9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #9
O último dia desta aventura chegou demasiado rápido. Esta semana foi realmente fantástica para mim e cheia de sortes. Tive sorte em simplesmente se proporcionar juntamente com as minhas pessoas preferidas, tive sorte em as coisas em minha casa estarem estáveis de forma a eu poder estar inteiramente livre, tive sorte em estar bem-disposta todos os dias e tive sorte no bom tempo que apanhei (até nos esquecemos da água fria nas praias). Foram dias felizes. Ser a responsável também ajudou pois a minha cabeça tinha que estar focada no momento, no dia-a-dia, nos percursos, nos locais a visitar, na condução, nos parques, na segurança da AC, enfim, todo um leque de aspetos importantes que caíam sobre os meus ombros - e bem - e que me fizeram estar na experiência inteira e perceber a fundo o que é isto de viajar em autocaravana. Na verdade, devo admitir que há uns meses estava muito mais certa que ter uma autocaranava seria parte do meu fundo. Estava deslumbrada, encantada e apaixonada com a ideia. Agora, apesar de apenas ter confirmado o quão bem me adapto ao estilo de vida e viagem, penso noutras questões. Sobretudo que talvez não a usasse tanto quanto desejaria (mas talvez o cérebro esteja já só a inventar desculpas para deixar de lado esta ideia). Será uma reflexão para outra altura.
Mas bem, como dormi mal, acordei cedo. Abri a janelinha do quarto e vi logo o mar. Esta é uma das memórias para aguardar. Das coisas que valem a pena! Desci a escadinha do quarto, abri a porta e tinha ali toda a imensidão azul a dizer bom dia. Estava um dia bonito. Já muitos vizinhos estavam acordados, incluindo aquele com quem tinha conversado bastante na noite anterior. Entretanto, iniciámos o pequeno-almoço e voltei a aproveitar para sair da AC e simplesmente vir cá para fora olhar o oceano. Era a paisagem que mais queria ver. Era o que valia a pena. Entretanto, e de forma surpreendente, a GNR entra pelo parque adentro e passa à nossa frente com dois carros. Ficámos logo de alerta. Estaciona muito lá o fundo e depois começam a vir, praí vinte guardas bater à porta de cada carrinha. Como eram muitos, nem deu tempo para agir, quando dei por ela tinha um guarda ao lado - muito simpático, por sinal - a "fazer uma ação de sensibalização em relação à proibição de pernoita naquela zona e que, devido às horas, ficava difícil distinguir quem tinha pernoitado daqueles que tinham apenas chegado de manhã, pelo que não ia passar um auto". Mal abri a boca e uma vez mais agradeci ao universo a sorte de a GNR aparecer apenas à 8h30 da manhã. Em jeito de brincadeira, talvez a experiência de autocaravanista não ficasse completa sem uma conversa com a GNR. E, felizmente, uma conversa amigável. Foi uma bela forma de, até antes de arrumar seja o que for, pormo-nos na estrada e seguir para norte. Nem me despedi do vizinho, apenas trocamos um aceno ao longe.
Conduzir logo de manhazinha também foi bom. Não havia trânsito e estava fresco. O nosso objetivo para terminar a manhã era parar na Praia de Melides que seria a última paragem desta aventura. Porém, o nosso querido GPS enganou-nos e mandou-nos para a Praia da Lagoa de Sto André. Só nos apercebemos depois que havia efetivamente Melides e a Praia de Melides um bom bocado mais à frente no caminho. Já não parámos porque estávamos sem tempo. A Praia da Lagoa de Sto André não foi espetacular. Estava fresco por isso nem tirei a roupa (até me cobri com a toalha) e acabei por dormitar um bocado. Depois mais perto do meio-dia passou o Sr. das bolas de berlim e fomos à última bola da semana (e ainda bem pois não víriamos a comer mais nada o dia quase todo!). O engraçado deste momento foi que não tínhamos moedas suficientes para as bolas de berlim e o Sr. mesmo assim confiou-nos a tarefa de pagarmos por mbway. Mesmo depois de ele próprio dizer que não havia rede ali (mas eu tinha) e para enviarmos depois quando saíssemos da praia. Um ato de confiança enorme e que se encontra raramente (ainda por cima, por utilizar uma ferramenta bastante nova e moderna, e até utilizada muitas vezes para fins desonestos, entre gerações tão distintas). Lá enviei o dinheiro e espero que ele tenha ido confirmar.
