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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

30 de Outubro, 2022

Não é TPM. É TDPM.

Inês

Depois de mais um ciclo menstrual desastroso a nível de hormonas e estado depressivo (o último post retrata bem isso e o antes desse também) procurei mais informação e encontrei o nível seguinte da TPM. O Transtorno Disfórico Pré-Menstrual. Não sabia que existia mas rapidamente o entendi bem. Claro que não posso autodiagnosticar-me mas ao ler a informação disponível online, identifiquei-me com imensa coisa. E reparo que os textos deste blog também o deixam transparecer. Naqueles dias cinzentos, sinto-me a maior merda do mundo. Não sinto prazer nem felicidade ainda que possa ter os maiores motivos para estar bem. Exemplo disso foi o nascimento do Francisco. Era o que mais queria e quando aconteceu, senti zero. Pior, tive crises de choro até na porta do hospital como se em vez de um nascimento, estivesse lá por outros motivos. Para mim foi o alerta maior. Nos dias seguintes, a mudança em mim foi notória. A verdadeira Inês sentiu coisa bonitas pelo bebé, pelas fotos que recebia e partilhou-as com os colegas de trabalho com um sorriso na cara. O período foi embora (depois de oito fucking dias) e eu voltei a mim. A disposição mudou assim da noite para o dia. Voltei a estar bem só porque sim. A cantar no carro, a meter-me com os meus colegas de trabalho e a sorrir para eles. Voltei a ter gosto de falar com a minha mãe e pensar no dinheiro todo que tem voado já não me incomoda tanto. Penso no R. e já não penso da perspectiva da volatilidade da nossa relação, mas sim na sorte que é viver esta aventura com ele. E na verdade nem penso muito. Quase nada. Os pensamentos negativos não ocupam lugar quando estou bem. Voltei a sentir-me tranquila.

Agarrei no telemóvel, procurei a dermatologista mais perto com acordo com o cartão continente e finalmente fui desejosa que me solucionasse as manchas na cara. E sim, já quase não tenho manchas depois de 120€ gastos em consulta e cremes. Agora tenho cremes de marca como as mulheres adultas, portanto, continuamos a evoluir! O cabelo já me assenta melhor apesar de continuar com pêlos incómodos na cara e que ainda não consegui resolver. Porém, já só me dá para virar costas ao espelho e continuar o dia. Estou a conseguir controlar melhor o chocolate e já só tenho comido uma ou duas vezes por semana o que é bastante bom. As conversas das minhas colegas continuam chatas e irritantes mas já levo de forma mais leve e não fervo por dentro.

Voltei a instalar o Tinder porque tive uma epifania antes de adormecer um dia desta semana. Pensei que uma das coisas novas que fiz nestes últimos meses foi encontrar-me com aquele rapaz estúpido que só conhecia da net e cujo "date" foi péssimo. Mas efetivamente se há algo que posso tirar dessa situação é saber que consigo encontrar-me com pessoas da net. Ele foi o primeiro. Posso conhecer mais pessoas. E se há sítio para conhecer pessoas é no Tinder. E também quando me aventurei por lá há uns meses atrás estava a fazê-lo por todas as razões erradas. Agora sinto-me melhor e que há razões mais certas para estar lá. E apesar de ter o R. que acaba por me preencher vários espaços vazios da vida e do coração e, por isso, sentir que não preciso de conhecer ninguém, também tenho que me lembrar que eu e o R. nunca seremos mais do que isto e há que semear outras relações. Gostaria muito de conhecer pessoas na vida real e não ter que recorrer a apps mas há momentos (e sobretudo passado três anos de ter um total de zero resultados) em que fuck it, bora lá ver o que as apps nos oferecem. É tentar e ver se as coisas fluem.
E é precisamente por todas estas razões que acho que tenho mesmo o tal TDPM. A mudança de espírito e humor são radicais de um dia para o outro. E eu, que os sinto a 200%, noto essa diferença de forma clara. Agora é fazer registos, controlar datas e ir à ginecologista apresentar o problema e ver se consigo obter uma solução. Reintroduzir a pílula pode ser uma forma porque a pílula regula hormonas mas lembro-me perfeitamente que quando a tomava e me esquecia um dia, passado dois dias ficava exatamente assim totalmente depressiva. Foi exatamente por esse motivo que deixei de a tomar. Agora passado anos, volto ao mesmo problema. Claramente sou bastante sensível a mudanças hormonais (como é que eu sobreviveria a uma gravidez? - depressão era certinho, não dá para fugir dos genes) e não sei bem como é que isso se resolve. Também quero começar a fazer psicoterapia e já marquei com uma aqui da zona. Não sei bem o que preciso mas há dias em que sinto precisar mesmo de muita coisa. A minha mãe teve a primeira depressão aos 27 anos e eu tenho 26. Eu sei, estou a ligar coisas que não preciso de ligar mas são evidências que não posso ignorar. Eu não sei como começaram as más experiências da mãe e de mês para mês tenho sentido coisas negativas cada vez mais fortes. Depressão ciclíca é depressão. É ir lá à fossa e voltar. E tenho muito medo de um dia ir lá e não saber sair. E se há coisa que sei é que não quero viver daquela forma. Tenho informação, tenho dinheiro, ainda tenho saúde, vou tentar mantê-la. E chega a um ponto em que efetivamente temos que assumir que sozinhos não conseguimos tudo. E esse é o que caminho que eu estou a tentar percorrer.

