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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

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24 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #9

Inês

O último dia desta aventura chegou demasiado rápido. Esta semana foi realmente fantástica para mim e cheia de sortes. Tive sorte em simplesmente se proporcionar juntamente com as minhas pessoas preferidas, tive sorte em as coisas em minha casa estarem estáveis de forma a eu poder estar inteiramente livre, tive sorte em estar bem-disposta todos os dias e tive sorte no bom tempo que apanhei (até nos esquecemos da água fria nas praias). Foram dias felizes. Ser a responsável também ajudou pois a minha cabeça tinha que estar focada no momento, no dia-a-dia, nos percursos, nos locais a visitar, na condução, nos parques, na segurança da AC, enfim, todo um leque de aspetos importantes que caíam sobre os meus ombros - e bem - e que me fizeram estar na experiência inteira e perceber a fundo o que é isto de viajar em autocaravana. Na verdade, devo admitir que há uns meses estava muito mais certa que ter uma autocaranava seria parte do meu fundo. Estava deslumbrada, encantada e apaixonada com a ideia. Agora, apesar de apenas ter confirmado o quão bem me adapto ao estilo de vida e viagem, penso noutras questões. Sobretudo que talvez não a usasse tanto quanto desejaria (mas talvez o cérebro esteja já só a inventar desculpas para deixar de lado esta ideia). Será uma reflexão para outra altura.

Mas bem, como dormi mal, acordei cedo. Abri a janelinha do quarto e vi logo o mar. Esta é uma das memórias para aguardar. Das coisas que valem a pena! Desci a escadinha do quarto, abri a porta e tinha ali toda a imensidão azul a dizer bom dia. Estava um dia bonito. Já muitos vizinhos estavam acordados, incluindo aquele com quem tinha conversado bastante na noite anterior. Entretanto, iniciámos o pequeno-almoço e voltei a aproveitar para sair da AC e simplesmente vir cá para fora olhar o oceano. Era a paisagem que mais queria ver. Era o que valia a pena. Entretanto, e de forma surpreendente, a GNR entra pelo parque adentro e passa à nossa frente com dois carros. Ficámos logo de alerta. Estaciona muito lá o fundo e depois começam a vir, praí vinte guardas bater à porta de cada carrinha. Como eram muitos, nem deu tempo para agir, quando dei por ela tinha um guarda ao lado - muito simpático, por sinal - a "fazer uma ação de sensibalização em relação à proibição de pernoita naquela zona e que, devido às horas, ficava difícil distinguir quem tinha pernoitado daqueles que tinham apenas chegado de manhã, pelo que não ia passar um auto". Mal abri a boca e uma vez mais agradeci ao universo a sorte de a GNR aparecer apenas à 8h30 da manhã. Em jeito de brincadeira, talvez a experiência de autocaravanista não ficasse completa sem uma conversa com a GNR. E, felizmente, uma conversa amigável. Foi uma bela forma de, até antes de arrumar seja o que for, pormo-nos na estrada e seguir para norte. Nem me despedi do vizinho, apenas trocamos um aceno ao longe.

Conduzir logo de manhazinha também foi bom. Não havia trânsito e estava fresco. O nosso objetivo para terminar a manhã era parar na Praia de Melides que seria a última paragem desta aventura. Porém, o nosso querido GPS enganou-nos e mandou-nos para a Praia da Lagoa de Sto André. Só nos apercebemos depois que havia efetivamente Melides e a Praia de Melides um bom bocado mais à frente no caminho. Já não parámos porque estávamos sem tempo. A Praia da Lagoa de Sto André não foi espetacular. Estava fresco por isso nem tirei a roupa (até me cobri com a toalha) e acabei por dormitar um bocado. Depois mais perto do meio-dia passou o Sr. das bolas de berlim e fomos à última bola da semana (e ainda bem pois não víriamos a comer mais nada o dia quase todo!). O engraçado deste momento foi que não tínhamos moedas suficientes para as bolas de berlim e o Sr. mesmo assim confiou-nos a tarefa de pagarmos por mbway. Mesmo depois de ele próprio dizer que não havia rede ali (mas eu tinha) e para enviarmos depois quando saíssemos da praia. Um ato de confiança enorme e que se encontra raramente (ainda por cima, por utilizar uma ferramenta bastante nova e moderna, e até utilizada muitas vezes para fins desonestos, entre gerações tão distintas). Lá enviei o dinheiro e espero que ele tenha ido confirmar.

Na meia hora iniciámos a grande viagem de regresso. O calor começou a ser cada vez maior e passar naquela zona de Alcácer do Sal foi penoso. Tivemos que parar no Intermarché para fazer as limpezas de forma a deixar a AC impecável. Fizemos uma senhora limpeza (qual treino de ginásio!). Debaixo daquele sol abrasador e do stress de estar em contra-relógio, saímos as três encharcadas em suor e vermelhas que nem tomates. Tenho a certeza que entregámos a carrinha melhor do que a recebemos. Aliás, os proprietários quando a receberam, apenas disseram que "alugar a raparigas é um espetáculo". Acabámos por nem comer a tarde toda porque não houve tempo. Já devíamos saber mas uma viagem de AC demora sempre o dobro do tempo que o GPS indica. A velocidade não passava dos 80 km/hora e essa será a velocidade máxima porque na maior parte da viagem, foi muito menos que isso. Além disso, apanhámos trânsito na autoestrada pois era a mudança de quinzena e milhares de pessoas estava a voltar do Algarve. E eu ali debaixo do sol, naquele pára-arranca chatinho. Uma das coisas que me dá mais gozo (apesar de errado, eu sei) é o multitasking a conduzir. Ora vou bebendo a minha água, ora vou pondo protetor-solar no braço que está a assar. E girar o voltante só com uma mão? Eu devo ter sido camionista noutra vida. Eheheheheh Um dos carros que passa ao meu lado, naqueles 20km/hora, brinca comigo pedindo também protetor para pôr. Eram umas miúdas também e estavam divertidas. Teve piada.