Na meia hora iniciámos a grande viagem de regresso. O calor começou a ser cada vez maior e passar naquela zona de Alcácer do Sal foi penoso. Tivemos que parar no Intermarché para fazer as limpezas de forma a deixar a AC impecável. Fizemos uma senhora limpeza (qual treino de ginásio!). Debaixo daquele sol abrasador e do stress de estar em contra-relógio, saímos as três encharcadas em suor e vermelhas que nem tomates. Tenho a certeza que entregámos a carrinha melhor do que a recebemos. Aliás, os proprietários quando a receberam, apenas disseram que "alugar a raparigas é um espetáculo". Acabámos por nem comer a tarde toda porque não houve tempo. Já devíamos saber mas uma viagem de AC demora sempre o dobro do tempo que o GPS indica. A velocidade não passava dos 80 km/hora e essa será a velocidade máxima porque na maior parte da viagem, foi muito menos que isso. Além disso, apanhámos trânsito na autoestrada pois era a mudança de quinzena e milhares de pessoas estava a voltar do Algarve. E eu ali debaixo do sol, naquele pára-arranca chatinho. Uma das coisas que me dá mais gozo (apesar de errado, eu sei) é o multitasking a conduzir. Ora vou bebendo a minha água, ora vou pondo protetor-solar no braço que está a assar. E girar o voltante só com uma mão? Eu devo ter sido camionista noutra vida. Eheheheheh Um dos carros que passa ao meu lado, naqueles 20km/hora, brinca comigo pedindo também protetor para pôr. Eram umas miúdas também e estavam divertidas. Teve piada.
Atrasadas 15 min, finalmente chegámos a Lisboa (e conduzir em Lisboa? Se já metia medo se fosse em carro apenas, conduzir pela primeira vez de AC na capital foi, sem dúvida, das coisas que mais temia, à parte de ter apenas deixado ir abaixo no meio de uma rotunda, foi tranquilo). A entrega da AC foi rápida e tranquila, sem quês, não fossemos nós pessoas decentes e eles jovens que confiaram logo no pouco que viram. Deu pena entregar a Mercedes mas não havia muito tempo para parar. Estávamos cheias de fome e com um autocarro para apanhar. Depois de uma rápida visita ao Mcdonals no Vasco da Gama (eu considero-me uma pessoa de cidade mas que grande confusão de shopping... tanta gente que até incomoda), lá fomos para a paragem e tivemos uma agradável viagem de regresso ao Porto. Cheguei a casa, bastante tarde, para lá das 23h. Voltei para a minha Fofinha de quem tantas saudades tinha.
Foi uma viagem em grande. Um pequeno sonho tornado realidade. A aventura de 2021. Curioso escrever este post que marca o última dia da aventura no dia em que, de forma absolutamente surpreendente, abro o Sapo Blogs e vejo que estou em Destaque mas destacadíssimo com uma grande foto das minhas amigas na autocaravana. Que orgulho, por um lado, e que frio na barriga, por outro. Nunca tinha acontecido ter este tipo de destaque (e eu gostava de ter feito os posts mais arranjadinhos e as fotos com legenda, mas pronto, fica assim, de forma crua). Conforme a descrição do Destaque, "O relato numa série de posts da Inês de uma viagem de auto-superação pela costa vicentina." Viagem de auto-superação. Sem dúvida que foi. Até há pouco, quando mostrava orgulhosamente vídeos meus a conduzir a AC a colegas de trabalho, ouvi "fiquei tua fã". Para mim, entrar nesta aventura deu-me muito entusiasmo. Até por ter sido acompanhada das minhas pessoas preferidas. Mas por outro lado, não duvidei muito que adorasse e me saísse bem. Ou melhor, por muitos desafios que tivesse, e coisas que corressem menos bem, eu sabia que o resultado seria positivo. Também não pensei muito, não fiz muitos planos. Adaptaria-me bem à realidade e estaria pronta para o que aparecesse. Assim, de forma natural. É o que me faz sentido. Agora, que venha a próxima aventura que estou mais que pronta!