O bater no fundo
Foi há cerca de quase duas semanas que a minha mãe quebrou no chão da casa-de-banho. Perdeu as forças nos meus braços, caímos as duas e seguiu-se um ataque de ansiedade ou de pânico, ou seja lá o que aquilo foi, que me pôs à meia-noite de um domingo a ligar para o 112. Mal conseguia falar, só chorava, não conseguia dizer a minha morada ao senhor que do outro lado falava comigo. Era eu e a minha mãe em casa e cabia-me a mim lidar com aquela situação. Não sabia se me virava para a minha mãe, estendida do chão, se para o telemóvel, na esperança que alguém ajudasse. Sem dúvida, dos piores episódios que passei com a minha mãe. A dor emocional a tornar-se física, em instantes. A roubar a força aos músculos, a dizer para desistir. Foi um pequeno choque. Para mim, foi o choque. Depois de tantos médicos e de um acompanhamento psiquiátrico de trinta anos que não nos trouxe a lado nenhum (talvez continuar aqui neste mundo seja só por si uma vitória), levei a minha mãe a um psicólogo num dos atos mais arriscados que já fiz com ela. Não conhecia o psicólogo, arrisquei pelo currículo. Não lhe disse nada até ao momento de nos pormos na estrada, porque nestes casos saber com antecedência não a ajudava em nada, bem pelo contrário. Felizmente, a minha mãe colaborou e aceitou ir sem resistência. Ela sabe que não está bem. Duplamente felizmente, ela gostou do Doutor, tiveram um boa empatia e passou esta semana com uma esperança renovada num futuro mais sorridente. Admito que este processo me deixa muito hesitante e cheia de medo pois entendo que o Psicólogo é, sem dúvida, a solução mas também vejo neste processo o colocar a nu muitas dores e muitas feridas. No curto-prazo, haverão dias muito dolorosos para a minha mãe, e em consequência, para mim. E tenho medo do quão doloroso tudo isto se pode tornar. Mas entendo também que é sem dúvida, a única forma de continuar a viver e de dar à minha mãe uma melhor qualidade de vida. Só lhe desejo isso.