Sobre saber lidar com a sorte e a liberdade económica
No seguimento deste post, esta semana foi-me finalmente entregue o carro. Esta entrega mexeu bastante comigo e fez-me pensar sobre como posso eu lidar com isto. Chamo a isto, a sorte. Não sei o que fiz de tão diferente dos outros para adquirir uma vantagem que não lhes foi dada. A outros da minha empresa e outros da minha vida. Não tenho explicação que não seja a sorte. Desde que me tornei adulta que olho para a vida como se eu estivesse do lado da dificuldade. A família, a falta de dinheiro... Foram-me moldando e admito que foram várias as vezes que olhei com inveja para outros. Na parte do emprego, é inegável que tive sorte. Tenho pensado muito sobre se esta sorte compensa outras partes menos afortunadas da vida mas também não chego a um entendimento porque estou bem resolvida em relação a tudo no geral. Portanto, fico na mesma. Na empresa, sei que sou alvo de olhares, conversas de corredor e muitas bocas. Mas à minha frente só há silêncio. Um silêncio que denuncia um elefante na sala. É desconfortável. Pelo menos, eu sinto um grande peso de desconforto por ter sido colocada nesta posição perante os outros. Internamente, estou felícissima. O auge dessa felicidade foi hoje quando finalmente consegui conectar o bluetooth do telemóvel com o carro e depois de muitos cliques e tentativas finalmente o spotify começou a dar nas colunas do carro. E , que sorte!, era a voz da minha Shakira que inundou o espaço e de repente dei por mim em altos berros a cantar as músicas da minha infância num carro que dizem ser meu e é um upgrade GIGANTE em relação ao meu antigo. O meu Saxo de 96 em azul berrante que nos primeiros dias ficava junto dos outros carros e mesmo atrás das máquinas da administração e que depois começou a ficar no estacionamento da empresa vizinha para ficar escondido. E, imaginem, há três semanas ia pegar no carro e não pegava. Quando fui a ver, tinham-me roubado o catalisador. Qual poesia da vida! Fiquei sem carro a três semanas de receber o novo! Um carro que durou nas minhas mãos praticamente seis anos, que tem a minha idade e que me deu tantas alegrias. Agora avizinha-se uma nova fase com comodidades que desconhecia. Andar num carro silencioso, com um chamado computador de bordo, uma mala grande, um banco confortável, uma rádio com todas as emissoras automaticamente definidas, ter a ligação entre o telemóvel e as colunas do carro. Enfim. E ser livre também é isto. É ter liberdade económica. Ter dinheiro na conta para poder pagar contas, poder comprar o que é preciso sem pensar muito. As minhas, as da minha mãe e as que vierem. Para mim, ter dinheiro na conta compra-me descanso e despreocupação. E tenho valorizado muito isso nos últimos meses.
A minha máquina dos últimos anos está lá atrás.