Ontem porque "a vida são momentos"
Fomos jantar e a grande novidade é que conheceste alguém. Não. Falaste comigo antes de conheceres esse alguém e depois já não quiseste desmarcar porque até estás ok e queres colocar em prática isso de manter contacto com ex-relações porque faz mais sentido do que não manter (ou porque sabe melhor?). Concordo plenamente e fomos. Primeiro referiste esse alguém de forma muito vaga e disseste que não ias aprofundar mas passado um tempo contaste-me tudo sobre ela e sobre a vossa breve história. Descobrir que há uma "ela" deixou-me num misto de sentimentos. Há dois anos que esperava por isto para ver como eu própria reagiria a este situação. Por um lado, fiquei um pouco cabisbaixa porque a dinãmica muda e foi mais um choque de realidade no que toca a eu ser uma rapariga de 25 anos sem qualquer vida social, que não sai à noite talvez há três anos e não conhece ninguém novo há buéeeee. Fiquei triste porque eu estanquei neste aspeto da vida e tu acordaste e já estás a ter resultados e a conhecer pessoas e a curtir com elas e etc. Mas por outro lado, haver uma "ela" dá-me mais liberdade para brincar porque fiquei com menos receio que se confudissem sentimentos entre nós como noutros tempos. Porém, dei por mim a verter lágrimas a meio da noite porque me pesou a consciência em esticar a corda contigo agora que tens alguém no horizonte e no quão bitchy isso pode ser. Porque te poderia destabilizar, porque poderias ficar tu com consciência pesada no dia seguinte. Isto logo a seguir a eu admitir que era carne fraca. Ficaste com isso na cabeça. E sim sou e sim haveria muito a dizer mas não trago histórias à baila que só poderiam trazer coisas negativas para ambos. Na minha teoria, brincar é só brincar. A relação física é só isso e pode não passar só disso (ou não muito além) mas como sabemos um dos pilares sociais das relações tradicionais é esse limite à relação física com terceiros (lembra-me Dan Savage e o seu discurso "sex is just sex. you monogomous people put too much relevance on sex, so much that you end relationships because of it"). Mas cedi ali à pressão, verti umas lágrimas e ficaste muito surpreendido e preocupado genuinamente (até nem me lembro de te ver reagir assim) e agora olhando para trás esse momento não significou nada além de me lançar a mim e a ti naquilo que eu pensava que deveria evitar. Mas lançaste-te a mim, num cenário de filme, eu a conduzir pela VCI e tu com as mãos entre as minhas pernas. As tuas mãos quentes. Isso é do que sinto mais falta, sem sombra de dúvida. Não sinto falta de planos a dois nem jantares nem fins-de-semana nem viagens em conjunto, nem saídas de grupos de amigos e muito menos de eventos familiares e de prestar contas ou estar às mensagens. Sinto falta do corpo masculino, das mãos, dos abraços, do afeto, dos mimos (e eu sou muito pouco de mimos mas ya faz falta). E quando a noite tinha acabado e de uma forma muito natural já nos abraçávamos e tocávamos como se não tivéssemos estado cinco meses separados. Beijas-me tranquilamente e eu peço-te para passares a noite comigo. E agora já só queremos uma cama. E é tão fácil voltar a estar contigo. Há uma sincronia que simplesmente existe (e que se nota em força quando nos reencontramos passado tanto tempo e há fome). É muito mais fácil do que quando estiveres pela primeira vez com a nova habitante dos teus pensamentos. Mas pronto, a vida é isso mesmo. E por um lado penso no fácil que seria seguir uma vida contigo e até que podia resultar porque, olhem, ontem resultou tão bem. Mas depois lembro-me que daqui a uns meses ia cair no mesmo loop viciado de sempre e eu ia-me estar atirar às paredes para ter outra coisa. Mas que coisa? O que me reserva a vida? Serei capaz de dividir a vida com outra pessoa? Estou condenada a aprender? Ou conseguirei viver a solo? Bem, para começar tenho que me atirar de uma vez por todas a uma qualquer vida social. Tenho mesmo que começar a sair de casa e a conhecer gente. É absolutamente imperativo porque eu queixo-me mas nem tento. E tenho que tentar procurar algo ou alguém ou alguéns. Sair da minha zona de conforto. Forçar-me a isso.