Atrasadas 15 min, finalmente chegámos a Lisboa (e conduzir em Lisboa? Se já metia medo se fosse em carro apenas, conduzir pela primeira vez de AC na capital foi, sem dúvida, das coisas que mais temia, à parte de ter apenas deixado ir abaixo no meio de uma rotunda, foi tranquilo). A entrega da AC foi rápida e tranquila, sem quês, não fossemos nós pessoas decentes e eles jovens que confiaram logo no pouco que viram. Deu pena entregar a Mercedes mas não havia muito tempo para parar. Estávamos cheias de fome e com um autocarro para apanhar. Depois de uma rápida visita ao Mcdonals no Vasco da Gama (eu considero-me uma pessoa de cidade mas que grande confusão de shopping... tanta gente que até incomoda), lá fomos para a paragem e tivemos uma agradável viagem de regresso ao Porto. Cheguei a casa, bastante tarde, para lá das 23h. Voltei para a minha Fofinha de quem tantas saudades tinha.

Foi uma viagem em grande. Um pequeno sonho tornado realidade. A aventura de 2021. Curioso escrever este post que marca o última dia da aventura no dia em que, de forma absolutamente surpreendente, abro o Sapo Blogs e vejo que estou em Destaque mas destacadíssimo com uma grande foto das minhas amigas na autocaravana. Que orgulho, por um lado, e que frio na barriga, por outro. Nunca tinha acontecido ter este tipo de destaque (e eu gostava de ter feito os posts mais arranjadinhos e as fotos com legenda, mas pronto, fica assim, de forma crua). Conforme a descrição do Destaque, "O relato numa série de posts da Inês de uma viagem de auto-superação pela costa vicentina." Viagem de auto-superação. Sem dúvida que foi. Até há pouco, quando mostrava orgulhosamente vídeos meus a conduzir a AC a colegas de trabalho, ouvi "fiquei tua fã". Para mim, entrar nesta aventura deu-me muito entusiasmo. Até por ter sido acompanhada das minhas pessoas preferidas. Mas por outro lado, não duvidei muito que adorasse e me saísse bem. Ou melhor, por muitos desafios que tivesse, e coisas que corressem menos bem, eu sabia que o resultado seria positivo. Também não pensei muito, não fiz muitos planos. Adaptaria-me bem à realidade e estaria pronta para o que aparecesse. Assim, de forma natural. É o que me faz sentido. Agora, que venha a próxima aventura que estou mais que pronta!

22 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #8

Inês

Quase no fim, o oitavo dia foi também daqueles em que fizémos menos kms, pois não saímos de Porto Covo. Começou com uns mergulhos na Praia dos Buizinhos. A água estava boa e este deve ter sido dos poucos dias em que acordámos, tomamos o pequeno-almoço e fomos logo para a praia. Conversamos muito sobre as nossas realidades familiares, como já é normal. Partilhámos medos, ideias e perspetivas. Na hora de almoço, saímos da praia e procuramos um restaurante onde pudéssemos comer algum marisco. Seria a primeira vez nesta viagem e pareceu-nos adequado provar os pratos típicos da região. Todos os restaurantes tinham fila portanto aguardamos um pouco. Já na mesa pedimos uma garrafa de vinho e quatro entradas diferentes, nenhum prato principal. Paté de sapateira em pão torrado, camarões fritos, ameijõas à bolhão pato e salada de polvo. Apesar de serem quatro diferentes, eram apenas entradas e portanto a quantidade escassiava. Fomos pedindo pão para ir comendo com os molhos que só por si são muito bons. Por fim, e apesar de já estarmos muito cheias (e levemente tocadas), pedimos sobremesas porque havia mousse de oreo e é impossível resistir. Pagamos uma conta jeitosa (vinte e tal cada uma) e só penso "ainda bem que só pedimos entradas". Já sabíamos que seria uma refeição mais dispendiosa e foi também das mais deliciosas e que concerteza ficará na memória. Estando cheias e a precisar de descansar, fomos para a Praia do Banho. O mar estava bravo e portanto nem fomos à água, mas descansamos e todas dormimos uma sesta. Já ao final da tarde, voltamos para a AC para ir à Praia da Samoqueira que estava nos nossos guardados para visitar. Esta praia é mesmo perto de Porto Covo pelo que chegamos lá num instante. E é linda. Um grande areal e grandes rochas a emoldurar o mar. E, incrivelmente, o estacionamento não estava proibido a ACs, portanto estavam lá algumas. Paramos e fomos para a praia jogar um pouco de raquetes e ver o pôr-do-sol. Foi lindo. Fiz uma videochamada com a minha mãe para lhe mostrar a praia e pôr-do-sol. Foi realmente dos sítios mais bonitos e, com sorte, das últimas paragens. Um bonito fim de dia. Depois, subimos e tiramos umas fotos para a posteridade. O cenário com a AC era também um dos melhores: na arriba com o céu lusco-fusco atrás, a AC em grande plano e nós as três. De facto, correu bastante bem esta ser das últimas paragens. Quando estávamos a arrumar para vir embora (o plano era ir até Sines ou Melides para assim fazer mais caminho para norte), reparei que muitas ACs iriam ficar ali a pernoitar. Falei com um vizinho que me disse que ali não havia problema em pernoitar, no máximo a GNR passava e mandava o pessoal todo embora (porque é ilegal pernoitar naquela região na zona costeira). Era a última noite, já era de noite e mais uma vez pensei no raio do destino que nos ofereceu a Praia da Samoqueira como última paragem antes do grande regresso, com um estacionamento à beira-mar mesmo a pedir para ficarmos como ainda não tinha acontecido antes. Achei que era perfeito e decidimos ficar. Ainda fomos à vila descarregar as águas sujas e comprar água e pão para jantarmos (ahahahah, que pobres). Estacionadas, fomos aos banhos e ao jantar. Entretanto, eu fui fazer amizade com o nosso vizinho. Gosto sempre de falar com os estranhos que se cruzam no meu caminho. Ou que encostam ao lado. Turns out, é pai de dois filhos (com quem estava a viajar) trabalhou muitos anos em Espanha e faz a costa algarvia e alentejana todos os anos com os filhos. Deu-me algumas indicações sobre sítios a visitar em Espanha e no geral foi uma boa conversa. Depois fui para dentro e não voltei a sair, com pena porque no dia seguinte ele disse que durante a noite houve uma chuva de estrelas melhor ainda que a anterior. A noite foi das piores, talvez por ser a última, mas sobretudo porque fiquei muito insegura e nervosa com o sítio onde estacionei. Ora ouvia barulhos de motores (imaginários), ora previa que um qualquer carro me desse um choque por trás e a nossa AC fosse ribanceira abaixo, ora imaginava que a GNR aparecesse e me fizesse sair a altas horas da madrugada e com o nervosismo e pouca luz, eu fizesse alguma asneira a manobrar a AC. Muita coisa me passava pela cabeça e, portanto, não dormi. Até acordei durante a noite apreensiva, levantei-me e vim para o sítio do condutor verificar se se passava algo estranho. Ainda na cama, até me levantei com força e sem pensar e bati com a cabeça no cimo da AC. O incidente até acordou a C. que dormia ao meu lado e só perguntou "então, o que se passa?". Apesar da noite muito mal dormida, este deu um episódio muito engraçado para relembrar.