22 de Outubro, 2022

Life Planner e um texto que se descontrolou

Inês

Vi um storie no Instagram de um casal conhecido e a sua Wedding Planner. Uma pessoa que lhes vai explicar, mostrar opções e concretizar tudo o que envolve essa coisa que é o casamento. Eu queria uma pessoa igual mas para a minha vida neste momento. Alguém que chegasse à minha beira e me arranjasse a cara e ficasse mesmo bem sem eu ter que decidir o que é bem. Que me dissesse quais os cremes que tenho que usar para estas manchas vermelhas teimosas desaparecerem. E quais os produtos indicados para o cabelo porque está uma miséria e detesto sempre que me olho ao espelho. Que me dissesse se ando a comer amêndoas a mais ou pão a mais e qual é o pão afinal que faz bem. Que me dê uma solução para as putas das minhas olheiras que não desaparecem mesmo a dormir sete horas há meses. Que me dê uma solução para a tensão nos ombros e para os tremores na cara (porque agora não é só na pálpebra, vai até ao musculo das bochechas). Que me prepare as refeições para eu ter uma alimentação de jeito porque à mãe nunca apetece cozinhar. E que vá ao mercado comprar as minhas coisinhas para o dia-a-dia porque a mãe estourou o dinheiro todo do meu cartão e eu continuo com o frigorífico vazio e ainda não acabou o mês. Que me ajude a organizar o trabalho porque pela primeira vez em anos consegui ter a caixa do Outlook a zeros (yey) mas depois o chef deu-me uma tarefa nova e tenho que descobrir um monte de conceitos novos e há merdas que não me entram mesmo na cabeça e sinto-me burra do início ao fim. E que acabem os estúpidos horários das 9h às 18h do escritório. Estou tão farta de ter um horário (eu sei, há coisas mt piores). As conversas de toda a gente são sempre as mesmas e irritam-me solenemente a níveis de me sentir a ferver por dentro.

E a minha mãe, a minha mãe, a minha mãe... A luz ao fundo do túnel continua a apagar-se e os gastos em vão acumulam-se. A conta não sobe há meses e todos falam que o próximo ano vai ser muito pior. Não consigo evitar chatear-me com a mãe porque me sinto sozinha nesta batalha de levar a vida de ambas para a frente. Mãe, o tratamento da acupuntura para deixar de fumar está a resultar? Filha deixa-me, não sabes o que é ter um vício. Mãe, podes ir buscar iogurtes? Só chego a casa às dez, não consigo ir eu. Não tenho dinheiro, transfere. Mãe, há jantar? Não me apetece, não tenho força nas pernas. Mãe, levanta-te, não podes ter passar os dias na cama. Inês, não imaginas como me sinto! Mãe, temos que nos sentar e fazer contas. Inês, não sejas egoísta, achas que não sei gerir o dinheiro? Mãe, temos que falar sobre assuntos sérios. Não é o dia. Nunca é o dia. Inês, tem calma, tem paciência, tu não sabes o que a tua mãe já sofreu, não podes exigir, não estás a ser compreensiva. Então qual é o meu papel? Podemos admitir já que a minha mae nunca vai ficar bem e vai sempre pior? Podemos parar de tentar? Estou muito cansada de tentar.

