Fico doente, cansada, frustrada, desesperada, triste.
A minha mãe foi passar mais uns dias a Lisboa e voltou ontem. Andávamos meio desalinhadas (outra vez) mas nada de grave. Eu tinha que lhe dizer que quero ir passar mais um fim-de-semana fora e ela tem que me pedir mais dinheiro. São meios de mediação de relações dúbios estes mas que resultam até um certo ponto (no sentido de evitar discussões). Ontem tínhamos combinado ir à festa da terrinha porque ela queria muito ir ver. Chegamos a casa do comboio e veio logo "estou muito cansada, tenho os pés muito inchados, não vou, vai tu e traz-me o jantar". Respirei fundo porque me apeteceu logo explodir. Respirei, virei costas e preparei-me para sair. Ia sair e os meus ombros caíram de desanimo porque nada disto faz sentido. Aquela nuvem cinzenta voltou. Eu podia fazer muita coisa (talvez soe a egoísmo mas já perdi as noções todas), tinha planos e coisas para fazer ontem depois do trabalho. Desmarquei para a ir buscar à estação e irmos jantar fora como ela queria. Deixou de querer e fico eu pendurada com uma mãe que chegou e se estendeu logo na cama. Saí e troquei os meus planos. Fui ao shopping comprar o que me fazia falta. Cheguei a casa. A mãe já tinha tomado a medicação de dormir e deambulava pela casa, um cigarro atrás de outro, com o telemóvel em altifalante a falar com uma tia em conversas deprimentes não fosse já meia-noite e a mãe já não estar bem lá. Comecei a entrar em ebulição. O coração a bater mais forte e mais alto. Disse-lhe para desligar, para se deitar e ir dormir. "vou só fumar mais um cigarro". "não, vais-te deitar e vais dormir, vou fechar a persiana; há regras". Deitou-se contrariada e começou a chorar. Adormeceu a chorar. Naquele momento, imagino que pense que é um vítima, que ninguém confia nela, que não pode fazer o que quer, que é um estorvo, que a trato mal. Hoje de manhã dormia tranquilamente. À hora de almoço vou a casa e não se passa nada, a mãe está bem. Não aguento esconder e digo-lhe o que sinto. Que não é justo estarmos constantemente a passar pelos mesmos erros, mesma situações, que eu não fico bem em ver a minha mãe adormecer a chorar, que há regras básicas a cumprir e a mais elementar é tomar a medicação e ir dormir. Ela não se lembra de nada da noite anterior e pede-me desculpa. Fica calada, não há muito a acrescentar. Voltou a falhar e a mãe é ela. Não sei se alguma vez vamos sair deste ciclo. Já achei mais que sim, agora volto a achar que não.