Da Ericeira à Nazaré #5 (quarta)
Saímos do Baleal de manhã e fomos a Peniche comprar peixe fresco para o jantar. A última vez que estive em Peniche foi em 2019 mesmo antes de terminar a relação com o DC. Fico sempre com algum receiozinho em revisitar estes sítios mas estar com o R. faz-me sentir diferente e geograficamente diferente também. O receio nunca tem razão de ser. O R. cuida de mim, verdadeiramente. Por um lado isso quase que me irrita porque ele não me deixa fazer quase nada dentro da AC e ao fim de uns quantos dias isso chateia. Claro que é querido ser servida, cozinharem para nós, arrumarem as nossas coisas mas por outro também aponta todas as vezes em que não estamos a fazer nada. E não faço porque ele não deixa. E eu entendo em uma certa parte: a AC é dele, ele tem uma série de preocupações e manias que eu ainda não tenho e terei, mas irrita pegar em alguma coisa, pousar e ouvir logo "ui, isto está mesmo bem arrumado meninas inês". Fico mesmo com a etiqueta de desarrumada (que admito que sou) mas não gosto de rótulos. Por outro lado, dá sempre para rir e é uma forma de nos picarmos um ao outro. Mas faz-me sentir pouco adulta. Já tínhamos a diferença de idades para isso. Só reforça. Por outro lado, e apesar de parecer contraditório, essa é uma das razões pelas quais gosto tanto de estar com o R... porque em casa e no trabalho eu sou a adulta. Com ele não sou. Saem-me pesos de responsabilidade dos ombros sempre que estou com ele (e voltam quando chego ao norte). Às vezes sinto-me até jovem demais e quase que me envergonho mas na maior parte das vezes estamos simplesmente bem. E cada vez melhor. Nestas férias aproximamo-nos a níveis que ainda não tinha acontecido. Eu também estou mais carente e isso explica o porquê que estou tão próxima mas não consigo ignorar esse facto que para mim é tão claro e tão especial na minha vida ao qual só me posso agarrar que é quando estamos juntos eu me sentir simplesmente feliz. Sabe-me a liberdade, a verão, a calor, a facilidade, a areia, mar, aventura e juventude. O tempo passa sempre a correr. E eu sinto-me só bem. Ainda não aconteceu eu sentir-me mal com ele, apesar de tudo o que possa gostar menos. As expectativas também estão muito controladas (não há forma de não estarem) e isso ajuda claro.
De Peniche fomos para a Foz do Arelho. Almoçamos umas bifanas num snack bar lá à entrada, estacionamos a AC e fomos para a praia. A praia foi mais ou menos. É uma praia muito movimentada e isso não nos assiste muito. Fui à água. Quase adormecermos mas fomos interrompidos por crianças aos berros. Desistimos da praia e fomos para a AC preparar o jantar. O R. fez peixe grelhado e comemos na mesa cá fora pela primeira vez. Faltou-nos o carvão e tivemos que caminhar uns 30min até ao mini-mercado. Voltamos, banhos e jantar. O R. estava super orgulhoso do seu robalo grelhado e ele pica sempre por eu dizer apenas "está bom" como se fosse um elogio pequeno. E neste caso também por ter ido à beira dele, quando ele só tinha montado o fogareiro, e perguntado "ainda só fizeste isto? Não está nada pronto". Soa pior do o que foi mas a minha ideia de montar o fogareiro não era literalmente montar um fogareiro. Na verdade nem pensei no assunto então não percebi o que raio ele tinha feito em tanto tempo. E pronto, foi mais uma que ele aproveitou para gozar imenso com o meu tom bruto e seco (um bocado frequente na verdade) mas o que vale é que ele não levou nada a mal (nunca leva, felizmente) e só me ria e riamos juntos. (Na verdade, eu gostava de arranjar formas de o compensar por ser uma presença tão boa e positiva na minha vida mas é difícil). Depois picou porque eu como o peixe mesmo muito bem comido, só deixo mesmo as espinhas e ele ficou admirado: "nunca vi comerem peixe assim, nem um gato". Rimos muito sempre que lembramos esse episódio também. O R. faz-me rir muito. Isso também é felicidade.