Saúde Mental
Falar sobre saúde mental está muito na moda. Para mim é um assunto tão presente como ausente. Let me explain. Tenho uma mãe que tem tendência para a depressão. Já teve algumas ao longo da vida. E eu já tive a infelicidade de lidar com elas bem de perto e quando ainda era bastante nova para perceber o que estava a acontecer. Por outro lado, eu não reconheço em mim qualquer traço de depressão ou, por outra, de ansiedade. Depressão: a doença que nos prende ao passado; e ansiedade: a que nos liga ao futuro. Ambas destroem o nosso presente e isso é um problema. Na verdade, eu não me consigo colocar no lugar da minha mãe ou de outras histórias que vou conhecendo associadas a questões do foro mental. Claro que tenho as minhas dificuldades e os meus desafios mas olho para eles com alguma naturalidade e todos acabam por ser temporários. Não arrisco a dizer que são os normais porque, enfim, serão os ataques de pânico, as fobias, os estados depressivos "anormais"? Se analisarmos por uma questão de frequência e representatividade na população, infelizmente, estes cenários são cada vez mais comuns e, portanto, cada vez mais normais. Mas de uma perspetiva do que é suposto acontecer ou como é suposto estarmos na vida, esses cenários não são de todo normais, naturais ou supostos. Devemos ultrapassá-los, evitá-los e se não os tivermos no caminho (como eu, até ao momento) é o desejável. É uma sorte. Será? Serão genes? Não tenho os genes do meu lado mas ainda assim estou do lado bom da história. O meu irmão, por outro lado, tem ali coisas para resolver. Já foi a um psicólogo mas aquilo mexeu tanto com ele que desistiu. Fez mal. Agora está outra vez numa encruzilhada. Eu olho para ele e vejo que há ali muita coisa errada. Mas o que sei eu? Tenho menos 14 anos do que ele. Como é que ele ainda não percebeu tanta coisa da vida? Porquê que continua a cometer os mesmos erros? A sabotar-se a si próprio? Porquê que continua obstinado com coisas que não valem a pena? Se o visse feliz, não faria estas questões mas vejo-o tenso, frustado, desiludido, com uma nuvem negra em cima e isso entristece-me mais do que tudo. Por esse motivo, é que entendo saber mais e melhor que ele neste aspeto e desejo que ele caminhe na direção certa, que neste caso, será o psicólogo. Uma ajuda para desenlaçar aqueles nós que ele tem na cabeça e que o impedem de estar bem, tranquilo, sossegado e feliz. Nem que seja por momentos. Será que ele ficou com os genes errados e eu com os bons? Será que ainda me irá acontecer algo na vida, uma espécie de trauma, e também eu deixarei de ser capaz de desenlaçar os meus nós? Pode acontecer, eu não excluo hipóteses e, se/quando acontecer, espero ter o discernimento suficiente para procurar ajuda a tempo. Olho para a minha Luisinha com quem partilho os dias de trabalho e, numa análise totalmente superficial, poderia achar ridículo ou quase como uma chamada de atenção alguns dos problemas que ela me coloca. Mas depois vejo que ela, de facto, sofre com aquilo. E novamente entendo que simplesmente o meu universo de pensamento e lógica não é o mesmo que o dela, e de facto, lidamos com as questões da vida de forma diferente e para ela há problemas gravíssimos que, para mim, nunca existiriam. Porque talvez seja mesmo isso: o meu universo de pensamento é diferente do da Luísa, do do meu irmão e do da minha mãe. Será justo ou aceitável dizer que sou mais forte mentalmente que eles? Estará a saúde mental deles debilitada? É tratável, sem dúvida. Soa mal falar disto e assim. Mas ouvimos constantemente dizer que a saúde mental deve ser normalizada (claro!) como se de outro campo da saúde se tratasse. Então, se falássemos de uma dor na perna, poderia eu dizer que as minhas pernas doem menos e caminham melhor e mais rápido que as deles? Parece menos mal. Já cheguei ao ponto de desejar muito e ficar frustrada por não entenderem a minha forma de pensar, e complicarem tanto, mas neste momento, compreendo que é uma guerra que não vale a pena lutar, muito menos desta forma. Não ajuda ninguém. Há que procurar ajuda competente que desenlace os nós de forma intrínseca e não à força. Tenho muita pena de não ser capaz de os ajudar e vê-los à minha volta a embrulharem-se ainda mais. Mas de facto, temos que entender que partimos todos de pontos de partida diferentes, vivemos experiências distintas e percorremos caminhos diferentes que nos moldam. E, talvez sim, a estrutura mental de uns e outros seja também diferente, umas mais fortes, outras menos. Como os corpos, uns mais estruturados, outros mais finos. Há coisas que não controlamos e distingui-las daquelas que controlamos é dos maiores ensinamentos e aprendizagens da vida. O que controlamos deveria ser o nosso foco. Fazer exercício físico, ouvir música, dançar, canalizar tempo para fazer aquelas coisas que gostamos, para estar com quem gostamos. Atividades que têm efeitos positivos na nossa saúde mental, nos nossos níveis de bem-estar e felicidade. A ciência comprova-o! Porquê ignorar? Parece tão obvio, está à nossa frente (tantas notícias e estudos) e mesmo assim andamos infelizes e não sabemos porquê? Tentar aplicar o que já sabemos, aquilo que sabemos que resulta e que conseguimos controlar e, quando parece complicado demais, investir na ajuda adequada, no psicólogo, no diálogo, na escrita... Formas de exteriorizar e de deitar cá para fora o que nos atormenta para que de alguma forma o que está lá dentro pareça e seja mais simples.