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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

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23 de Novembro, 2022

Fui ao psicólogo #2

Inês

Ontem fui à segunda sessão e para meu contentamento havia uma pastinha com os meus registos e ela lembrava-se do que tínhamos falado há duas semanas. Nesta hora de conversa focamos nas relações porque tive aquele episódio em que tudo pareceu que descambou com o R. Falamos sobre o facto de eu sentir que nestes momentos de "crise" volto à inês de há cinco anos o que é para mim das partes mais frustrantes. Noutra perspetiva, não volto bem a esse ponto, porque de alguma forma sou sempre uma versão melhorada do que já fui. Agora tenho consciência do que sinto, do que posso sentir e que sou capaz de também não sentir isso, e que há um caminho de volta apesar de ser um tanto ou quanto doloroso. Antes eu não sabia estas coisas, só sentia sem critério. Portanto, tenho que me lembrar que houve desenvolvimentos e não parei no tempo. Depois o que falamos muito e até é também uma nova perspetiva (que é exatamente o que procuro) é o aceitar, aceitar, aceitar. O que por um lado acho estúpido porque eu quero resolver problemas e não aceitar que tenho problemas. De um ponto de vista mais rudimentar, acho que esta estratégia de "aceitar" é só não resolver nada e, por um lado, ser o caminho mais fácil para os psicólogos. Ou talvez não e eu estou a ser demasiado linear e aceitar faz efetivamente parte dos processos. Aceitar que outra pessoa entrou na minha vida e que vai ocupar um espaço. Aceitar que é ok reajustar a minha vida e mudar planos para integrar esta pessoa e não me sentir culpada se o fizer e, além disso, que também é preciso um equilíbrio em todos estes reajustes. Que é normal eu querer muito fazer e acontecer, de procurar aquele bom dia e boa noite, de ir ver à quanto tempo esteve online e de às vezes ficar melindrada se não acontecer algo que eu esperava. Aceitar que é a vida ou os sentimentos a dizerem esta pessoa entrou na tua vida e tens que te adaptar a estas vontades. Aceitar estas vontades como uma parte do bom e do menos bom que é ter outra pessoa na nossa vida. Aceitar. Porque supostamente não estou a aceitar quando me repreendo constantemente ao achar que não devia sentir estas vontades (que eu chamava dependência e ela diz que são vontades), quando debato comigo própria por querer tanto, por me ter deixado ficar tão afetada com o desentendimento, por ter querido tanto manter a distância emocional e afinal num ápice foi do oito ao oitenta. Aceitar que é assim, que o muro caiu e não questionar tanto porquê que o muro caiu nem achar que não devia ter caído. E que o desentendimento, que foi o primeiro, ativou o alarme em mim para este impacto grande que o R. passou a ter na minha vida. Foi a demonstração da dimensão e agora sinto esta cena na maior parte dos dias em que a minha vida psssou a girar muito mais à volta dele do que antes. E era isso mesmo que eu queria resolver / eliminar. Isto não está certo nem é saudável. Mas once again, primeiro aceitar e só depois o resto.

Mas enfim, claramente ainda estou num estado muito embrionário destas sessões. Ontem senti-me bastante mais à vontade com ela e houve ali momentos mais típicos de psicólogo tipo aquelas perguntas que eles fazem para contrapôr um raciocínio ou trazer uma nova perspetiva. Mas honestamente, ali pretendo "resolver" certos problemas muito específicos e não há ainda o à vontade para expôr toda a verdade dos factos. Também tenho receio que ela, sabendo a realidade, me chame à razão para terminar a história com o R. e não quero isso portanto tomo a decisão deliberada de guardar certas partes para mim. Muitas partes na verdade. Ainda ontem, crashei um bocado durante a tarde num zig-zag mental porque no fds posso estar com ele, depois já não posso e hoje de manhã afinal ele diz que está a contar comigo. Marco e desmarco cenas no trabalho porque, lá está, de repente o meu foco é o R. e movo pequenos mundos para estar o máximo de tempo com ele. É esta complexidade que eu gostaria de não ter trazido para a relação nem para a minha vida. Mas, pior que isso, é que quando ele diz que afinal não vai dar, eu sinto logo a energia a descer e aquela tristeza a subir e aquele limbo fdd a dar mais sinais de instabilidade. E eish que recebo uma mensagem do DC (eu não tenho culpa em tudo, atenção). Pergunto-lhe se lhe posso ligar e falamos durante uns curtos dez minutos em que fico a saber que a outra acabou com ele na sexta passada. Foi dos únicos momentos em que fiquei com um tom sério e perguntei-lhe como estava. Porque estou sempre a mandar piadas, a brincar e a atiçar situações mas na realidade não lhe desejava assim tanto o insucesso da relação (talvez só um bocadinho). Terminamos a chamada com jantar marcado para amanhã e ele nem negou passar a noite em minha casa. Mais uma vez a vida a mostrar-me que nada nesta merda é linear. Ele é das pessoas que aparenta ser mais correta e depois vai-se a ver e a espinha dorsal curva-se muito (e ainda bem para mim porque com isto voltei a sentir-me naquela onda de bad bitch que é onde me sinto bem). Ou então é a vida, por algum motivo, a puxar-nos sempre um para o outro. Ou nós, com demasiado medo do mundo lá fora, a fazer-mos isto acontecer. Seja como for, sinto que são fios que me vão sendo lançados e tenho que ter sempre algum ou alguns na mão para me manter à tona. Eu pensava que sabia nadar mas secalhar não. Fica para a inês do futuro descobrir.

