O prazo de validade das pessoas e relações
Na minha vida a maior parte das pessoas e relações têm um prazo de validade. É um facto que aprendi a aceitar. Não tenho aquelas amizades de infância e agora nem de adolescência. As minhas amizades mais longas vêm dos meus dezasseis anos e são a Amelie que está lá longe na Alemanha e só nos vemos de anos em anos (mas sempre que nos vemos é realmente fantástico) e o Lid (bem, que história essa!). Os outros foram-se afastando ou eu me fui afastando deles. Depois disso só mesmo as minhas pessoas favoritas que a praxe me deu: a C. e a J. e essas mantêm-se sólidas.
De resto, quando comecei a trabalhar e durante bastante tempo mantive uma relação muito próxima com a Joaninha mas já não dá mais.. Fui-me afastando e não lamento muito porque a Joaninha não avança e é muito infantil/ingénua/imatura em certas coisas e eu já ouvi aquelas histórias talvez dezenas de vezes e sei a vida dela toda de trás para a frente e não é interessante, simplesmente. Quando passo um pedaço tempo com ela, quase sempre, tenho que fazer um face palm mental como reação ao que ouço. Sinto que aquilo não me acrescenta, não traz nada. Eu não me quero colocar numa posição superior nem nada do género simplesmente são dois universos que deixaram de se cruzar.
E isto é muito recorrente. As pessoas falam tanto delas próprias. Mas tanto. E ouvem tão pouco. A Luísa é outra mas este caso é mais grave. Tornei-me "amiga" da Luísa quando me mudei para o gabinete onde ela estava e passámos largos meses a conhecermo-nos e partilharmos pensamentos e episódios de vida. Depois o covid deve-lhe mesmo ter dado a volta à cabeça e as ansiedades dela atingiram um patamar com o qual é quase impossível conviver. Eu creio que já fiz a minha parte que é incentivar a que ela consulte um psicólogo para a ajudar nos muitos medos que tem e naquela ansiedade que não desaparece e que só escala. Mas ela não o faz. Além disso, a única coisa que faço (e acreditem é uma grande parte) é respirar fundo e ignorar o tanto que me irrita. Não sou de confrontos e portanto evito-os (insultando-a mentalmente a cada cinco minutos). Porém, nos últimos meses (e aqui não consigo desconetar do momento em que fui promovida lá na empresa e tive o carro) ela tem atinjido patamares de provocação que já passaram alguns limites. E, na maior parte das vezes, calo-me. Mas esta semana não me calei. Imaginem uma pessoa que vos chama de 10 em 10 min para ABSOLUTAMENTE nada; estou de auscultadores (o que só por si deveria enviar uma certa mensagem) e tiro-os para ouvir o silêncio ou então "está tudo inesinha?"; ou então eu estou ao telefone em trabalho, desligo e ela tenta corrigir aquilo que eu acabei de dizer COMO SE ELA PERCEBESSE ALGUMA COISA DO ASSUNTO; ou então quando ela controla os intervalos da nossa outra colega de gabinete que realmente não faz a ponta de um chavelho mas não sei o que chateia mais se o facto de ela passar o dia em intervalos ou o facto de a Luísa cronometrar em alta voz esses intervalos; ou então quando faz questão de repetidamente comentar que gostava mais de mim antes e que antes eu era mais sorridente e alegre e agora não sou tanto e bla, bla, bla, once again em frente a outras pessoas e até pessoas em que fica mesmo mal ter esse tipo de conversas; ou então ficar chateada por eu dizer coisas à minha colega Cátia e não dizer a ela (simplesmente ela não devia estar no gabinete quando comentei aquele assunto) e ela me cobrar isso com uma grande cara de pau e eu tive que explicitamente lhe dizer que não tinha namorado nem namorada para ter que prestar contas e para ela chillar que isso não era assunto; e tantas outras merdas. E esta semana pego no meu pão com manteiga de amendoim e ela tem a lata de dizer "ui, outra vez ines, essa tua celulite deve estar". Aqui respirei, deixei assentar alguns segundos e disse-lhe entre gracejos que ela era uma pessoa mesmo simpática e que por isso tinha