Fui ao psicólogo #4
Esta semana fui novamente conversar com a psicóloga. Sentia-me bem e não havia nada que quisesse realmente abordar. Aliás esta consulta foi bastante espaçada da última e foi adiada pois iria calhar no dia em que a Fofinha partiu. Ela começou por aí e entendo a necessidade mas chutei logo o assunto para a minha mãe, pegando no facto de a perda da Fofinha ter um impacto muito maior na vida da minha mãe do que na minha própria e, isso sim, causar-me preocupação. Sinto que sofri bastante mais em cada crise passada no veterinário nos últimos dois anos. De certa forma até me sinto insensível por ter aceitado tão bem o desaparecimento da Fofi. Assim como, apesar de toda a preocupação, encarar de forma muito prática todos os contratempos e problemas de saúde da minha mãe. Por exemplo, neste momento ela está com uma anemia grave e eu ouço isto e permaneço igual. É grave? Haverá uma escala concerteza. Em tempos ouvi o PeterCastro dizer a nossa geração cresceu a ver desgraças e catástrofes na televisão. Foi ataque às torres gémeas, terrorismo, catástrofes naturais, pandemia agora recentemente, noticiários, filmes... tudo espetado nos olhos de crianças e jovens a moldar expectativas. Uma pessoa habitua-se à desgraça e molda-se. Torna-se dormente. Talvez insensível. Com sorte torna-se racional e prática. É a mesma história do lobo e do menino mentiroso (é assim?). Depois de tantas "urgências" e períodos negros, mais um problema, por muito alarmante que soa, já não tem impacto. E depois disto, ainda há culpa para sentir. Sentir culpa por não sentir nada. It's all fucked up. Mas enfim. Neste momento a minha mãe está em Lisboa na casa de uma amiga e o melhor sítio para melhorar. Em casa só acumula doenças e piora o seu estado de saúde. Não se governa e não se deixa governar. Lá, fica melhor e ficamos todos mais descansados.
Falamos quase hora e meia sobre ela e sobre possíveis futuros. Expus a forma como sinto que estou num possível momento de viragem. A Fofi era a cola que nos juntava. Sem Fofi há outras possibilidades. A minha mãe está cada vez mais débil e dependente. E, além da minha mãe, as minhas tias. Pela ordem natural das coisas eu seria o suporte delas, cada vez mais preciso e em cada vez mais áreas. Tornaria-me a cuidadora. E apesar de ser o papel mais natural para mim, quero fugir dele. Quero muito que a minha mãe esteja bem mas apesar de sentir que isso não é uma realidade possível, chegar lá não é uma realidade que eu aguente. Vejo isso de forma cada vez mais clara. E teria que me anular completamente e passar a minha vida para segundo plano (como a minha mãe fez com os pais dela tantas vezes). É nobre mas é um erro. Foi para ela e seria para mim. E eu aprendo com os erros da minha mãe. Não é uma realidade natural nem desejável. E a psicóloga ressalvou precisamente estes pontos, mas noutra abordagem até. Que eu não seria a pessoa adequada nem habilitada para tal e que há outros sítios seguros onde as necessidades são corretamente asseguradas e que a ideia de serem sítios maus tem que ser esclarecida e talvez introduzida devagarinho à minha mãe. Enfim parece-me uma realidade muuuito longínqua e mesmo impossível mas o que é certo é que este é o tempo de pensar no futuro e colocar todas as hipóteses em cima da mesa e de todas escolher a menos má. Pois não definir nada é ficar nas mãos da sorte ou do azar e tudo se pode tornar muito pior muito rapidamente. E apesar de me parecer muito doloroso pegar neste assunto, não o fazer é assinar a minha própria sentença e tendo a informação, o juízo e os recursos atuais, é o mais inteligente a fazer.