23 de Novembro, 2022

Fui à ginecologista

Inês

Devido ao agravamento da TPM e aos ciclos estarem um tanto ou quanto irregulares (eis que este mês fiz os 31 dias de ciclo que é um máximo em muitos anos) marquei consulta na ginecologista. A experiência, não tendo sido exatamente má, deixou-me sem vontade de voltar. Em primeiro lugar, a consulta estava marcada para as 13h e na receção informaram-me que teria de esperar um bocadinho. Não achei estranho, afinal de contas sabemos que há sempre atrasos nas consultas de saúde. Porém, esperei 1h15 para entrar. Não foi um bocadinho. Foi muito tempo e teria dado tempo para ter ido almoçar, se me tivessem avisado. Fiquei melindrada mas mantive-me calma. Lá dentro, percebi o porquê da demora. A doutora é vagarosa (apesar de apenas ter praí 40 anos). Zero sentido de urgência em cumprir horários ou ser eficiente. Eu estive em consulta 1h30. Expus os meus problemas e ela estava no WhatsApp em contacto com outros médicos acerca das questões que iam sendo levantadas. E, pior (ou melhor, não sei) fez mesmo chamadas a explicar as situações e a pedir opiniões. Acho positiva a troca de ideias entre especialistas mas fica uma sensação de insegurança ao ver aquilo tudo à nossa frente. Além disso, achei descabido quando a doutora faz perguntas do género "tem namorado?, quando foi a última vez que teve namorado, então mas teve 5 namorados?". Mais umas quantas perguntas e percebe-se que na realidade namorado era parceiro sexual e teve que voltar a perguntar tudo novamente. Achei este tipo de linguagem ridículo numa consulta de ginecologia entre uma médica que não deve ter mais de 45 anos e eu com 26. Namorado? Como se ter relações sexuais fosse só com namorados? Como se ter tido namorado indicasse obrigatoriamente que já tivesse tido relações sexuais? Se ainda fosse uma doutora de 60 anos, dava aquele desconto, agora da forma que foi, achei ridículo. Depois apercebi-me que também fui um bocado ingénua e podia ter matado logo a dúvida na primeira pergunta respondendo que não tinha namorado mas tinha parceiros sexuais. Teria sido mais profissional que ela e tinha se escusado tanta confusão. Para a próxima já sei. E mais, a médica perguntou-me qual o método contraceptivo que uso, respondi e ela disse-me que só o preservativo não chegava porque tem uma taxa de erro muito grande. What? Ela é que é médica mas achei aquilo tudo muito esquisito. No final da consulta e para resolver o meu principal problema que é a tpm, receitou-me um progestativo (acho que é assim que se escreve) que visa só aumentar a hormona da progesterona que é a que falta na segunda parte do ciclo e assim tentarmos uniformizar as oscilações. No final, diz-me com aquele tom e postura de quem dá um conselho básico a um amigo "se não resultar, olhe temos a pílula e os antidepressivos, mas tente comer bem, dormir bem e fazer exercício físico" e aquele encolher de ombros pouco interessado.