20 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #7

Inês

O sétimo dia marca o regresso e a reta final da aventura. Foi dos dias em que fizemos mais kms. Saíamos do parque logo de manhã e fomos até à Zambujeira do Mar, apenas com paragem em Azenhas do Mar porque nos pareceu um sítio bonito. Na Zambujeira tivemos algumas das maiosres peripécias no que toca à AC. Fomos sempre junto à costa e, portanto, o GPS direcionou-nos para a praia. O problema é que com AC, descer e subir aquela estrada íngreme que liga a vila à praia é o cabo dos trabalhos! Só nos apercebemos mais tarde. Eu sabia que poderia entrar na vila doutra forma, sem ter que descer (porque o ano passado já lá tinha andado) mas vindo da direção onde viemos e sem conhecer, foi o buraco onde nos metemos. Depois tirar de lá a AC foi um desafio. Pelo caminho em frente não dava porque era muuuito íngreme (para sempre relembrar o fds da C. quando atravessámos a estrada e vislumbramos o quão íngreme era). Tentamos, paramos o trânsito e (felizmente!) havia um parquezito de terra batida no meio da subida, onde ficámos retidas, pelo que andei de marcha-atrás até entrar nesse parque e estacionei a AC para fazer uma pausa e pensar sobre a saída. Estacionámos, almoçamos e fomos ver a vila e a praia. A praia foi muito boa, deu para entrar na água e apanhar sol. Ficamos umas boas horas e, depois, voltamos para a AC. Ao chegar ao parque, vejo que estão mais uns quanto carros estacionados a dificultar-me a passagem. Ora, claramente os carros nem pensaram em como os outros saíram dali (talvez eu também não me apercebesse). Primeiro, um carro estacionou mesmo colado à traseira da AC, o que vale é que eu tinha deixado espaço à frente para fazer a manobra. Segundo, outro carro estacionou numa lateral, não deixando espaço suficiente para a AC passar (porque é mais larga que um ligeiro normal). Ainda tentámos mas desistimos, não correndo o risco de haver choques ou riscos. Decidimos voltar a estacionar e ir tomar banho (vantagens da AC) e nesse preciso momento aparece a condutora de um dos carros e tira o carro (foi super simpática e até nos tirou uma foto às três). Lá passamos o segundo obstáculo e atiramo-nos ao terceiro e mais difícil: a subida. Admito que me tremiam um pouco as pernas. Porém, correu bem. Subi sempre em primeira, não dando hipótese de o carro perder força. Foi um esforço grande mas foi bem conseguido e ficámos contentes. Rumamos a Porto Covo, à Praia do Sissal que eu já conhecia do ano passado. Vimos aquela paisagem bonita da Ilha do Pessegueiro ao fundo e o melhor pôr-do-sol da viagem. Tiramos das melhores fotos apenas com telemóvel na toalha, temporizador e muita sorte. Depois, fomos para o parque no centro de Porto Covo onde jantamos omeletes. No final do jantar, demos um pequeno passeio por Porto Covo (que bonita!) e vimos a chuva de estrelas junto ao banquinhos por cima da Praia dos Buizinhos. Foi outra das grandes sortes. Vi ainda umas três estrelas a rasgar o céu. Há coisas bonitas. No final da noite, já com frio, fomos a uma bola de berlim na padaria popular que há lá. A fila era grande mas aguardamos e valeu a pena. Acompanhamos com um chá feito na AC, soube muito bem e esta acabou por ser provavelmente das noites onde nos deitamos mais tarde.

19 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #6

Inês

O sexto dia foi o mais tranquilo, tanto a nível de atividades como kms percorridos. Simplesmente nem saímos de Portimão. Acordámos e fomos ao shopping fazer compras e carregar as baterias. Demorámos mais do que o suposto (como sempre) e regressámos ao mesmo estacionamento. Almoçamos na AC e fomos até à Praia da Rocha onde passamos a tarde toda. A praia estava apinhada de gente e a água estava bastante boa pelo que deu para ir à água muitas vezes. Ainda comemos uma bola de berlim de alfarroba (desforra do dia anterior). Depois já ao anoitecer era suposto irmos logo para a Zambujeira do Mar, iniciando assim a viagem de regresso mas acabou por ficar tarde e eu não estava confiante para conduzir tanto durante a noite portanto (e uma vez mais regadas de sorte) batemos à porta de um parque na Figueira, mesmo à saída de Portimão, já passava das 21h e ficamos com o único espaço livre que ainda existia. As descargas e trocas de águas foram sempre episódios engraçados e, neste parque em específico, apesar de ser designado para ACs, as passagens eram apertadas (ora bem, era de noite e eu estava cansada, por isso eram apertadas), portanto lá no meio de umas manobras ouvi um "está nervosa?" dos dois rapazes responsáveis pelo parque.

