Blue
Este janeiro não tem sido particularmente positivo. Sobretudo estas últimas duas semanas. Em retrospetiva, apenas destaco o dia 21 de janeiro de 2022 como um dia muito agradável e ainda bem que o foi pois tratou-se do aniversário da minha mãe. Fez sessenta anos e apesar de todas as dificuldades dos últimos meses foi um dia feliz para ela. Fez um grande corte de cabelo e o jantar correu muito bem (e acreditem que isso é de valorizar!). À parte disso, as semanas têm andado bem mas talvez um pouco apáticas demais. Passo os dias no escritório a desejar que chegue às 18h para ir a correr para casa, vestir o pijama e enroscar-me com a minha gata no colo a ver o Big Brother. Chega à meia-noite adormeço, depois levanto-me e vou para a minha cama. Repito tudo no dia seguinte, com pitadas de ginásio três vezes por semana e uma grande preguiça a juntar tudo. Preguiça para ir às compras (e depois a alimentação é uma autêntica miséria), preguiça para lavar a loiça e arrumar, preguiça para tratar de assuntos e pôr a vida a andar para a frente.
Mas para a frente é exatamente para onde? Tenho sentido alguma dificuldade em entender isso. Não consigo ignorar o peso da minha idade: 25 anos. E o que mais valorizo hoje em dia é chegar a casa e brincar e trocar carinhos com a minha gata que é absolutamente o meu amor maior e sabe lá deus por quanto mais tempo serei sortuda por tê-la no meu colo. Pensar nisso dói-me e tenho pensado muito (também não sei muito bem porquê pois está tudo bem com ela). Tenho pensado em muita coisa pouco positiva. E tenho tido pesadelos. Um pesadelo em especial da semana passada não me sai da cabeça. Sonhei que eu, a minha mãe e a minha gata estávamos na cama no quarto (como sempre) e o nosso quarto era uma divisão de um avião e o avião caiu. Sonhei perfeitamente com a turbulência e com a queda em velocidade. Não acordei bruscamente com a queda. Não. No sonho sei que caímos, morremos e pessoas viam os nossos destroços e depois acordei de forma calma mas com uma sensação horrível e a lembrar-me claramente de todo o sonho. Importa dizer que nesse dia eu ia comprar bilhetes para ver o Harry Styles em Hamburgo na Alemanha. Um plano meio maluco mas (pensava eu) à minha medida. Quando acordei de manhã, ainda a pensar na estupidez de sonho, fui acordar a minha gata como habitual. Porém, nada habitual foi o facto de ela ter subido para a minha cama e se deitado nela em vez de andar a trás de mim como sempre até eu me ir embora. Ela raramente sobe para a minha cama e nunca o fez de manhã enquanto eu me arranjo. Quando ela o fez, nessa manhã, fiquei mais apreensiva. Vi ali o meu quarto, a minha cama e a minha gata. O quadro do meu pesadelo ao vivo e a cores. Depois à tarde conto à minha mãe estes episódios e ela diz-me que, curiosamente, o filme que está a dar na tv também é uma queda de avião. Bem, eu sei que são tudo coincidências mas, porra, o que é que vida me está a tentar dizer? Com isto, não comprei bilhetes nenhuns e estou um pouco apreensiva quanto a voltar a viajar e a sair de casa. Tenho que ultrapassar isto mas ainda não sei bem como. Depois voltei a ter outros pesadelos, também comigo a cair e aquela sensação mesmo angustiante, e também de a minha gata a morrer. E às vezes tenho dificuldade a adormecer e outras vezes acordo durante a noite. Mas, a pior sensação de todas, é sem dúvida a paralisia do sono. Há uns meses tive alguns episódios e estas semanas voltei a ter. Se há sensação horrível é essa. Acordar, querer mexer e não conseguir. Prefiro pesadelos a isso.
O que temos mais? A semana passou-se com a minha pálpebra a tremelicar diariamente e isto só me acontece quando guess what? stress. A última vez que tive assim uma fase do olho a tremer foi em 2019 quando mudei de casa e acabava a tese. E o meu período veio mais cedo uma semana também o que revela algum descontrolo hormonal. Bem, os sinais são claros. (só me falta começar ranger os dentes durante a noite para ter a trindade do stress em alta, e também as dores nas costas, porque os pêlos encravados já tenho). A única coisa que não é clara é a origem. Lá no escritório, o trabalho anda ok. Não há muito trabalho e o que há faz-se de forma tranquila. A única coisa que me stressou acima da média foi a minha coleguinha de gabinete: a Luisa. Eu tenho um carinho muito especial por ela, porém, ela tem de facto a capacidade de me stressar. E a razão é absolutamente estúpida mas é real: o puto do ar condicionado. Ora liga, ora desliga, ora abre a janela com o AC ligado, ora está frio, ora está calor, ora não consegue respirar, ora temos que arejar de manhã e ao longo dia dia por 5min por causa dos covids... Houve dias em que eram 10 da manhã e eu já não a podia ouvir! Só tinha dois temas de conversa (ou monólogo): covid ou AC. Admito que me deixou mesmo fdd vários dias, fechei a cara e só respiarava fundo para não lhe responder. Até que ela começou com uma conversa super fora sobre como eu estava a mudar e não precisava de mudar para as pessoas me levarem a sério na empresa e que as pessoas o que gostavam de mim era o facto de ser "menina" sempre a sorrir, etc. Enfim! O que a Luísa não entende é que a cara esteve fechada para ela porque eu canso-me das pessoas (how surprising) e especificamente cansei-me muito de a ouvir e preciso do meu espaço. Calei-me para não a perturbar porque sei que ela tem que lidar com as ansiedades dela e sofre menos se a puta da janela que está nas minhas costas estiver aberta. Deixa-me desconfortável mas aguento para que ela fique um pouco mais confortável mas exigir-me que continue alegre e contente é demais. E isso a Luísa não percebeu. Porque está tão focada nela própria e nos medos dela e nas ansiedades dela que não sabe ler os outros. Mas enfim. Isso já passou e esta semana foi deveras melhor. Stressei menos (a janela também abriu-se menos) e conversamos melhor entre as três do gabinete.
Mas enfim, além desta mini-série, não encontro mais motivos para stress. No geral, acho que a vida tem-me parecido mais blue. As noites custam mais a passar. Adormecer sozinha na cama e sentir todos os pensamentos a vir... Os pensamentos maus, tristes, nostálgicos. E deixou de ser exclusivo do domingo. É noutros dias e noites. Noites a mais. Talvez sinta alguma solidão. Pensar em todos momentos que estão para vir em que vou sentir tristeza. Pensar nos dias em que vou ficar sem mãe, sem gata, sem pai e sem irmão. Todas as notícias tristes que estou para receber. Pensar nos medos muito sublimes que estão a teimar em aparecer. Dormir nos braços de alguém custa menos. Vejam bem que o Lid enviou-me mensagem para combinarmos algo esta semana e nem lhe respondi! É a primeira vez que trocamos mensagens com o objetivo de planear algo e eu atraso o plano e nem sinto aquela ânsia de ir. Tenho que lhe dizer para combinarmos esta semana. Pode ser que uma noite com ele afaste os pesadelos e ajude a virar a página.