16 de Novembro, 2022

Ladeira abaixo

Inês

Em textos anteriores escrevia que, eu sendo pessimista, estava só à espera de quando esta relação ia falhar. Demorou quatro meses (o que por si só é uma grande vitória) e não falhou assim tanto mas sim o suficiente para me levar naquela montanha-russa de emoções negativas. Fui reler os textos neste blog para tentar encontrar onde é que isto começou a mudar. Efetivamente os últimos posts vêm numa sequência talvez um pouco desvairada. Ora estou bem, ora tenho que me manter à tona, ora tenho que conhecer pessoas novas, ora tenho conversas mais profundas com o R, ora tenho inveja dele. Ainda não sei bem como mas desentendemo-nos neste último fim-de-semana. E desentendimentos por telefone, quando não podes estar fisicamente com a pessoa, é a maior merda. O meu sistema nervoso afundou-se no lodo. E o motivo do discórdia nem é claro mas, segundo entendo, o R foi ficando magoado pelas minhas partilhas no sentido de conhecer outras pessoas e talvez arranjar um namorado. Passou a achar que eu só estava com ele porque não tinha outra pessoa. PORÉM, ele é que estava constantemente a incentivar-me a falar com este e com aquele, e a mandar mensagem e a "aproveitar a vida". E eu até fui conhecer pessoas e recebia logo as mensagens dele, "então gostaste, houve química, interessa-te?". E a insistência dele em eu contar-lhe todas as minhas interações... Again, vejo isto de um ponto de vista carinhoso mas o facto de se questionar insistentemente, causa pressão. E eu senti essa pressão. E depois o ciclone de ideias de merda que não abandonam "já tens 26 anos, está tudo a namorar e a começar a vida, o que vai ser de ti, os teus ex-namorados já têm namoradas, só tu é que não, o que há de errado, inês, o R. volta sempre para uma cama ocupada, tu não". Sim, fui mesmo ladeira abaixo. Depois, e num fim-de-semana em que não tínhamos combinado nada e ele sabia que eu tinha planos, mandou-me mensagem sexta de manhã a dizer que ia passar o sábado e domingo fora, e se eu queria ir ter com ele. Ora, ele já sabia que eu não podia então não fui e obviamente achei que ele só me convidou para ficar bem e "não mentir" e que já tinha um plano qualquer com outra pessoa. Mandei uma piada nesse sentido e ele não gostou. Mudou a forma de falar comigo e eu desejei nunca ter dito nada. De repente, estamos ambos magoados porque ele acha que não gosto assim tanto dele como ele gosta de mim, que já se arriscou muito porque quer estar comigo e duvida dos meus sentimentos porque parece que eu "estou perdida e só quero alguém, nem sei quem, só alguém"; e eu estou triste porque a coisa que eu mais quero é estar só com ele porque é dele que eu gosto. E nem queria conhecer pessoas. Só o fiz porque estou apaixonada por uma pessoa comprometida que vive a 300kms de distância e claro que isto ia dar merda. E de repente, voltei à inês de 21 anos que vivia a relação em ansiedade, a olhar de minuto a minuto para o telemóvel e a subir paredes por não conseguir resolver a questão na hora. De repente, esta é a pior dinâmica de sempre porque a pessoa com quem eu me quero esclarecer está a meio país de distância e tem o resto do mês tapado com trabalhos. De repente, sinto que o R já não olha para mim da mesma forma e sinto que fiz algo de errado e nem sei bem o quê porque só queria lidar com as coisas com naturalidade. De repente, deixo de me lembrar como esta relação era boa e simples, aquele amor tranquilo que só acrescenta e não conhecia lágrimas. E era apenas suficiente para mim. De repente, tenho um ciclone de nuvens cinzentas dentro da cabeça e a minha vida é ele, ele, ele. E isto nem sequer é saudável, nem eu queria voltar aqui. Só quero voltar a sentir-me leve e tranquila. A ter aquela atitude desapegada de quem só obtém coisas boas numa relação a dois. E então olho para o calendário e sei que estou na pior fase do ciclo e que esta nuvem negra não sou eu, é o ciclo, mas os pensamentos e emoções são tão negativos que isso não é suficiente para acalmar a mente. 