A condução foi, nesta experiência, uma das partes mais importantes para mim. Também sinto que foi no geral porque quando eu disse a colegas e familiares que ia com duas amigas fazer a costa vicentina de autocaravana, o que perguntavam logo a seguir era quem ia conduzir e quando eu respondia que era eu porque era a única condutora do grupo, o que via era surpresa do outro lado. Eu sou pequenita, tenho metro e meio e peso cinquenta quilos. O meu carro é um citroen saxo de 96, um carrito joaninha que é menos de metade da AC. Eu própria sabia que ia ser um desafio mas tinha que experimentar conduzir de alguma forma e, na falta de um amigo que tenha uma, uma alugada é a única hipótese. Tanto sabia que pedi aos colegas lá da empresa para num sábado de manhã experimentar conduzir uma das carrinhas de mercadorias e lá fui. Foi na boa mas mais na boa foi conduzir a AC. Ajustei-me rapidamente e, à parte de alguns cenários no trânsito mais complicados, tudo correu bem. Mas haverem cenários de trânsito complicados nem é problemático, podem sempre acontecer porque não dependem inteiramente de nós. O que conta é como nos safamos das situações em questão e eu consegui sempre sair delas. Não havia outra alternativa. Sendo a única condutora e levando ali as minhas duas melhores amigas, a responsabilidade é muita. A única saída é resolver. Analisar a situação e resolver porque congelar não era solução. E, nessas situações, safo-me bem. Além disso, eu gosto muito de conduzir, sempre gostei. Também por isso é que estas férias faziam sentido e eram um pequeno sonho. O autocaravanismo engloba muita coisa que eu gosto e que cabe na minha vida. O gosto pela condução e pela estrada é um deles.

19 de Agosto, 2021

Cenas #2

Inês

Esta semana foi difícil de gerir a nível emocional. Tendo em conta que, como já disse, foi semana pós-férias mas não de regresso ao trabalho, senti uma diferença súbita entre a aventura com as amigas e o voltar a casa. Apesar de terem sido apenas oito dias, foram oito dias intensos.

A juntar a isto, o L. declinou uma booty call e quando lhe perguntei o que tinha mudado (no tom mais informal e depreendido possível, porque não quero de todo que seja uma questão difícil até porque somos só fuck buddies e o fim iria chegar eventualmente), não respondeu e disse que ligava para conversarmos e depois não ligou. Diz que aparece e não aparece, diz que liga e não liga, lê as mensagens e não responde. Isto é L. a ser L. Eu já o conheço. No entanto, não posso deixar de achar que é uma grande falta de consideração porque acima de friends with benefits, somos friends e não nos devíamos esquecer disso. Já lá vão oito anos. E, para lá das booty calls, eu gosto de saber como ele vai e o que lhe vai acontencendo na vida. Porém, já sei que ele é de luas e portanto já esperava que mais tarde ou mais cedo ele desaparecesse do mapa. Mas custou um bocadinho mais esta semana. No pior cenário, ele voltou para a ex ou arranjou uma nova namorada. Já me mentalizei para ambas para assim ser mais fácil. Porém, preferia que continuasse tudo como há uns meses. Mas sabia que iria terminar. Aliás, já esperava há muito tempo e sempre vi esta reaproximação como uma grande sorte da vida. Sorte não no sentido que eu sou sortuda por ele ter voltado à minha vida mas porque, volvidos oito anos e tanta coisa que se passou e que não se passou, a vida é engraçada, dá voltas e voltas, e acabamos por ter tido o nosso cantinho de paraíso (qual cliché). Fosse apenas um encontro e eu já era feliz. Mas até foram quatro pelo que não posso pedir mais (tudo isto não passam de meros desbafos).

Há cerca de três semanas o DC finalmente ganhou coragem e fez-me um ultimato. Quer mais, e portanto, ou avançamos para o próximo passo ou ele segue a vida dele. Entendo perfeitamente. Sentia que me estava a aproveitar do facto de ele se sentir sozinho e de se conformar com o estado da nossa relação em que claramente não estamos em sintonia. Na verdade não tenho resposta para lhe dar. Eu sinto que até fui muito honesta com ele no sentido em que lhe disse que eu queria avançar e sentir mais coisas mas não é um botão que se liga e que portanto não conseguia. Se eu pudesse escolher, escolhia amá-lo e querer muito estar com ele e com mais ninguém. Era tudo muito mais fácil se assim fosse. Mas não sinto e sei que é injusto para ele. Sou tipo um io-io, ora estou lá em cima de apaixonada ou estou nem aí. E já estou nem aí há muito tempo e sei que é ingrato para quem está lá sempre. E, de qualquer forma, avançar para que fase? O mais natural seria irmos viver juntos mas eu não vou fazer isso nesta fase da minha vida. Já quis muitíssimo e agora quero zero. Quero estar em casa onde sou precisa e me sinto bem. Portanto, avançar para onde? Com ele não há caminho por onde avançar. Depois, também esta semana, ele envia-me uma mensagem a dizer que vai candidatar-se a um emprego noutra cidade (bastante longe até). É o emprego de sonho dele e abriu uma vaga. Naturalmente vai tentar e acho muito bem. Talvez este acontecimento seja um caminho a seguir ou pelo menos um evento que obriga algo a acontecer, decisões a tomar, sentimentos a mudar. Eu também não sinto muito nesta relação porque claramente ele está sempre lá, está completamente garantido para mim (e isto foi um dos grandes motivos por termos terminado a primeira relação). Ou seja, agora eu dou a provar do veneno que outrora já me matou. Mas eu até o incentivo a conhecer outras raparigas e puxo o máximo possível pelo conceito relação aberta, apesar de nunca ter sido bem sucedida a convencê-lo. Agora pode ser que ele efetivamente mude de vida e isso lhe traga outras coisas, talvez outras raparigas, e ou acabemos de vez ou eu me apaixone de vez (quem sabe). Porém, há coisas com as quais não consigo mesmo lidar e em ano e meio de tentativa nada mudou na minha perspectiva. Não quero lidar com a família dele, continuo sem paciência para muitas merdas da personalidade dele e não me conformo com a sex life que temos (ou que não temos). Enfim. Talvez seja demasiado exigente comigo própria e com o que está disponível. Talvez o amor não seja para mim, assim, na forma de relações duradouras como as conhecemos. Mas isto leva-me a outro ponto sobre o qual tenho pensado muito.