E o R. Gosto tanto dele. Quero-o tanto, todos os dias, todas as noites. E ele longe. Volto para casa, para uma cama vazia e isso é o que custa mais. Esse vazio, essa falta de afeto. Desejo mais e a impossibilidade de partilhar uma vida com ele cresce e deixa-me triste, frustrada. Entro na espiral catastrófica de que nunca vou encontrar ninguém com quem partilhar a vida.

E de repente sinto-me numb. Hoje deve o ser o dia mais feliz do ano porque o meu sobrinho nasceu. Quando soube, há meses atrás, senti uma felicidade imensa. Até me lembro de gritar na rua ao ouvir o meu irmão. Ontem o dia deles foi todo no hospital. O parto foi demorado e eu não senti nada. Procurei saber pouco (também sei que não gostam de muito atenção e preferem viver este momento a dois) mas eu não senti nada. Hoje acordo com a mensagem e a foto. E sinto nada. Estou avariada. Estou crashada. Estou buggada, como diz a minha irmã. E então penso é agora, tenho que ir ao psicólogo. Está toda a gente avariada à minha volta e os genes não estão a meu favor. Devia tratar antes que um dia seja demasiado tarde. E olho para a conta e o dinheiro, sabe-se lá como, só desaparece. E então acho que não devo meter-me noutra agora. E continua tudo confuso. Escrevo papéis, textos, listas, faço contas. Meto cá para fora a ver se fica mais vazio dentro. Não fica. Sinto tanto barulho à volta. Tenho procurado mais o silêncio. No carro, em casa, no trabalho. Desligo a música mais vezes. Procuro mais o silêncio. Sinto tanto barulho à volta. É tanta complexidade. Tantas coisas em que pensar. E depois sinto-me numb ao mesmo tempo. Não sinto nada. E quando sinto, choro.

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02 de Outubro, 2022

I blame it on the fucking hormones. Those sweet bastards

Inês

Tive uma semana de merda. Semana de período e em vez de ter TPM (pré-menstrual), tive TM (se é que existe). Uma neura de 5 dias que não descolava. Passei os dias a arrastar-me no trabalho, a sentir-me uma nulidade, que o trabalho não avançava e eu só puxava para trás. Tenho um trabalho fixe, com tarefas diversas e a energia sempre a bater lá em baixo. Estou lá sentada na cadeira da secretária e só penso no que vou fazer quando chegar as 18h e quando chegar o fim-de-semana. A cabeça nunca está no momento presente, está sempre a desejar estar noutro sítio ou noutro momento temporal. A meditação não tem ajudado apesar de eu a manter como um hábito diário e matinal. Aliás, sinto mesmo que estou pior porque não me consigo concentrar no próprio momento da meditação. Os pensamentos fogem constantemente. Apesar disto, acaba a semana e reparei que não roí nenhuma unha (mesmo sem pintar), portanto, vai-se lá perceber este sistema nervoso (porque continuo a tomar três ampolas de magnésio por dia e também a ter espasmos musculares na cara; o magnésio não parece estar a funcionar). Depois ando a sentir-me uma merda em termos estéticos. Olho-me ao espelho e sinto-me feia. A cara em obras, cheia de borbulhas e espinhas, pêlos a saltar em todo o lado, manchas vermelhas a aparecer (sabe-se lá porquê) e o cabelo já sem corte a emoldurar terrivelmente a minha cara que já por si não está grande coisa. Ok, tenho que beber mais água e comer menos chocolate. Andei a beber cerca de 2 litros de água por dia e esta semana não comi um único quadrado de chocolate (hell yeah!) e nem custou assim tanto porque, lá está, andei mesmo numb e também não tinha chocolate em casa. Mesmo assim, marquei com a esteticista, pela primeira vez na vida, um tratamento de rosto e fui também à cabeleireira. Sábado de manhã passado lá no salão (que senhora que eu estou). Venho para casa e continuo com manchas na cara e com pêlos que me incomodam. Eu sei que ela não ia fazer magia mas podia ter notado mais a diferença, sei lá. O cabelo não ficou como eu idealizava. Está sem as pontas estragadas mas não está bem escalado, continua a pesar em baixo. A minha mãe fazia melhor em casa. Enfim. 20€ para isto e sequei ao natural. Não consigo evitar sentir-me roubada. De repende, sinto que não sei nada sobre a vida. Pesquiso sobre rotinas de skin care e cuidados com cabelo. Depois acho que é tanta coisa e tantos detalhes que é demais para mim. Uma pessoa já tem que se preocupar com tanto e ainda tem que ver o PH do shampoo? Fds. Não sirvo para isto. Mas vou tentar porque continuo a sentir-me uma merda e deve ser isto que as outras pessoas fazem.