09 de Novembro, 2022

Fui ao psicólogo #1

Inês

Andei os últimos meses a escrever as razões pelas quais secalhar poderia ir ao psicólogo. Não para tratar alguma perturbação em específico mas sim numa perspetiva de auto-conhecimento e de ter uma nova visão sobre alguns dos dilemas que empancam na minha cabeça. Claro que há dias e dias e é perfeitamente normal uma pessoa não se sentir a 100% sempre e isso, por si só, não é razão para ir ao psicólogo. Mas eu sinto que, ao longo deste último ano, tive uma proporção de dias maus cada vez maior e cada vez mais "maus" a nível de intensidade. Again, isto pode explicar-se apenas por uma oscilação hormonal devido ao período e estas oscilações afetam mais umas mulheres que outras e eu talvez tenha o azar de ser das que fica mesmo muito afetada. E isto, em primeiro instância, trata-se na especialidade que foi algo que a Psi também disse ontem. Para ir a consulta e ver o que me sugerem. Salientou que se a solução fosse à base de ansióliticos, eu pensasse bem antes de iniciar. Não era preciso ela dizer. Seja o que for que me recomendem, vou pensar mil e uma vezes porque não sou nada fã de comprimidos mas avançando. Foi a primeira vez que fui a uma consulta de psicologia. Em primeiro lugar, não gostei do espaço. Muito pequeno, frio e sem grande distância entre nós. Literalmente uma mesinha estreita e duas cadeias, uma de cada lado. E tivemos que usar máscara, o que também foi chato até porque é mais um elemento que cria distância, mas pronto entendo a necessidade. Começamos por ela tirar registo de algumas das minhas informações e de dizer que nos podíamos tratar por tu (o que por mim é ótimo). Depois fez um esquema sobre a minha família e com quem vivo e gostei desta parte porque me pareceu metodológica. Depois não apontou mais nada ao longo de toda a consulta o que me é estranho porque se fosse eu, iria de certeza esquecer-me de tudo o que ouvia. Se ela se vai esquecer... vamos ver na próxima. Depois a tal pergunta, o que te traz aqui? Eu tinha um papel com todas as razões mas não o li. Falei só. Navegamos nos principais temas com os quais me debati este ano: guerra, relações e mãe. No geral, não sinto que ela me tenha dito algo que eu ainda não tivesse pensado (até porque pensar é comigo) mas talvez isso se deva porque não atingimos grandes níveis de profundidade. Também foi só a primeira vez que falamos, provavelmente é preciso mais tempo. Mas efetivamente ali procuro "soluções" mais profundas porque eu acho que já fiz trabalhos enormes de reflexão. As respostas mais superficiais já as tenho quase todas. Mas adiante, sobre a guerra, logo que comecei a falar vierem-me logo as lágrimas aos olhos. Já passou tanto tempo, já chorei por tantas outras coisas, e mesmo assim não consigo pensar no assunto sem me emocionar. Neste assunto, ela disse-me que eu falava como se tivesse culpa. E no caminho para casa comecei a pensar nisso e em como era verdade que eu sentia culpa por algo que eu não tinha feito e isso é um erro. Eu posso sentir culpa por coisas que faça ou diga erradamente mas não tenho que sentir culpa por coisas que outros fizeram ou fazem. Bem, esta acho que foi uma nova conclusão a que cheguei e não foi ela que me disse diretamente mas deu o mote para. Depois falamos sobre relações e eu nem tinha intenção nenhuma de falar sobre isto já mas acabou por sair porque falei daquilo que teve impacto no meu ano e ali o término com o DC foi uma das coisas que me deitou mais abaixo. E ela repescou este assunto algumas vezes e referiu que parecia que eu tinha levantado um muro tipo mecanismo de defesa e que podíamos trabalhar essa parte efetiva. E vi-a um bocado entalada quando eu disse que não acreditava em relações duradouras, sobretudo nos moldes mais tradicionais. Ela disse que não podemos iniciar nada com essa ideia. Que é como se vivêssemos já a pensar que vamos morrer. Ora, mas é isso precisamente que acontece. Nós vivemos com a certeza absoluta que vamos morrer e nem sequer sabemos quando. E é essa finitude que até dá sentido à vida (remembering The Good Place). Nas relações deveria ser igual (e não é). Mas entendo a diferença entre estar numa relação com a expectativa e a intenção de ser para muito tempo ou de não ser. O acreditar ou desacreditar tem efeito nas nossas ações e no nosso esforço. Não sei bem onde me posiciono nestes dilemas. Acho que nem faz grande sentido racionalizar, porque ao fim ao cabo, se sinto que quero estar ali, estou e se sinto que já não quero, já não estou. Anyway, falamos sobre isso, sobre dependência emocional (e tenho tanto mais a dizer) e ela referiu auto-estima e como a felicidade é intrinsecamente nossa e os outros só adicionam. Eu sei, eu sei, mas como? E ela explicou mesmo bem a parte das relações em que como indivíduos estamos 100% bem e ocupamos 100% do espaço da nossa vida, depois abrimos espaço para outra pessoa e quando essa pessoa sai fica ali um espaço vazio que dói bastante e nem era suposto numa primeira instância. Também já sabia esta teoria. Interessa-me mais como estar melhor na prática. Em relação à mãe, exploramos menos. No final ela disse que não dependia só de mim mas podíamos trabalhar algumas ferramentas para evitar alguns problemas e discussões. Também falamos um pouco sobre a diferença entre se queremos algo por nós mesmos ou por instinto adquirido na sociedade, por exemplo ser mãe. Aqui ela disse que a resposta vem de dentro, que eu tenho que ir mesmo ao fundo e irei saber. Não sei o que isto significa nem como chegar lá mas pronto. Marcamos a próxima sessão para daqui a duas semanas e ela diz que já podemos trabalhar algumas ferramentas. Na realidade, não sei se gosto dela ou não, se há empatia ou não. Achei que em alguns momentos ela estava só a falar as cenas mais básicas o que para mim é um bocado perda de tempo. Gostava que houvesse mais método também e não só conversa. Mas também há que dar tempo ao processo, ter paciência e dar oportunidade de se criar a tal empatia. E também eu devo ter que partilhar logo tudo o que já pensei e tentei, de forma a não andarmos às voltas. Por isso, daqui a duas semanas lá estarei.