tantos amigos e que a mim me tinham ensinado que quando não tinha nada de interessante para dizer me mantinha calada! Soube-me muito bem dizer isto e serviu para ela fechar um bocado a cara e não falar durante uma hora o que já foi bom. Já para não falar nesta ousadia de falar sobre o corpo dos outros, ignorando completamente aquilo que desconhecemos e que se pode estar a passar na cabeça dos outros. Mas enfim. Isto tem dois lados. Por um lado, eu entendo que a Luísa é um indivíduo com algumas dificuldades emocionais e que vive muito constrangida o seu dia-a-dia com ansiedades, medos e stress. Porém quanto a isso não há nada que os outros possam fazer. Ela tem que o reconhecer e tratar-se. Evoluir para ser melhor. É uma pessoa extremamente carente e com uma enorme falta de atenção. Por isso quer ser o centro de todas as conversas mesmo que não tenham nada a ver com ela. Camufla tudo com brincadeira e piadas mas não deixa de ser inoportuna e até indelicada muitas vezes. E estica a corda. Nunca lhe dei confiança para falar como me fala, sobretudo em frente a outras pessoas! E a Luísa é insegura. E por esse motivo sinto que aproveita todas as hipóteses para me deitar abaixo ou ao meu trabalho. Até porque de repente ela é uma mulher de 38 anos e eu de 25 que avancei bastante lá na empresa. Enfim! Tento compreender o ponto de onde ela veio e onde está mas admito que se tem tornado cada vez mais difícil o convívio com alguém que parece que só nos quer destabilizar. Eu não sou de confrontos. Irei engolir até não poder mais. Porque sei que quando responder é radical. Sou bruta a falar. Sou assim e tenho tentado aprender a ser menos. O primeiro passo é pensar muito antes de falar e deixar friar. Com ela, é até ao dia...
E sobre amores e afins, já é conhecida a minha perspetiva. Para mim, é óbvio que as relações têm prazos. Creio que já esgotei o Lid na minha vida (pelo menos por enquanto). Ressuscitámos uma relação que aconteceu há oito anos e eu até acho que havia muitos outros níveis para explorar mas por alguma razão não aconteceu. Ficámos pelo vanilla e foi absolutamente espectacular mas foi perdendo a espetacularidade com o tempo. E pronto, de certa forma, sempre soube que nunca iria dar muito mais que aquilo. Ele é mais complicado que sei lá o quê e também não estou para isso. Ainda lhe mandei uma dica há umas semanas mas fiquei sem resposta, por isso quando ele precisar há-de voltar e tudo bem. Mas há novidades noutro setor, então o senhor DC lembrou-se de ressuscitar também na páscoa (só para a piada). Ele bem disse que precisava de dois ou três meses de distância para lidar com os sentimentos e parece que já lidou e também parece que não encontrou mais ninguém porque vem à opção mais fácil. Aliás, vem com uma postura toda confiante de "olha já estou bem com os sentimentos e quero voltar a friends with benefits. vamos marcar um sítio". Lol. Meti um travão mas aceito uma conversa. Sou e mantenho-me completamente disponível para conversar e conhecer novos avanços. Estou certa de mim e do que quero e estou curiosa para ver se ele também o está. O prazo da nossa primeira relação terminou ali em 2019, depois começamos uma segunda espécie de relação ali de início de 2020 a início de 2022 (oh meu deus foram dois anos!, nem me tinha apercebido) e agora o que nos reserva esta terceira fase? Porquê este loop em que estamos os dois envolvidos? Tu não encontras mais ninguém, eu também não. Creio que ambos tentámos mas está difícil e portanto volta a meia lá nos encontramos outra vez. Não tenho explicação nem especial interesse mas também não viro costas. Eu sei que digo que as pessoas e relações têm prazos de validade mas também acredito que podemos ter diversas relações com uma mesma pessoa (como diz Esther Perel). Há que crescer, evoluir e em muitos casos isso tudo talvez seja com a mesma pessoa. Mas ya, regra geral, as pessoas cansam-me todas e penso nisso muitas vezes.