Depois iniciei esta semana uma formação de espanhol que já esperava há muito tempo e apesar de só ter tido duas aulas, estou a gostar. Ocupa-me o tempo, dá-me skills e é uma via para conhecer pessoas (mas já vi que não há grandes possibilidades, só um rapaz giro que deve ser da minha geração mas ainda não houve grande interação). O mês de outubro deve passar a voar entre trabalho, espanhol, ginásio e arrumar a casa, não deve sobrar muito tempo para viver e pensar. E ter saudades.

Porém, nada é suficiente. E há duas semanas o DC enviou-me mensagem. Já não trocávamos correspondência desde meio de agosto e eu quase que apostava que ele já era oficial com a outra. Mandou mensagem e fiquei logo em ansiedades. Passei um dia assim porque o estúpido demora a responder (há coisas que nunca mudam e que diferença enorme quando tenho um R. na minha vida!). Depois lá falamos ao telefone, duas horas seguidas. Ambos queríamos conversar, deu para notar. A vida dele está mais ou menos igual. Não é oficial, ou seja, continua no mesmo ram-ram de quando também se encontrava comigo. Não é que perceba muito bem porque ele queria uma relação e aquelas merdas todas tradicionais e vai-se a ver e depois não concretiza quando, supostamente, tem essa possibilidade à frente. É de valores e tal mas, na realidade, não vejo nada. "Andamo-nos só a ver". Lol. Eu sei que sou impaciente e apressada na vida mas, fonix, há pessoas que parece que nem têm vontade de andar com as coisas para a frente. Que não se tenha pressa mas que não se perca tempo, não é verdade? Então, pronto. Falei com ele e as ansiedades acabaram quando ele me disse que "estava" com ela. Apesar de ser menos sério que o que eu pensava, esta informação descansou-me porque fiquei ansiosa por pensar que ele já não estava com ela e teria outras intenções sobre mim. Aí ia ficar num dilema NOVAMENTE, portanto, melhor assim. Então, voltei a meter-me em trabalhos e, tendo em conta a semana de merda que tive (cof cof), mandei-lhe mensagem a perguntar se estaria dtf. Estava 90% segura que me diria que não pois agora tem a outra mas eis que disse que SIM! Ahahahahahha nem sei o que pensar sobre estas merdas. Fiquei contente porque tenho muita vontade e o R. está longe e sei que passarei um bom bocado com o DC mas fonix. Tanto bla, bla, bla e diz-me que sim? That's a surprise. Por um lado, sinto uma pontinha de "culpa" por desencaminhar mas who cares, really? As pessoas são responsáveis pelas suas decisões e a minha abordagem começou logo por já esperar a negativa e deixar isso logo em cima da mesa. I mean we still friends. And that has to bring some benefits.

01 de Outubro, 2022

Is it a love story? #2

Inês

Entro em mais um autocarro, o 53, que encolhe os 300 kms que nos separam. Vou passar mais um fim-de-semana contigo. Repito o processo de há 2 semanas. A vida tem sido fixe para nós. Penso brevemente sobre que tipo de futuro é que isto tem. Chego à conclusão que esta é o melhor formato de relação possível. Todas as outras se esgotam em cenários negativos. Porém, não consigo evitar pensar que quero aquela relação estável que outros têm e parece dar tanto sentido às suas vidas. A coisa que sinto mais falta é ter alguém com quem adormecer à noite. O carinho, os afetos, o cuddling.

