Mais do que Blue 3.0
Ontem quando logo de manhã vi as notícias da invasão da Rússia fiquei imediatamente com uma má sensação. Que raio está a acontecer. Passei o que dia mal com uma angústia constante. Medo. Overwhelmed com as notícias sobre o assunto. Fui à aula de boxe e depois de alguns impactos e provocações dos outros (porque apesar de gostar muito daquilo, falta-me a força, a "convicção" e parece que deixei de evoluir aos olhos deles), a dor física abriu os portões à dor emocional e tive que sair antes do fim entre gestos ao intrutor. As lágrimas tinham que sair. Eu estava a tremer. Foi a primeira vez que isso aconteceu, desta forma. Eu sinto muitas vezes que tenho que chorar, sobretudo naquela altura do mês quando há uma sensibilidade acima da média e qualquer coisa me faz emocionar. Na maior das vezes é no carro ou em casa, mas não com outras pessoas. Foi um limite atingido em frente a outros. Já me achavam fraca, agora vão achar ainda mais. E isso chateeia-me um bocado, admito. Mas não tenho que lhes provar nada, só a mim mesma. Já fiz tantas coisas na vida e parece que tenho cada vez mais medos que antes não tinha. Tenho sentido muito isso. Não sei se era por pensar de menos ou é das minhas companhias atuais (a Luisinha é a pessoa que conheço que tem mais medos mas a um nível de doença mesmo). Mas enfim, nada disto importa perante as imagens que se viram ontem. Eu própria estar a falar disto é absolutamente ridículo à beira do que se passa nas terras que há umas semanas estavam tranquilas e hoje são palco de guerra. E guerras sempre aconteceram. Mais longe, menos vistas, que nos passam mais ao lado. Esta não conseguimos ignorar porque há uma sensação que podíamos ser nós. É uma posição muito hipócrita da nossa parte, na verdade. E ainda assim, é-me impossível deixar de sentir. E depois toda esta dimensão que as coisas alcançam nas notícias, na net, no twitter. Só isto importa neste momento. A nossa energia é toda sugada para ali e até procuramos mais. Dá cabo da nossa saúde mental e ontem deixei-me ir completamente. E depois deparei-me com um post no Instagram sobre estas pessoas "que sofrem" com a ansiedade consequente destas notícias, e etc. Não podíamos ser mais privilegiados, pois não? Até sinto vergonha de escrever este texto.