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Teenage Dirtbag

yound adult na tarefa árdua de tentar ser alguma coisa de jeito.

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18 de Janeiro, 2023

"Eu estou bem"

Inês

Os últimos dias foram tão maus que nem sei como consigo dizer que estou bem. Mas digo. Uma sucessão de acontecimentos que me deixam, sobretudo, cansada. Além de triste. De tal ordem que o meu chefe na segunda de manhã perguntou logo o que se passava porque eu não parecia bem. E ao telefone, com colegas de trabalho, perguntavam se eu estava triste porque a voz assim o revelava. E penso no quão triste estarei porque estar triste para mim não é novidade. Fico triste muitas vezes (certamente pelo menos uma vez por mês). Questiono-me qual o meu limite, se estarei próxima ou afastada. Quanto aguento. Quantos sintomas do tal sistema nervoso irão continuar a aparecer (os tremores estão mais controlados apesar de continuarem a dar o ar de sua graça dez vez em quando; agora tenho a dermatite no rosto que é ainda pior e diz o médico que também está ligado ao sistema nervoso – parece-me a justificação mais fácil para dar hoje em dia em relação a todo e qualquer problema de saúde – e pior, acho que deve ser verdade).

Faz hoje seis dias que a Fofinha partiu. Lembro-me de na quinta-feira de manhã, depois de a ter levado às urgências às três da manhã, pensar como me preparar para o seu desaparecimento. Estava esperançosa que ainda não fosse desta. Já a vi muito mal e safou-se depois de uns tratamentos veterinários milagrosos e de muito amor. Desta vez não aguentou. Já aguentou muito. Bastaram dois ou três dias para o quadro clínico piorar muito e o corpo não resistiu. Dá-me algum alívio saber que não foi doença prolongada apesar de querer muito que ela durasse mais tempo. Mas pensava eu como iria reagir. É a minha terceira prova de fogo no que toca à morta no seio próximo. E esta talvez a mais desafiadora porque a Fofinha era o meu amor. O mais próximo de todos, sem dúvida. Mas eu sabia que já estava muito complicado. E imaginava como seria dizer às outras pessoas o que sucedera. Como se partilhar a notícia com terceiros fosse a preparação e aceitação do facto. Na quinta chorei muito e executei. Fui ao veterinário, decidi, peguei na Fofi e deixei-a a descansar no quintal do meu pai (o meu pai que é fantástico e está lá para todos os momentos complicados). Tento não pensar muito mas de vez em quando veem-me as imagens da fofi nos últimos momentos, ou a imagem dela já sem vida ou a imagem dela bem e feliz e quando brincava e então fraquejo e tento evitar pensar. De certa forma sinto que evitar pensar é mau da minha parte, como se não valorizasse a fofi de forma suficiente para me lembrar dela. Mas (e juro que nem aprecio muito) como diz uma senhora muito famosa, não me quero demorar na tristeza. Ou pelo menos, estou a tentar. Porque eu não quero estar triste. E esforço-me por imprimir nesta situação a naturalidade que lhe é intrínseca. Fiz tudo por ela em vida e sabia que o fim havia de chegar. Apesar de tudo, até tivermos sorte porque foi uma morte tranquila. Pensar na fofi e na falta que me faz deixa-me triste e não quero estar triste. Por isso, escolho avançar.

Para a minha mãe é mais difícil. Para ela não há naturalidade na morte. A fofi era a companhia de dia e noite da minha mãe. Mais do que pensar na perda foi pensar como a minha mãe reagiria à perda. Se esta seria a facada final da vida para uma mulher que já está no fundo do poço. A minha mãe é a minha maior preocupação. Não sei como melhorar a situação dela, como a fazer sentir melhor, como a puxar deste buraco sem fundo e com cada vez menos luz. Chora todas as noites, não tem força, passa os dias e noites a ver televisão deitada na cama. Tem sido verdadeiramente difícil.

Depois tenho o R. que é, para mim, indiscritível. Temo-nos tornado cada vez mais próximos e elevado os nossos sentimentos a outros níveis. Depois de na última semana juntos em dezembro, eu ter ouvido um “apetece-me dizer-te uma coisa mas vamos ficar pelo adoro-te”, e de numa chamada telefónica ele revelar que tem medo de me perder e que me volte apaixonar pelo DC e me diz “eu na cama da última vez disse amo-te mas não ouviste”, e do que aconteceu com a fofi, e de ficar a saber de todos os meus dramas familiares, mesmo com tudo isso, ele deu-me muito mais apoio do que alguma vez pedi, do que alguma vez pensei que fosse para mim, do que alguma vez achei que existisse. Para mim, que namorei com um DC que tinha uma forma de estar numa relação (vamos dizer assim) totalmente distinta, o R. é como se eu chegasse à praia depois de ter atravessado deserto e achar que praia é uma utopia. Depois de seis meses de muita aventura tornou-se sem dúvida numa grande história de amor em que já se usa a palavra “amo-te” e “amor” como toda a intenção. Palavras que eram tabu são agora soltas e sabem tão bem. E deixam o meu cérebro num grande emaranhado porque queremo-nos tanto, damo-nos tão bem e não podemos ser inteiramente um do outro. 

E isto tudo num fim-de-semana em que crashei por querer tudo. Quinta foi um dia totalmente inesperado, diferente, emocional e triste; sexta um dia algo animado por saber que o R. vinha e ia misturar o R. e a minha mãe (coisa que queria evitar a todo o custo mas, lá está, ou era assim ou não tinha o R. e ambos queríamos muito portanto assim foi); sexta à noite mesmo antes do jantar a minha mãe liga-me a dizer que tem de ir de urgência para o hospital, fomos e viemos; sábado aparentemente mais tranquilo mas durante o jantar tenho um desentendimento com o R. e logo a seguir a minha mãe liga-me a chorar a pedir para durante a noite eu ver se ela está a respirar porque não se sente bem (mas como é que é possível eu ficar bem depois disto?); domingo de manhã, últimas horas de amor (o possível porque nesta altura já estava complicado) e a minha mãe diz que temos que ir para o hospital novamente; depois o R. vai embora e aquele vazio tremendo apodera-se de mim como já vem sendo habitual. Discuto com a minha mãe porque, segundo ela, devia ter ido logo para o hospital sem pensar duas vezes. Um domingo de merda. Valeu a sexta e o sábado. Mas penso no absurdo desta situação de merda que criei por querer tudo. Cometi aqueles erros básicos mas a vida torna-se tão complicada que não consigo dar um passo, seja em que direção for, que estrago alguma coisa. Nada disto é fácil, tudo é complexo. Estar com o R. é uma sorte que me dá alento e felicidade. Cuidar da minha mãe é uma necessidade que me deixa frustrada, cansada e triste. Se esta é vida em que me calhou então abraço o absurdo e o constrangedor. Eu só quero é estar bem.

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