Viver este romance clandestino dá-me vida, por si só. Dás-me muito mais atenção que alguém alguma vez me deu. Saio de casa quase todos os dias com os teus Bons Dias e quase que telepaticamente temos a última conversa ali pelas 22h antes de ires dormir. E é engraçado porque o nosso sistema é tu mandares mensagem e conversamos a partir daí. E eu nem fico ansiosa nem stressada à espera porque, lá está, é telepático. Quando penso que são horas de mandares algo, lá vem a notificação no telemóvel e estampam-se um sorriso na minha cara. Não há ansiedades nem expectativas incumpridas. E eu que estou sempre à espera daquilo que vai falhar ou não ser tão bom, continuo à espera. Não podia pedir mais. Não que eu precise de atenção mas sabe bem. Aconchega saber que somos o pensamento de alguém. E depois temos tido a sorte de de quinze em quinze dias passarmos fins de semana juntos. As circunstâncias da vida ajudam e tu fazes acontecer. E é ótimo porque é passar o dia e a noite juntinhos a aproveitar o que a vida tem de melhor. Sabes sempre a férias para mim. Depois, temos a compatibilidade física e sexual que é espetacular. Uma tesão do caraças e vontade de experimentar mil e uma coisas.

O presente é ótimo e simples, de certa forma. Na realidade, basta-me a ideia de ter um amor correspondido apesar de ser socialmente impossível. Parece contraditório mas parece-me suficiente. Para quê ter amores socialmente possíveis que depois só nos esmagam a parte emocional e nos deixam infelizes? Este deixa-me feliz, mesmo. E isso, só assim, é a concretização da relação. É a love story.

Porém, não consigo evitar refletir sobre cenários possíveis. Não concebo a ideia de te separares da tua família. Não é uma possibilidade para mim. Também não é para ti portanto mais uma vez de acordo. Também sei que sempre terás as tuas aventuras assim como eu terei as minhas (e basicamente somos a aventura um do outro) porque nesse aspeto somos farinha do mesmo saco. Queremos sempre coisas diferentes apesar de até podermos ter o prato cheio. Também sei que esta paixão morreria se conhecesse outra forma. A distância aumenta o amor e a proximidade mata-o. E termos a possibilidade de de quando em vez passar dias fora ou férias juntos é uma sorte do caraças. Muitas relações não têm esta possibilidade. Nós temos. Por isso é que esta relação é o melhor de vários mundos apesar de sentir saudades e alguma insegurança às vezes. Verbalizo o meu discurso moderno e desapagado mas perco-me em cenários românticos e só me venho se em vez de sexo fizermos amor e imaginar que me dizes ao ouvido que me queres para sempre enquanto estás dentro de mim. Tenho que me relembrar que esta coisa é perfeita desta forma. E só desta forma. Que seremos um do outro para sempre, se nunca nos tivermos inteiramente nunca. Que posso ter outros, como podes ter outras, e que de alguma forma, tenho que saber que como é para mim é para ti, e os outros não significam o que tu significas. É um esforço que tenho que fazer porque as ideias enraizadas no cérebro são outras.

E depois tenho uma sensaçãozinha estúpida de sentir que estou meio à tona e tenho que me manter à tona e preencher a minha vida de outros acontecimentos para não cair num buraco. Como se tivesse que preencher o dia-a-dia de cenas para não sentir saudades nem gostar demasiado. E até acho a prática saudável se viesse de uma motivação que não fosse (talvez) a carência. Porém, todas as práticas saudáveis vêm da necessidade suprimir algum tipo de necessidade, portanto, talvez seja só normal e necessário.

01 de Outubro, 2022

Sobre viver com a depressão, sem a ter #2

Inês

Dei por mim a pensar que a única forma de ela sofrer menos, é se ela partisse antes de todos os outros. A relação que a minha mãe tem com a morte e a velhice é tão difícil que estes pensamentos atravessam a minha cabeça. Não suportará ver os outros perderam capacidades, envelhecerem, partirem. Só se enterrará em lágrimas, apatia e amargura. Uma noite atrás da outra. E enterrará os outros à sua volta. Não consigo conceber um mundo, um dia, uma vida da qual a minha mãe não faça parte. Não imagino um dia em que não possa clicar no contacto dela que está nos Favoritos e ser atendida do outro lado. Mas também não vejo uma saída possível em que ela seja feliz e já imaginei demasiadas vezes o dia em que parte triste e doente e eu fico sozinha a pensar se haveria mais alguma coisa que eu pudesse ter feito.