Blue 4.0
Uma cara e um nome estão constantemente na minha cabeça.
E perguntas sobre de que vale este dia em que não estou contigo. O que estou aqui fazer. Se a vida se tornou apenas uma desculpa para estar contigo e cada dia sente-se como obstáculo a essa meta, questiono se vale a pena.
Embati de frente com a realidade das coisas. Mas será mesmo? Totalmente apaixonada pela pessoa errada. Meti-me num buraco enorme e caí na mesma ratoeira. Até podia ser pior se a outra parte não correspondesse. Mas não. Corresponde e tenho o amor. Mas, de mim para mim, caí outra vez naquilo que parece ser um poço.
Não sei quem é a Inês sem esta pessoa. Não sei o que ando aqui a fazer. Não sei o que fazia antes, como ocupava os meus dias e os meus fins-de-semana. Como sobrevivia sem as mensagens constantes e as chamadas diárias. Esqueci-me sobre quem é a Inês. Perdi-me. E com o peso dos 26 anos sobre a minha cabeça, a única mais valia é saber que já estive aqui antes e, de alguma forma, saí e deixei de estar.
Acho que me faltam objetivos também. Não tenho propósito no trabalho diário a não ser não parecer demasiado mal para os meus colegas. O trabalho flui sem grande entusiasmo. Os treinos três vezes por semana servem apenas para eu não perder a cabeça, mais ainda. E deito-me e faço tudo de novo no dia seguinte. Quando falta comida vou ao mercado gastar dinheiro. Como porque tenho fome e cozinho em esforço para tentar ser melhor pessoa. Vou à lavandaria porque já não tenho roupa limpa. Mas não sei qual é objetivo. Continuar vivo parece um propósito tão básico e vazio. Alegria de viver procura-se. Intensamente. Procuro nas séries e na música mas nada me apaixona. O sobrinho é um bebe amoroso mas não me fascina como fascina os outros.
Gostava de conseguir mimar os meus gatos novos mas eles não são a Fofinha e ainda não aceitam as minhas festinhas. E eu tenho tantas saudades da Fofinha. Mas tantas. Cuidar dela dava-me propósito. Ela era o meu amor. E já passaram dois meses desde que nunca mais lhe pude dar tocar e pegar ao colo e falar com ela. Tenho tantas saudades dela.
Tenho estado sozinha. A minha mãe em Lisboa semanas a fio e eu sozinha em casa. Em tempos ia adorar isto e agora detesto voltar para uma casa vazia.
Estou tão cansada.
Estou tão cansada que iniciei a toma da pílula ao fim de quatro anos e de muitas conversas a contestar aquela merda. E estou disposta a tentar a medicação necessária para me sentir melhor nestes dias. Sou outra pessoa. Uma pessoa infeliz. Tenho muito medo do que aquilo me vai fazer mas não posso continuar a sentir-me assim todos os meses. Estou a contar os dias bons, os médios e os maus. Experimentei esta semana uma nova psicóloga. Estou a alimentar-me e a fazer exercício. E a tomar a pílula na esperança que me traga controlo hormonal. Estou cansada e a contar os dias para estar contigo outra vez. Amanhã é segunda-feira. Já só faltam 14.