Durante os últimos dois anos construí-me numa mulher emocionalmente independente e autónoma que é algo que adoro e não me vejo a deixar para trás. Na minha cabeça, entrar numa relação é deixar isto para trás. É dar espaço a expectativas, cedências e desilusões. A espaço e tempo que é só meu e deixa de o ser. Então, neste momento, não estou de facto pronta para uma nova relação. Quando estarei? Alguma vez estarei? Quero, sequer? Depois penso que tenho 25 anos. Já tenho 25 anos. Nunca me pesou mas há umas semanas (fucking aniversário) comecei a sentir uma pressão estranha em arranjar alguém. Em sentir que tinha que arranjar alguém, que era uma inevitabilidade da vida e que estava a adiar um processo que só se tornaria cada vez mais difícil. E isto entrou em choque frontal com a minha construção de mulher independente, autónoma e emocionalmente autosustentável que não precisa de ninguém em específico. Fico sem perceber o que fazer nesta encruzilhada.

E de repente vejo todos os boys da minha vida a enlaçarem-se. O Tay que foi fuckboy em Erasmus arranjou finalmente uma girlfriend ao fim seis anos. O L. está nesta merda de não responder e declinar convites. E o DC ganhou tomates para me encostar à parede. E eu não faço puta ideia o que fazer. Se eu quisesse contruir vida era com o DC, mas não sinto o chamamento, a atração, o amor. Precisava que me aparecesse um gajo novo na minha vida que me apaixonasse em, não todos, mas pelo menos os principais sentidos da vida. Alguém que não seja do passado, que me traga desafios novos, famílias novas, amigos novos, ambientes diferentes. Mas vejo-me a caminhar cada vez mais para aquelas situações que oiço e leio de mulheres com os seus 30's que dizem que se habituaram tanto a viver sozinhas e estar bem sozinhas que estão demasiado fechadas para se apaixonarem. Eu serei uma dessas (se já não o for!). É que eu adoro-me muito mais agora estando livre do que quando namorava. Adoro o tempo todo para mim, não ter aqueles planos sistemáticos de namorados, não esperar nada de ninguém, não pensar nas datas que se devem celebrar a dois, etc, etc. Eu só vejo vantagens porque de facto talvez a minha personalidade não se coaduna com a de estar numa relação. E pensar em ter filhos? Bem, isso dá uma tese que fica para outro post.

19 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #5

Inês

Depois da primeira noite mal dormida em Sagres, saímos logo de manhazinha do Inter para ir tomar o pequeno-almoço à zona da Fortaleza de Sagres onde tínhamos visto o pôr-do-sol no dia anterior. Demos também um pequeno passeio por aquela zona. Foi aqui que, pela primeira vez, a C. teve o vislumbre das praias lindíssimas do Algarve com as águas naquele tom de azul clarinho. Da fortaleza víamos a praia da Mareta e portanto fomos logo lá dar um salto. A C. aproveitou para dar um mergulho, apesar de para mim e para a J. continuar a ser água demasiado fria. Nesta praia aconteceu uma das situações mais engraçadas da viagem. A J. foi prendada ao longo das noites com diversas maleitas: ora eram as mordidas de melgas, ora acordava com torcicolos. Nesta chegada à praia (e apesar de andarmos praticamente sempre as 3 juntas) íamos um bocadinho separadas, uma mais à frente e outra mais atrás. Quando eu e a C. descemos o acesso à praia e alcançamos o areal, esperamos pela J. que tardava a chegar. De repente a J. aparece com o joelho ensanguentado e apenas diz "Caí". A nossa reação foi um misto de riso com preocupação. A situação ainda hoje me faz rir porque de facto a J. é aquela amiga com pouca agilidade física e um pouco medrosa. Aliás, é mais medrosa que outra coisa mas é aquele clássico em que o medo a torna desengonçada. Por esse motivo (e por não ser nada mais de grave) e também pela concidência de eu e a C. irmos ligeiramente mais à frente e super distraídas com a praia tal que nem ouvimos a J. a cair, tem uma piada do caraças e torna este um dos episódios memoráveis desta aventura.

Da praia da Mareta fomos para Burgau. Burgau já estava nos meus planos no ano passado, porém, não houve oportunidade. Desta vez, dava perfeitamente e foi uma aposta ganha. A localidade é simpática e pequenina. Vive basicamente do turismo, pelo que entendemos (só ouvíamos ingleses). A Praia de Burgau foi das melhores que encontramos (talvez a melhor até). Estava aquele calor abrasador e foi a primeira vez que encontramos a água a uma temperatura razoável, portanto fomos todas ao banho. O areal era pequenino e também não tínhamos muito tempo, pelo que, foi até as ondas chegarem às nossas toalhas. Depois bazamos e fomos até ao miradouro perto do Forte de Burgau para assim podermos ver a vilazinha, a praia e toda a moldura paisagística.

