Vantagens em Estar Confinado
Estar confinado pode ter diversas vantagens. Em primeiro lugar, é importante refletir sobre as condições nas quais estamos confinados. Temos casa? É confortável? Se sim, somos desde já previligiados nesta guerra. Se podemos fazer teletrabalho, melhor ainda. É caso para dizer que nos saiu a sorte grande. É como me sinto quando penso que a realidade poderia ser muito diferente.
Acho que já me habituei a esta vida. I mean, habituei-me e estou confortável com a ideia de continuar fechada sabendo que haverá um fim algures. O facto de ter sido confinada infetada, facilitou o meu entendimento e minimizou qualquer margem que eu tivesse para ficar chateada com a situação. Sei que atualmente estamos tipo campo de minas quanto a apanhar ou não o bicho. Ainda assim, não consegui deixar de sentir alguma responsabilidade e culpa, e portanto, longe de mim reclamar com tudo o resto. Foi quase remédio santo para a minha irritabilidade crónica. Foi tipo "Inês, fizeste merda, agora cala-te e fecha-te em casa à espera que passe".
Pois bem, assim foi e continua a ser. Passaram três semanas já. Tive alta entretanto e ainda só saí uma vez à rua. Vestir umas calças de ganga, pegar num cachecol, conduzir, ver gente! Coisas que sempre fizeram parte do meu dia-a-dia e durante três semanas deixaram de fazer. Não é que tenha sentido saudades. Lá está... Habituei-me facilmente às condições do confinamento. Podia ter saído mais vezes mas cá estou eu, de pijama, em frente ao pc. A vontade de sair também não é grande.
Confinar obriga-nos a fazer uma pausa na vida. É como se fosse nossa obrigação não fazer coisa alguma, não realizar, não fazer acontecer. É aliás um favor que nos pedem repetida e encarecidamente. Estar parado e não ser produtivo não parece mal nos dias de hoje. Num período normal, sentiria-me pessimamente se visse quatro episódios seguidos de uma série qualquer a fazer buraco no sofá. Hoje em dia não me sinto. Há uma tranquilidade associada à procrastinação. Claro que podia aproveitar para arrumar, limpar a casa, organizar partes da vida que podem ser organizadas dentro de portas. E faço alguma coisa dessas. Porém, não fazer nada já é alguma coisa. E esta consciencialização, para mim, é importante. Eu sempre quis fazer mais, sempre tive pressa de viver, de fazer acontecer. A pressão que ia colocando em cima de mim desgatava e muito. É com agrado que olho para mim e vejo uma Inês tranquila com a velocidade da vida, imposta por terceiros e que não posso controlar. Lembro-me muitas vezes de uma frase do género "preocupa-te com o podes controlar e esquece o que não podes". Tento levar a vida assim. Não posso controlar quando esta pandemia acabará, não posso interferir com o que se passa dentro dos hospitais and so on. A única coisa que posso fazer é ter calma, tranquilidade e manter-me dentro de casa, ver séries, trabalhar, resolver problemas que tenho arrastado por - pasmem-se! - falta de tempo no que era o dia-a-dia normal. Parece pouco. Numa certa perspetiva parece chato. Até agora, não está a ser.