Da Ericeira à Nazaré #7 (sexta)
Acordamos e fomos explorar a Ponte da Barca cá em baixo. Aparentemente é uma construção feita há décadas atrás que se tornou ilegal e portanto está meia ao abandono. Aqui perto compramos uns percebes que são apanhados na zona. Descemos um bocado mais e paramos novamente na Praia de Porto Dinheiro. O R. sugeriu fazer uma paragem apenas para um mergulho rápido mas vi o mar com umas ondas chatas e não consegui mergulhar. O R. estava sempre a insistir para eu ir mergulhar e eu queria mesmo conseguir fazê-lo. E isto foi uma das cenas destes dias que mais me chateou. Martirizar-me por ir à praia e não conseguir entrar no mar. É como ir a Roma e não ver o papa. Fico triste comigo própria. Olho o mar e tenho um bloqueiozinho qualquer que me impede de entrar e tomar banho. Depois penso nesta pressão invisível e no porquê de me estar a martirizar. Então e se eu vier à praia e não for ao mar? Qual o problema? Era melhor se fosse? Talvez. Mas menos pressão interna pf. Vou à praia, não vou ao mar e está tudo bem com isso. Amanhã hei-de ir. Quando não houver ondas hei-de ir. E se não for tudo ok na mesma. A coragem é a inibição do medo, ok, e para já não ultrapasso "o medo" mas ok. Hei-de ultrapassar e pode demorar e até nem chegar e tudo bem. Há outras coisas mais importantes. Foi um uma discussão interna interessante.
De Porto Dinheiro fomos até à Praia de Valmitão. Também não consegui mergulhar aqui mas passou-se bem. No final da tarde fomos para a AC e matamos a tensão que pairava aos dias.
A última paragem foi novamente o parque da Foz do Sizandro onde tínhamos pernoitado na primeira noite. Jantamos os percebes e fomos ao bar onde jogamos a primeira vez (e desta vez levamos cash para evitar problemas!). O senhor do bar conheceu logo o R. e iniciamos novamente uma grande conversa. Porém, mais curta pois juntamo-nos a outro casal que estava a jogar bilhar. Eu já joguei bilhar mas já foi há alguma tempo e isso notou-se. Estava eu, miúda, entre quatro pessoas que jogavam bem. Não consegui dar a primeira tacada pois o taco tremeu todo antes de bater na bola. Senti-me mesmo envergonhada. O ambiente era fixe e todos disseram que era só para divertir (claro, para aliviar a tensão que eu pudesse sentir e claro que sentia). O R. queria dar muitas dicar e só repetia "é fácil" para me encorajar. Mas enfim... Ele que dizer que é fácil não ajuda pois se eu falho, falho uma coisa fácil o que torna a falha mais estúpida. Mas pronto, lá apanhei o jeito e, daquelas ironias da vida, acabei por ser eu a dar a tacada da vitória e ganhámos. Ficamos na conversa até às duas da manhã com esse casal. Conversa mais ou menos. Porque eu conversei pouco e quase só ouvi. O casal tinha uma história interessante e depois quase no fim veio a pergunta "então e qual é a vossa história?". Não aprofundamos muito e fomos relativamente honestos. Já muito tarde e bem bebidos fomos para a AC abraçados e tivemos uma das melhores noites de sempre para mim.