De seguida, avançamos pela costa algarvia e fizemos uma visita à Ponta da Piedade. Porém, creio que vimos o lado errado porque não vimos nada aquelas paisagens dos postais. Pelo que entendo, toda aquela zona dá para explorar pelos caminhos pedestres e sinalizados. Numa próxima vez, é sem dúvida algo que quero fazer. O ano passado fiz o Percurso dos Sete Vales Suspensos que fica noutra zona do Algarve. Nesta zona em redor de Lagos, vi que também há percursos e há paisagens incríveis pelo que fica o apontamento para uma visita futura. Aqui tive um dos meus estacionamentos potencialmente mais complicados (mas safei-me bem), porém, à saída tive das situações mais complicadas tal era o trânsito naquela ruazita. Tive que descer da AC, analisar a situação, falar com todos, pedir paciência e deslocar-me para que o trânsito voltasse a fluir. Meio que eu estava entupir, mas não concordo. Tudo ali estava fora do sítio. Os carros todos estacionados nas laterais, claramente, não deveriam estar ali, o comboio turístico também não devia estar ali e as ACs são veículos grandes e largos que também não deviam estar naquelas situações. O que vale é que acabou tudo bem e não houve incidentes.

Quinta paragem (foi um longo dia) foi no parque de estacionamento da Praia do Submarino, entre Alvor e Portimão. Estas são as praias mais bonitas que já vi e conheci-as o ano passado nas minhas explorações a solo. Gostava muito de as ter mostrado à C. e à J. mas não foi possível porque a maré estava cheia e então não havia nada para mostrar (também desconfiava que a J. nunca descesse o acesso àquelas praias porque são super complicados). Fiquei com pena. Por não ser possível, caminhamos até à praia do lado que é a Praia do Alemão. Já chegamos tardito mas ainda fomos à água numa espécie de aposta que envolvia um mergulho em troca de uma bola de berlim. Depois fiquei ainda mais triste quando percebi que já não havia bolas de berlim e a pessoa que estava "a vender" meio que gozou comigo e ainda por cima era um gajo com praí 20's ou 30's, um ar jovem e desalinhado, mas que literalmente gozou comigo e não gostei. Foi assim um ponto down da semana porque o dia também ia longo, tinha dormido mal e depois acumula tudo. Mas passou rápido. Fizemos a caminhada de regresso para a AC, liguei para a minha mãe a contar as novidades e fomos para Portimão onde estacionámos a AC. No caminho, fizemos a primeira descarga de águas sujas numa sarjeta. Não é nada de mal mas foi a primeira vez que não foi um "sítio próprio" (apesar de ser o mais aconselhado na falta de parques com serviços de descarga), portanto, estávamos com aquele nervosinho. Estacionamos junto de outras ACs no parque de estacionamento perto da Praia da Rocha, fomos jantar ao centro, demos longas caminhadas, bebemos uma sangria que estava minada muito provavemente, e fiquei com pena de não "sairmos à noite" na medida do possível tendo em conta normas covid mas a C. estava cansada e sem espírito para tal. Desabafamos dos nossos problemas, sobretudo a C. e isso é algo que nos aproxima sempre muito. Depois chegamos à AC e a J. teve a feliz ideia de fazer chá apesar de estar um calor daqueles que se torna desagradável. É daquelas coisas à J. que só dá para rir. Questionei os vizinhos acerca da pernoita, se haveria problemas, etc e disseram que não. Como estavam lá tantas, decidimos pernoitar e dormimos bem, sem qualquer problema.

18 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #4

Inês

O quarto dia começou no parque de São Teotónio. Tomamos o pequeno-almoço, tratamos das águas, lavamos toda a loiça que tínhamos e seguimos viagem para a Praia da Amália que era pertíssimo. Se a de Almograve já me tinha ficado como uma das preferidas, a da Amália ultrapassou facilmente. Fazer aquele percurso selvagem até à praia só dá mais encanto. E a praia em si é belíssima. E ainda vimos uma pequena cascata num dos cantinhos da praia. Daquelas coisas mesmo bonitas para as quais não há palavras suficientes. Nas horas que passei nesta praia, pensei sobre o fascinante que é a praia manter-se praticamente igual por décadas e décadas, séculos talvez. As ondas batem da mesma forma como sempre bateram (agora trazem mais lixo, é certo, mas ainda assim temos a sorte de nesta zona do país encontrarmos águas transparentes). As rochas, com maior ou menor erosão, mantém-se como a fortaleza do areal. Provavelmente o que mais mudou ao longo dos tempos é o caminho que se faz para alcançar o areal que a vegetação foi alterando e o Homem também. À parte disso, a praia que a Amália via era a mesma que eu vi. E antes da Amália, terão havido tantos outros que viam exatamente a mesma praia, com as mesmas cores, o mesmo som do mar, a mesma moldura nas paisagens, o mesmo horizonte. Isso para mim é fascinante.

Da Praia da Amália, fomos para a de Odeceixe e, de seguida, para a da Bordeira. Foi um dia comprido, com muita estrada e muitas paragens. Tínhamos que avançar no mapa para conseguir chegar ao destino final e regressar em tempo útil. Entendo que não é a forma ideal de viajar, com pressa, porém perante tempo limitado, é preciso tomar decisões e portanto escolhemos ter um par de dias mais agitados e pesados e outros mais calmos. Eu já conhecia a Praia de Odeceixe e também a vila. Desta vez, só estivemos na praia que continuava com água pouco convidativa portanto passamos pouco tempo aqui. A Praia da Bordeira foi um encanto, apesar de não ter feito propriamente grande praia. Ainda me molhei um pouco na água de uma lagoa que se forma lá num lado específico da praia mas depois fui para a toalha e adormeci um bocadito ao sol. Esta praia é super interessante. O areal é enorme e composto por várias e grandes dunas que fazem com que nem se consiga ver a praia no seu todo. Caminhamos desde a entrada, junto do parque de estacionamento, até ao miradouro da praia e aí conseguimos ver a extensão do mar e quase todo o areal. Engraçado porque até tem um pequeno bar de praia no meio do areal. De facto, a praia é tão grande que cansa muito ter que ir de um ponto ao outro.

De seguida, fomos para Sagres onde por uma questão de minutitos apanhamos o pôr-de-sol na ponta de Sagres. Foi incrível e deu algumas das melhores fotos desta viagem.

