Cansada de mim
Não sei como será daqui a dez ou vinte anos quando já for uma adulta assumida e reconhecida ou, pior, quando for velha. Há dias em que não me aguento. Não aguento os meus pensamentos, a voz dentro da minha cabeça, as músicas que não se calam, as questões que se repetem sem devidas resoluções. O nosso eu é nada mais que uma prisão, já dizia Fernando Pessoa (como me revejo naqueles textos!). Estar fechada aqui dentro é monótono, cansativo, saturante. Deprimente. Tal e qual a definição dessa palavra tão triste, vazia e cheia de nada. Cheia de um estado de espírito decadente. Cheia da pessoa deprimida e cheia da depressão dessa pessoa. Estou cheia de mim. E não quero estar. Quero estar cheia dos outros. Dos sorrisos dos outros, dos olhares e das conversas dos outros. Quero estar cheia de momentos felizes com os outros. De mim, já eu estou cheia.