17.07
De ano para ano tem sido cada vez mais difícil encarar este dia. Ficar mais velha um ano tem-se tornado cada vez mais custoso. Mas pior que isso é mesmo o dia. Não gosto. A pressão para ter que planear algo, um jantar, uma atividade. Juntar pessoas. Quando era novita adorava. Juntava grupos diferentes de crianças e amigos, havia um bolo grande e aquelas mesas recheadas. Muitas crianças, muita brincadeira, muitas prendas. Depois na dita adolescência e na universidade, os amigos mais próximos tornaram o dia mais significativo e especial. Mas de há uns para cá que o dia tem trazido mais sentimentos negativos do que positivos. Este ano, claramente, não é exceção. Adiei planear alguma coisa até agora. Porque não queria. Não quero que o meu aniversário seja justificação para se fazer algo. Não quero ser o centro das atenções. Não quero receber os parabéns. Não quero prendas. Se eu pudesse riscava este dia do calendário, fazia com que todos se esquecessem. Eu nem sei bem explicar isto. Eu gosto de mim. Gosto de ter nascido. Gosto da minha vida, os meus dia-a-dias são felizes. Mas detesto datas que têm que ser socialmente especiais. Detesto o meu aniversário, detesto a passagem de ano, detesto o natal. Sim, são esses. Detesto dias que socialmente têm que correr bem e ser especiais.
Este ano, na minha cabeça iria apenas estar com os meus irmãos, um sábado mais ou menos normal. Até mandei mensagem ao meu irmão há umas semanas a dizer para ele deixar este dia livre. Sabia que ele era o mais provável de estar ocupado. Afinal, enganei-me. Afinal devia ter avisado a minha irmã de nove anos que tratou de ter o dia ocupado com coisas que não me incluem. Eu sei. A única culpa aqui é minha que pensei tanto e tão pouco, que me esqueci de dizer em voz alta o que tinha na cabeça. A única coisa que eu queria, a única espécie de plano que eu tinha, acaba de ir por água abaixo. E isso deixa-me tão triste porque a Lara era o refúgio para passar este dia bem e contente. Ela torna todos os dias melhores. Tem aquela alegria inexplicável e contagiante de criança. Faz-me tão feliz. Estar com ela e o meu irmão é estar completa. E eu precisava mesmo disso neste dia em específico. Porque, eu não queria, juro, mas é o dia em si que obriga a ter algo, a sentir algo, a estar bem e feliz e ocupada e contente. Ou não? Não sei. Eu sinto que sim. Secalhar está tudo na minha cabeça. Estas últimas semanas só tenho pensado no quão difícil é ser velho. Envelhecer não me sai da cabeça. Bem, este tem sido o meu calcanhar de aquiles. Se eu fosse a uma psicóloga era esta a questão a tratar. Porquê que detestas tanto este dia, Inês? Ao mesmo tempo que digo e tento com todas as forças que é só um dia como os outros e tento escondê-lo de todos para evitar todos os parabéns, sinto esta cena enorme por não ser de uma certa forma. E choro. Já estou a chorar porque já vai correr mal. Se fosse como os outros dias, eu não chorava! Nem sequer estou naquela altura do mês que me dá para chorar. Este dia é lixado. Tem este efeito em mim. Dia 18/07 já estará tudo bem. Até lá, vou tentar ocupar as horas. Tenho que ir ao veterinário com a Fofinha o que só por si já tem um ligeiro potencial de me deixar em baixo, dependendo das notícias que receber. Tenho que aprender a lidar melhor com estas mudanças na saúde da Fofinha porque tenho noção que não estou a lidar bem com isto. Depois, e aproveitanto o paraíso gratuito que tenho a sorte de ter, acho que vou à praia sozinha ouvir o meu spofityzinho e aproveitar o sol. Se não fosse o meu aniversário era exatamente isso que eu faria, portanto, parece-me de facto o melhor plano.