Para pernoitar, escolhemos o Intermarché de Sagres que tem um espaço reservado a ACs. Esta foi das piores noites que tive. O sítio era colado à zona de descargas pelo que houve imenso barulho madrugada dentro. Ora eram camiões a chegar ora pessoal aos berros. Acordei imensas vezes com a impressão que estavam a gritar mesmo ao lado da carrinha (e de certa forma, estavam). Já tínhamos dormido no Intermarché de Sines e isto não tinha acontecido. Além disso, o sítio não era bonito e nem aproveitamos para trocar as águas. E só tínhamos um vizinho. Claramente, foi um local mal escolhido. Fica a experiência.

17 de Agosto, 2021

Ansiedade, quê?

Inês

Fazendo uma pausa nos posts de relato da aventura em autocaravana, tenho algo a dizer acerca do regresso e, mais especificamente, do dia de hoje. Regressei no sábado à noite e portanto ontem (domingo) foi dia de dormir na minha cama, arrumar as tralhas, fazer limpezas e lembrar-me de que ainda tenho mais 7 dias sem pôr os pés na empresa. A perceção que tenho (e os que me rodeiam e que acompanharam mais de perto a última semana) é que de facto parece que passou bastante mais tempo mas a verdade é que foi só uma semana. Os dias eram grandes e serviam para muita coisa. Ontem e hoje vejo-me em casa com 7 dias livres pela frente, sem plano, e começo a stressar. A cabeça entra a mil a pensar para onde é que eu posso ir. Tenho ali a mochila, posso comprar bilhetes de autocarro e posso ir para outro sítio qualquer viver. Viver como quem diz aproveitar a vida e as férias. Porque para ficar em casa, bastam os fins-de-semana e estando a minha Fofinha estável de saúde (fiz questão de vir checar com os meus próprios olhos), não há motivo para eu ficar. Não consigo lidar com essa estagnação. Nunca consegui desde que sou gente com vontade e liberdade. Estava e estou com o espírito em baixo porque vir de uma semana tão high e parar é uma diferença tão subita que me deita bastante para baixo. Se eu voltasse e fosse logo trabalhar, estava ok porque havia propósito e o meu tempo tinha utilidade. Assim, sinto simplesmente que o estou a desperdiçar, ainda por cima, dias de férias que são tão escassos. Dias de descanso em casa não são para mim. Só me stressam mais. Os fins-de-semana bastam-me para isso.

Depois no decorrer da tarde (e com o cérebro mais acelarado do que devia) tenho a estúpida ideia de enviar mensagem ao L. porque curtia bué estar com ele e já não o vejo há mês e meio. Erro fatal porque ele diz que só quer café e depois deixa de responder. Vê e deixa de responder!! Entrei em stress e detestei porque eu não me costumo sentir assim. Comecei a verificar o telemóvel de minuto a minuto à espera da notificação que nunca mais apareceu. Fiquei ainda mais acelarada e nervosa. Senti que precisava de acalmar e fui ouvir a minha música. Não foi suficiente. Precisava de exteriorizar. Isto aconteceu mesmo a tempo do jump que eu não tinha reservado mas liguei para a Prof e ela disse para eu aparecer. Fui e apesar de estar constantemente a olhar para o telemóvel, dei tudo no jump, não me doeu nada e adorei voltar à prática (já lá iam duas semanas). Senti que era mesmo essencial para canalizar toda a tensão que eu estava a sentir. Ajudou-me muito e fico satisfeita por entender que consegui identificar em mim um comportamento que não estava normal e atuei sobre ele. Continuo ligeiramente ansiosa por ainda não ter tido a resposta que procuro (e até aposto que vai ser mais uma vez daquelas em que ele entra numa introspeção do caraças e diz que tem que se afastar de gente no geral, ou isso ou arranjou uma girl e já não quer estar comigo - sei que não devia mas prefiro a primeira opção). Conheço o L. e já esperava que isto acontecesse mais tarde ou mais cedo mas o que me lixa é o ghosting, o deixar conversas a meio. Já no início do ano ficou três meses sem me falar porque precisava de tempo para se encontrar (complicado o rapaz...) e isso não me afetou. Mas hoje o embate foi diferente. Sobretudo (creio eu) porque de facto já estava meio desalinhada com esta mudança de ares. Estivesse eu numa semana de trabalho normal e isto caía de forma diferente. Agora assim e tão mal explicado, fico lixada. Mas bem, também não me vou prender a aguardar resposta de Vossa Excelência. Espero amanhã acordar mais leve e talvez na quarta ou quinta faça a mochila novamente nem que seja para ir ali e vir. Sei que essa é sempre uma alternativa segura, por muito irónico que isso pareça.

17 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #3

Inês

O terceiro dia foi dos mais porreiros. Acordamos em Sines e rumamos em direção a Vila Nova de Mil Fontes. Nunca lá tinha ido pelo que era novidade também para mim.

Vila Nova de Mil Fontes (curiosamente chamada a terra das três mentiras porque não (era) Vila, não é Nova e não tem Mil Fontes) é uma vila bonita, agitada e cheia de gente. Pelo que nos apercebemos (no final, em comparação com o resto das vilas daquela zona), é provavelmente a maior. Porto Covo é mais familiar, pequeno e calmo assim como Odeceixe. Mil Fontes tem comércio, turismo e noite. As paisagens são encantadoras assim como as ruazinhas que nos guiam até aos miradouros e às praias. Gostamos muito. Vimos também as marcas deixadas pelos jovens que vandalizaram a Vila no início do verão. Ouvimos as notícias e agora vimos com os próprios olhos o resultado.

