A minha mãe
Em dezassete anos de vida, seguramente dezasseis anos e meio foram passados com dos melhores tipos de relação que uma mãe e uma filha podem passar. Os últimos meses são o oposto completo e afirmado desses tempos. Reúnem-se os hábitos de uma vida a um espírito muito crítico e jovem, a crise natural de uma mulher que já passou os cinquenta com a 'crise adolescente' destes meus dias, problemas de saúde, de dinheiro, de família, de amigos que existem dum lado e não do outro, de compreensão, de comunicação, de mudança, de tempo e de felicidade e... é isso que temos tido cá em casa. A tecla já está mais que partida de tanto se clicar nela mas nenhum lado cede. Falta muita coisa e parece-me impossível explicar como é que a nossa relação passou do que foi em tempos para o que vivemos hoje, para este dia-a-dia onde só se discute. Daqui a duas semanas, se tudo correr bem, a minha mãe vai para França trabalhar. Algo que já devia ter sido feito há anos e anos e foi sempre adiado. para além de toda a razão que eu possa ter, emigrar depois dos cinquentas, para uma mulher ainda por cima, é uma ação cheia de coragem e eu vejo isso nela, se acontecer. No entanto, eu conheço a minha mãe e, além da coragem, vejo-lhe outras coisas. Coisas que detesto ver, que me fartei já de ver depois de tantos anos. As mães são das melhores pessoas do mundo, incomparáveis, mas são seres humanos também construídos nesta sociedade viciada e, por isso, erram. E eu erro. E erramos as duas e discutimos as duas e andamos neste ciclo vicioso que parece não acabar. sobretudo por isto, espero que ela vá, que ela saia deste mundinho pequeno que conhece, que se atire de cabeça, alma e coração às coisas boas que possam aparecer, que tire o máximo proveito delas. Que viva, para variar. Desejo-lhe, mais que tudo, que viva. Porque só tem existido e isso é a coisa que mais detesto. Que mude, que falhe, que erre em coisas novas, que conheça coisas novas, estradas novas, casas novas, gente nova, comidas novas, que ande muito e ande de bicicleta, que caia e que se levante, que arranje novos medos e tente superar os que tem agora. Que viva e seja feliz.