Como ser parte do problema, sem querer.
Sou uma mulher de 25 anos em pleno ano 2022 e considero-me relativamente bem atualizada no que toca aos temas que assolam a cultura política, social e mainstream dos dias de hoje. Com orgulho, sou feminista e questiono frequentemente os conceitos tradicionais e sociais que nos moldam a vida. Ainda assim há poucas semanas parei, pensei e dei por mim a fazer pressão ao meu irmão para ter filhos. Ora, foram simples perguntas mas demasiado frequentes: A Isabel já está bem de saúde? Já podem? Quando? Há muitos cenários que poderiam estar a ocorrer e eles não tinham obrigação de os partilhar comigo. E cenários que poderiam ser dolorosos. A Isabel poderia não querer e o meu irmão estar a debater-se com isso, e eu sempre a pôr o dedo na ferida, não para resolver, só para atirar achas. Poderiam estar a tentar, sem sucesso e tal ser razão de tristeza para ambos. Poderiam não poder e isso também ser triste. Mas a idade vai avançando, eles já com 40, e eu sem querer mas fazendo mossa, continuei a questionar. As perguntas só eram endereçadas ao meu irmão (não seria capaz de as colocar diretamente à Isabel) por isso acho menos mal. Ainda assim a intenção esteve lá. Intenção de saber sobre a vida dos outros, num assunto tão íntimo e importante como o de ter filhos. Sim, os outros são os meus mais próximos mas still. E a minha curiosidade vem de um único sítio: sei que é o sonho do meu irmão e como tal quero que o sonho se realize. É um motivo egoísta pois um bebé não deveria servir para fazer os que cá estão mais felizes mas depois de muito pensar também não encontro grandes motivos altruístas para se ter um filho hoje em dia no mundo ocidental. Ou queremos que haja descendência; ou achamos que é nossa obrigação social e moral construir família; ou que uma criança irá resolver os nossos problemas familiares; ou é o nosso propósito porque nos disseram que era assim que funcionava; ou ainda que é o ciclo natural da vida. E eu também acho que é, simplesmente ainda não o entendo como ciclo normal da minha vida. Mas bem, eu tinha muitas razões egoístas para querer um bebé na família. Eram todas egoístas na verdade. E quis com muita força. E felizmente, esse sonho está prestes a realizar-se.