante a noite e eu tentava que ela comesse. Foram dias muito cansativos, cheios de stress, preocupação e lágrimas. Nunca tinha passado por isto. Coisas que nunca tiveram importância, numa questão de dias tornaram-se motivo de festejo: "um cocó finalmente", "fez xixi", "bebeu água!", "comeu um bocadinho!". Imagino que isto é o que sentimos quando um filho passa mal, um pai ou uma mãe já velhinhos. A impotência e frustração quando a saúde é posta em causa.

Agora finalmente tudo parece melhor. Ainda não anda aí a fazer corridas como fazia mas em breve estará (espero!). Só quero que ela esteja bem e seja uma gata feliz. Farei todos os possíveis para lhe proporcionar isso.