Almoçamos em Mil Fontes no restaurante do Parque de Campismo e dirigimo-nos para a AC para assim seguir para o próximo destino. Neste momento aconteceu a coincidência mais espetacular e inexplicável de toda a viagem e, arrisco-me a dizer, de todo o ano para mim. Ora bem, tudo começa quando eu e o R. começamos a trocar mensagens pois ambos estávamos de férias e no mesmo percurso. Curiosamente e sem combinar, saímos em dias seguidos e começamos ambos mais ou menos no mesmo ponto. Eu ia vendo pelas fotos que ele publicava onde ele andava e vice-versa. Andávamos distantes por talvez 50 kms o que só por si já tem bastante graça. Porém, nunca sabíamos onde cada um iria estar até porque nem nós próprios o sabíamos. Não havia planos, e, por exemplo, neste terceiro dia éramos para ir a Porto Covo e decidimos no próprio dia avançar Porto Covo (e deixar para o regresso) e seguir para Mil Fontes. Neste contexto, estou a ir para a AC e vejo que a que estacionou ao meu lado é igual à dele. Já não a via há um ano mas não se esquece. Ainda dei uma volta em redor à procura de algum traço distinto mas concluí que era um modelo igual (olha que engraçado, pensei eu) e tirei uma foto para lhe enviar. A conversa que se seguiu está nas imagens em baixo. De forma totalmente incrível, a AC era mesmo a dele e estacionou mesmo ao lado da minha. Ele não sabia qual era a minha, não sabia sequer que naquele par de horas eu iria estar naquela zona e iria estacionar naquele parque. Uma coincidência do caraças que me explodiu o cérebro de tão inacreditável que me pareceu. Mas bem, avançando no roteiro, saímos de Mil Fontes e fomos à Praia de Almograve. Gostei muito desta praia apesar de ainda não ter conseguido entrar na água de tão fria que estava. Ainda assim, molhei-me quase toda e apanhámos sol. No final do dia, saímos, fomos para a AC que estava estacionada na vila, tomamos banho ainda para aproveitar a luminusidade do dia e ficamos sem água. Aqui decidimos que teríamos que ir para um parque para fazer a manutenção das águas. Encontramos um em São Teotónio que nos recebeu já passava das 21h. Apesar de estar "lotado", há sempre espaço para mais uma e portanto lá se reestacionaram umas ACs para a nossa caber. Finalmente tivemos eletricidade e pudemos carregar todos os telemóveis e powerbanks. Estávamos mesmo nas lonas e a precisar de abastecer. Nesta noite jantamos massa com camarões e fiz uma videochamada com o meu pai e o meu irmão para lhe mostrarmos o casarão. Foi uma conversa divertida e que me deu muito gosto. Foi a primeira noite num parque. Dormi muito bem, sem qualquer preocupação.

 

16 de Agosto, 2021

9 dias de autocaravana de Lisboa a Portimão #2

Inês

O segundo dia começou com na praia da Comporta. Estava ventoso e pouco convidativo a abancar, portanto, a visita foi rápida. Seguimos para sul e paramos em São Torpes onde almoçamos no bar da praia e fizemos praia. E que boa praia! A água estava demasiado fria para mim, portanto, só apanhei sol mas para a C. estava boa o suficiente e portanto foi bonito ver ela a aproveitar dentro de água.

Conheci a C., juntamente com a J., nas primeiras semanas de universidade. Foi e é daquelas amizades que nasceu na praxe e ficou para a vida. Já lá vão sete anos. Vivíamos em residências, todas em blocos diferentes mas é como se vivêssemos todas juntas. Apenas os quartos eram distintos, tudo o resto era partilhado e até muitas vezes dormimos juntas só porque sim. Fomos de Erasmus e aí até partilhamos o quarto. Entretanto, mudamos de Universidade para fazer o mestrado e separamo-nos nos cursos. Cada uma começou a trabalhar no seu sítio e deixamos de viver juntas, nem sequer na mesma cidade. Apesar de tudo isso, contínuamos a ser as best friends umas das outras. A ligação não cai nem esmorece. Só evolui. Ter a amizade da C. e da J. é das maiores sortes que tenho e é algo de que me orgulho imenso (até porque já perdi algumas amizades que não resistiram ao passar do tempo). Temos muita paciência umas para as outras, nunca nos chateámos, raramente discutimos, às vezes podemos mandar uma boca ou outra mas a nossa amizade é sedimentada na base do riso, das piadas, da partilha de experiências e de momentos. Na universidade partilhámos os estudos sem fim, as refeições todas, as viagens de comboio, as bebedeiras, as praxes, as conversas sem nexo, as danças, as caminhadas... Tanta coisa! Com o avançar do tempo, as coisas vão mudando. Agora já não são estudos nem noitadas mas sim jantares, conversas, copos de vinho e dilemas. Acho que uma das coisas que nos liga é o contexto familiar do qual cada uma de nós vem. Nenhum contexto é fácil e conforme o tempo vai passando o top de "pior" situação familiar para resolver vai alternando. Ouvimo-nos, respeitamo-nos, desabafamos e creio sermos a distração e o entretenimento certo para cada uma de nós poder estar mais leve. Pelo menos, eu sei que elas o são para mim e estes dias também foram a prova disso. E vi que elas também estiveram bem e aproveitaram. A J. mais que a C. A C. tem ali grandes questões para resolver, não conseguiu descolar totalmente dos problemas que lhe enchem a cabeça. É difícil e há momentos em que não há muito a dizer. Sinto até que a C. este ano teve mais pressa em marcar estas férias para evitar que, mais tarde, algo acontecesse que a fizesse desistir dos planos. Ou a pressão do trabalho ou outra coisa qualquer que se sobrepusesse à vontade de tirar uma semana connosco e/ou uma semana de qualquer tipo de férias (se não estivesse algo efetivamente marcado e pago).

Após São Torpes, fomos até ao Intermarché de Sines onde pudemos trocar as águas da AC e fazer compras. A J. cozinhou bacalhau à brás e vimos vídeos no Youtube, sentimo-nos em casa. Pernoitámos lá, juntamente com praí outras quinze ou vinte ACs. À parte do barulho dos equipamentos, foi uma noite bem dormida.

 

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