08 de Novembro, 2022

Is it a love story? #4

Inês

No sábado tive o meu primeiro Tinder date. Correu bem, conversamos bastante e praticamente não tivemos silêncios constrangedores. Confirmei que ele é mesmo uma versão do DC tanto nas feições da cara como a nível físico e na forma de estar. Achei ok e quem sabe se haverão mais dates mas o que retirei mais desse dia foi ter acabado o date e ter aquela mensagem do R a perguntar como correu e dessa mensagem resultou uma grande conversa bastante boa. Eu, que até me sentia leve e solta, fui a um novo nível de transparência e abri-me com ele. Disse que gostava muito dele e não me apetecia gostar de mais ninguém mas que me estava a obrigar a conhecer pessoas porque não podia ficar presa só a ele (e mais um chorrilho de verdades minhas sem grande filtro, mas tudo na boa, sem grande peso). Do lado de lá ouvi frases do tipo "tás a pensar muito, não podes pensar tanto nem stressar, tens 26 anos, tens tudo e tens é que aproveitar a vida". Além de também ter dito que não se escolhe de quem se gosta e que eu não podia escolher começar a gostar de alguém. Não são novidades para mim. E, no fundo, acho que ele também tem algum receio que a nossa dinâmica se altere e por isso é que quer logo saber como correm as minhas interações com os outros. Mas acho que lida melhor com esse receio e sobretudo não tem qualquer problema em mostrar a sua curiosidade. A mim, faz-me sentir mais segura. E o que adorei mais ouvir no meio de tanta coisa foi simplesmente "mas tu também não sabes se eu e tu não vamos ficar juntos". E enamorada como estou, foi o que me bastou para o dia ter valido a pena.

 

PS: e eu continuo na luta quase diária de tentar meditar. Apercebi-me que se masturbação for considerada uma forma de meditação, I'm pretty great at it. I mean, relação mente/corpo no auge e concentração on fire. Até porque sinto mesmo que tenho que me concentrar e a minha mente prega-me imensas partidas. Estou a imginar uma cena qualquer e do nada vêm-me merdas random à cabeça e lá volto eu à minha cena. Se meditação não é isto, não sei o que é.

04 de Novembro, 2022

Sobre retirar peso das coisas

Inês

Acho que dos ensinamentos mais importantes que podemos ter em inteligência emocional é o saber relativizar, o saber tirar peso das coisas. É uma frase que me tem vindo muito à cabeça nos últimos dias. Especificamente porque nestes últimos dias que estive com o R. fiquei mais em baixo e a pensar na impossibilidade de sermos mais. Ou seja, claramente comecei a navegar e a atribuir significados demasiado pesados ao que nos une. Ainda que ele próprio diga cabisbaixo que apesar de ter a mulher e talvez mais duas ou três aventuras (e eu que fico logo meia eriçada quando ele refere outras aventuras?) eu serei sempre especial e quererá sempre estar comigo mas que teme que eu "quando me voltar a apaixonar e encontrar o homem da minha vida" deixe de querer estar com ele. É estranho e difícil de explicar mas ambos sabemos que há sentimentos muito fortes e mútuos mas que isto é isto. E mesmo apesar de todas as bocas mandadas para o ar tipo quando eu digo que gosto tanto dele e ele nem imagina e ele responde que imagina muita coisa com aquele emoji pensativo. Leva-nos a outras nuvens. E aí entra a estratégia de retirar peso. Retirar expectativas, retirar ambições e cenários. E isto é um esforço. E tenho que me obrigar a semear outras relações. Então meto conversa no Tinder e rapidamente marco um café. E reparo que isto nem me custa porque o peso do que quero e dos meus sentimentos está todo noutro sítio e noutra pessoa (apesar de dar inúmeros swipe lefts porque não vejo ali feições do Lid nem do DC nem do R). Então dar este passo com outra pessoa (é só um café mas é um café) nem me custa porque não lhe dou importância. Então reparo nisto e penso que é uma boa estratégia, apesar de ter sido meio inconsciente. Não sei se me consigo apaixonar por alguém novo, estando apaixonada por outra pessoa. Mas conhecer outras pessoas, mesmo sem intenção, mesmo sem pensar muito, só porque sim e porque posso e até pode ser um jogo interessante com o R, creio que é o caminho certo a percorrer. Apesar de, admito, me custar um bocado. E depois vem-me ao pensamento uma coisa que pensei muito aquando a rejeição do DC no início do ano: para quê conhecer outras pessoas se o que que quero está aqui? Mas o "aqui" não é aqui. É sempre numa plataforma diferente da minha. Indisponível. E reparo que me apaixonei pelo R. ainda no limbo do DC e, portanto, é possível. Há um alívio pequenino. E tenho que me lembrar constantemente que só tenho 26 anos e tenho tanto tempo para me apaixonar. Esta pressa que me acompanha e corre atrás de mim é cansativa e faz-me questionar coisas que já considerei básicas. É tão volátil, instável, incerto e inseguro. É como o tempo. Hoje está sol e sinto-me bem. Mas, do nada, amanhã acordo e já não sei nada.

02 de Novembro, 2022

Is it a love story? #3

Inês

Há dias em que te adoro só por seres assim. E há dias em que olho para ti e tenho inveja do tudo o que tens e toda a leveza que trazes. Fico com inveja da tua família, de teres uma mulher e uma filha. De teres uma vida, uma estrutura. Eu não sei se alguma vez terei tal coisa. Pior, eu acho que não quero nada disso. E depois fico com inveja dos outros. Não me compreendo. Não sei se a inveja vem de um fundo intrínseco transparente ou se está enviesada por esta mania incontrolável de nos sentirmos integrados na sociedade onde crescemos. Não sei quem serei se não tiver uma família. E a vida a solo custa muito. Tem-me custado bastante. Dou por mim a pensar que a nível prático, partilhar uma vida a dois, tornaria tudo simplesmente mais fácil e suportável. Tu tratas da loiça, eu da roupa. Tu dás a contagem da luz, eu vou às compras. Fazer tudo é demasiado. E claro que isto é um problema de primeiro mundo. E com quem é que divido todos os dilemas que pairam na minha mente? Pois, esses são menos práticos. E continuo com inveja de ti, da tua mulher e da tua filha por terem a sorte de te ter na vida para sempre. E apesar de dizermos vezes sem conta que nos teremos para sempre, acho que ambos sabemos que isso não vai ser assim. E fico triste outra vez. E depois fico com os pensamentos a brilhar quando te referes a mim como namorada (no contexto mais irrelevante do mundo tipo "deixas a chave na Galp e dizes ao senhor que o teu namorado as vai levantar depois") e reparo que o que mais me custa não é a fraude que eu sou aos olhos dos outros mas sim a fraude que eu sou para mim própria porque não conseguir ser na prática aquilo que acredito em teoria.